domingo, outubro 19, 2008

Coisa bonita de se ver - Fernanda Machado

Pagodeiros modernos

- E aí, vamos fechar o nome do grupo?
- Demorooô, pra mim é o melhor nome.
- Porra, Pingo, já existe um grupo de pagode com esse nome.
- Nada, Buda, eles mudaram o nome pra Konviquição.
- Ficou mais classudo, mas... Júnior, tem sugestão?
- Estremilique.
- Aí, tá no espírito. Nome alegre, festivo. Gostei.
- Buda, vamos pôr um x, um y e um k: Extremilyke.
- Boa, Pingo. Pega bem lá fora.
- Buda, o nome fechou. E a roupa?
- O Naldinho tava vendo isso.
- D. Iracema montou uns panos fó. Calça e camisa pretas. Blazers de cores diferentes pra cada um.
- Aí, no espírito. Tudo a ver com o nome. Tá surgindo um conceito, falado?
- Preto/azul, preto/amarelo, preto/verde. Gravata combinando com o blazer. Caraio, Buda, vamos bombar.
- Pingo, e a coreografia?
- Lindinha já armou tudo. Ela e a irmã, inclusive, vão entrar mostrando as carnes.
- Lindinha e a irmã, inclusa? Arrego! Agora só falta correr atrás das músicas.
- Isso aí, Naldinho, mas a música é detalhe.

domingo, junho 01, 2008

Polícia aflita

Se a polícia de Recife age como fez na partida entre Náutico e Botafogo, em frente às câmeras de TV, vista pelo Brasil, imagine o que não apronta nas madrugadas, com marginais e cidadãos, longe dos olhos do país.

segunda-feira, maio 26, 2008

Cu de bêbado

- Tô falando, foi sacanagem dos caras... Passaram uma gosma na sua bunda.
- Mas tá ardendo.
- Ninguém fez nada.
- Me enrabaram.
- Nada disso. Mas eu te avisei. Beber como você bebe... Cu de bêbado não tem dono.
- Me enrabaram e você não quer dizer.
- Você conhece os caras. Pergunta pra eles. Te viram caído na frente do clube. Resolveram te sacanear.
- Acabaram comigo. Como vou encarar a Soninha?
- Cara, e se tiverem te enrabado? Você tava desmaiado, não podia fazer nada.
- Viu! Me enrabaram.
- Tá certo, enrabaram. Eram quatro, não pude fazer nada. Argumentei. Disseram que ia sobrar pra mim.
- Você não fez nada?
- Eu te avisei: “Cu de bêbado não tem dono”. O meu tem. É meu. Não bebo, por isso.

Olho por olho

Se pormos fé no relato de O Globo (domingo, 25/5), Itamar Paiva, 45, com seu possante Fiat Uno, avançou sinal vermelho em movimentada rua da Tijuca. Quase atropelou André Luis, que teve a infeliz idéia de levar três pré-adolescentes para comer uma pizza. Dois deles seus filhos.
André reclamou, esbravejou com o navalha. O rufião, então, deu ré e tentou fazer com o rabo o que não fez de frente: atropelar todo mundo. Não conseguiu.
O troglodita, que estava acompanhado por uma insana, saiu do carro e, com uma chave de roda, agrediu André, que está em coma, respirando por aparelhos.
Essas tragédias urbanas me comovem. Um adulto sai com seus filhos para comer uma pizza. Dá azar, encontra o facínora.
Sabemos onde tudo vai dar. O advogado já prometeu que Itamar vai se entregar. Nossa justiça é generosa com os abonados e Itamar já tem experiência em dar porrada nos outros. Não vai acontecer nada com ele. Já André precisará de sorte para sobreviver e não ter seqüelas.
Esse caso se resolveria facilmente se deixássemos de lado as burocracias jurídicas e retornássemos a primitivas leis. Alguém bastante forte poderia dar na cara do cidadão Itamar com a mesma chave de roda e a mesma violência. O que isso resolveria? Nada. Mas se Itamar fosse parar num leito de hospital, ao lado de André, já seria alguma coisa.

