sábado, maio 29, 2010

Copa 2010

Julio Cesar, a soldo da Nike, desceu a mamona na bola da Adidas.
Kaká, empapuçado pela Adidas, disse que a bola é o ó.
Até a bola rolar de verdade, haja saco pra bobajada.

quinta-feira, maio 27, 2010

SEXO COM TERNURA


Para chegar ao batente, Filó desloca-se por mais de duas horas.
Embarca no metrô lotado, encara fila inacreditável para viajar com o rabo em repouso e ainda pega outro ônibus entupido. Neste o rabo vai solto, desprotegido.
No mercado, trabalha no setor de frios. Presunto, mortadela, queijos... Belisca o dia inteiro. Sempre escondido dos feitores. É um bamba. Come sem as três câmeras apontadas para sua seção captarem.
Tem hora certa pra mijar. Em todo o percurso até o banheiro é vigiado. Os olhões o seguem. Não se espantaria se descobrisse que seu cu é filmado enquanto caga. Existem câmeras submarinas, né não?
Almoça no terreno do lado, sentado numa pedra, longe de todo mundo. Quem o vigia ali o faz à maneira antiga, com olhos que embaixo têm narizes e bocas.
Em dez minutos bota pra dentro a comida fria. Os outros 50 fica por ali mesmo, arriado. O dia não chegou à metade.
Vermelhinha, a ruivinha que adora, vem em sua direção. Poucas vezes conversaram. Ela se aproxima, pede pra sentar perto dele.
Ficou nervoso. Em segundos, imaginou milhões de coisas. No final de todas elas, comia a ruivinha.
– Filó, sei que não somos amigos, mas confio muito em você. Preciso de um dinheiro, fiz uma parada errada, tenho de tirar...
– Você está grávida, quer tirar a criança e está me pedindo dinheiro. É isso?
– Filó, entenda. Tenho só 19 anos, esse emprego de merda. O Porquinho me embebedou.
– A criança é do Porquinho?
– É, eu...
Falar o quê. Nem deu mais papo. Levantou-se. O patrão, hoje, ia levar meia hora do seu tempo. Vai entender mulher. Filó se empanturrou de mortadela.
Às 8h, o caminho de volta: ônibus, ônibus, metrô.
Perto de casa, a cervejinha com os amigos. Dora, morena maromenos, sempre insinuante.
Filó tinha princípios. Há seis meses se guardava pra Vermelhinha. Sexo precisa envolver sentimentos mais ternos, sempre lhe dizia a mamãe querida.
Tomou a saideira, disse qualquer coisa na orelha de Dora, foram prum motel e treparam muito.
No dia seguinte saiu atrás de outro emprego.

quarta-feira, maio 26, 2010

Quem sabe?


Meu interesse pela Seleção Brasileira acabou em 1994.
Dunga, Parreira e Zagallo encheram as medidas.
O tetra chegou porque Baggio mandou a bola nas nuvens, isto depois de uma pelada que fez ninar o mais resistente insone.
A seleção que vai à Copa em 2010, segundo os analistas mais gabaritados, deve chegar ao título fazendo percurso semelhante ao traçado pelos cabeças de bagre de 1994.
O que gostaria que acontecesse dificilmente se concretizará, mas ficaria feliz vendo os soldados de Dunga sendo despachados logo na primeira fase da Copa.
Para o título torço pela Argentina. Uma seleção passional campeã, dirigida por um alucinado, seria ótimo de ver.
Quem sabe?

terça-feira, maio 25, 2010

DELICINHA



Havia comoção no morro.
Delicinha voltaria no final de semana.
Indulto de Dia das Mães.
A mãe do facínora, quando soube que o filho estaria nas ruas, viajou para a casa de um sobrinho, em Porto Velho, Rondônia, lugar mais próximo do inferno que ela conhecia.
Delicinha foi dono do morro por 12 terríveis anos. Na época, era conhecido como Tonhão e aterrorizava as meninas da comunidade. Não se contentava em estuprar, barbarizava as mocinhas com quem cismava. Espantoso que tenha durado tanto tempo no poder. Escapou uma dezena de vezes de atentados bem urdidos. À polícia precisou cevar com muitos milhares de reais para escapar das várias vezes que foi capturado, sempre denunciado por anônimos moradores do morro.
De repente, Tonhão virou Delicinha. Liberado pela polícia depois de nova captura, sem dinheiro, raiva pura, resolveu passar uma temporada em Cabo Frio. Nas areias da praia, conheceu Filipinho. Filipinho, 26 anos, classe média alta, designer de moda, encantou-se com o charme naif de Tonhão.
Conversaram, saíram na noite, beberam e acabaram trocando fluidos em ardente noite de amor. Filipinho, em erupção, sussurrou no ouvido de Tonhão: “Você é uma delicinha”.
Tonhão não entendeu como tinha chegado até aquele ponto. Pensou, seriamente, em dar um tiro em Filipinho. Contrariando sua natureza homicida, conversou com o amante. Contou-lhe toda sua vida. Disse-lhe que já havia estuprado dezenas de mocinhas.
Filipinho horrorizou-se, mas tentou traçar o perfil psicológico do amor praiano. Explicou-lhe que o furor com que desabava sobre as meninas nada mais era do que ódio. Ele, Tonhão, não suportava fazer sexo com mulheres. Escondia-se atrás do preconceito. Reprimia a verdadeira natureza. Era uma fêmea presa em cárcere grotesco.
Tonhão, antes de voltar ao Rio, deu um fim em Filipinho. Não foi por se descobrir homossexual que se tornou pessoa mais sensível. Era o filho da puta de sempre.
No morro não pegou mais meninas. Agora, escolhia os moleques e os fazia sodomizá-lo. Não os agredia. Não os torturava. Obrigava-os a chamarem-no de delicinha.
Batia e matava como antes, todos se encagaçavam só de vê-lo. Tratavam-no por Tonhão, menos os que haviam tido o desprazer de enrabá-lo. Estes o chamavam delicinha.
Durante toda a semana que antecedeu a volta de Tonhão, centenas de jovens garanhões se mudaram do morro. Na comunidade, homens só ficaram os muito velhos ou os brochas.
Tonhão voltou e quem o viu não o reconheceu. Travestido, era agora uma mulher, se não bonita, ao menos passável.
A alguns anciãos informou:  “Voltarei para cumprir o resto de minha pena. Casei-me, estou feliz, estudo publicidade na prisão. Meu marido é pastor. Agora, sou só Delicinha”.