sexta-feira, abril 26, 2013

RATÃO


– Cardoso, você parece que come merda. Por que você sentou no lugar do Ratão?
– Sabia lá que era lugar do Ratão. Cheguei da casa da mãe, vi o movimento na quadra, lembrei do jogo do Dia dos Pais e resolvi dar uma olhada. Estava cheião, vi o lugar vazio no meio da arquibancada, fui pra lá e sentei.
– Cara, não chama a arena de quadra. O Ratão já mandou matar por causa disso.
– Arena pra mim é aquela porra de romano, grego, turco, sei lá.
– Você sentou do lado da Madá, mulher do Ratão. O lugar do lado dela é dele. Você não sabe disso?
– Sabia não. Se soubesse, cê acha que ia sentar lá. Mas fiquei longe dela. Tinha o maior espação. Não encoxei a dama, de jeito nenhum.
– Se encoxasse tava morto.
– Sei não, ela me deu umas olhadas. E, ó, ela não falou que não podia sentar do lado dela. Ninguém falou.
– Todo mundo sabe que não pode. O Ratão, quando mandou construir a arena na comunidade, avisou que aqueles dois lugares jamais poderiam ser ocupados.
– Foi a primeira vez que fui na quadra.
– Arena, caraio. Eles não querem saber disso. Se manda, ouvi um zunzunzum que vão te dar uma lição.
– Porrada?
– Matar, pra dar exemplo. A Madá ficou muito chateada.
– Do outro lado dela tinha uma mina sentada.
– O lado direito dela pode ser ocupado. O esquerdo é do Ratão.
– Vou morrer por causa disso? E se eu falar com o Ratão?
– O Ratão tá preso há três anos. Pegou um gancho de 20. Você é desligado, mesmo.
– Vou ficar na casa da minha mãe.
– O Ratão vai sair no Natal pra visitar a família. Não vai voltar, claro. Levo um papo com ele.
– Valeu.
– Agora, cai fora. Não vai nem em casa. O pessoal tá querendo mostrar trabalho. No indulto de Natal saem mais uns quatro da elite. Quem tá aqui fora precisa deixar claro pro Ratão que tem valor. Ah, se eu quebrar essa pra você, daqui pra frente procure conhecer melhor as leis da comunidade. As lá de fora ninguém respeita. Já as daqui...

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