sábado, maio 03, 2008

SAUDADE

Perdi minha mãe há 16 anos. Na última vez em que estivemos juntos, acariciamos a mão um do outro, longamente. Era um domingo, ela estava em um leito de hospital e eu não a veria novamente.
Lembro-me bem da cena porque não era comum nos acariciarmos. Sou de uma família que não costuma demonstrar sentimentos com facilidade. Azar o meu.
Sempre me relacionei muito bem com minha mãe. Temperamentos semelhantes. Águas mansas num momento, ressaca devastadora logo a seguir. Qualidade: o bom humor, quase todo o tempo.
Sinto falta dela, e de minha avó, até hoje. As duas foram fundamentais para minha vida. Não há um dia em que não me lembre delas.
É inútil falar, mas falo. Quem tem mãe viva, dê a ela todo o carinho possível. É clichê, mas a morte nos leva sem aviso. Não seja um sobrevivente que vive a lamentar o amor que não demonstrou. Acredite, é doloroso e irremediável.

quarta-feira, abril 09, 2008

sexta-feira, abril 04, 2008

20 deitões

O ódio que sinto dos Correios e Telégrafos só chega perto do que alimento pela Telerj/Telemar/Oi.
Os Correios estão em greve.
Os briosos funcionários querem, entre outras coisas, aumento da grana que recebem por causa do risco que correm passeando pelo Rio.
Há alguns meses comprei um celular na Americanas.com.
Chegou o dia combinado para a entrega e nada. Liguei pra lá.
- Senhor, a encomenda está nos Correios. Eles não entregam onde o senhor mora. É área de risco.
Bom carioca não berra.
Comprei pela Internet porque sou preguiçoso e não quis ir à loja.
Da próxima vez, vou.
A Americanas e os Correios me fizeram viajar até a Penha.
Belisário Pena, depósito dos Correios, mais de 20 deitões rodavam de um lado pro outro sem ter o que fazer.
- Esse computador aqui não tem free cell?
- Meu aguerrido funcionário, desculpe interromper seu joguinho, mas dá pra você me entregar esta encomenda?
Claro que o trabalhador exemplar olhou pros lados pra ver se outro babaca se apresentava.
Os outros 19 estavam espertos e se fingiram de mortos.
- Vou ver pro Senhor.
- Vocês não pretendem voltar a entregar na Estrada Velha?
- Não dá, senhor, aquilo lá é cheio de pivetes.
- A rapaziada aqui é toda do Leblon, né?
Claro que o parvo não entendeu a ironia.
- A Americanas entregava lá.
- É, eles são malandros. Área braba eles jogam pra nós.
Me senti idiota conversando com aquele idiota.
A Americanas não entrega mais em Inhaúma (a bucólica Inhaúma) porque comprou o Submarino.
Sem concorrência, esses putos fazem o que querem.
Eu, de minha parte, não compro mais nada em Internet (exceção pros Cds na Velvet, que são entregues no meu trabalho).
- Senhor, não estou encontrando sua encomenda.
- Companheiro, é bom você encontrar. Se não, esses 20 deitões que estou vendo aqui não serão suficientes para conter minha fúria.
Quem é que disse que assistir seriado na televisão não serve pra nada?
Logo o parasita trouxe minha encomenda e eu voltei à longa caminhada embaixo de inclemente sol até o outro lado da Penha.
No trajeto sonhei com a máquina de teletransporte.
Não pra mim, mas pro envio de encomendas e a conseqüente extinção dos Correios.

quinta-feira, abril 03, 2008

Marrom

Seis da matina, faz frio na bucólica Inhaúma.
Homens e mulheres, silenciosos, caminham em direção ao metrô.
Ninguém fala com ninguém.
De repente, o silêncio é rompido.
E aí, Marrom?
Marrom, meu querido, tudo bem?
Passou a noite na esbórnia, Marrom?
Marrom, há quanto tempo...
Todos falam com Marrom e ele nem se dá ao trabalho de latir de volta.

terça-feira, janeiro 08, 2008

Coisa bonita de se ver - Shakira


E não é rock.

Beber pra quê...

“Machos de mosca-da-fruta submetidos a uma constante inebriação com etanol ficaram mais excitados e desinibidos sexualmente, a ponto de não só voarem atrás de fêmeas, mas também de outros machos.
“O efeito fica mais intenso com a idade. Machos mais velhos ficaram mais desinibidos em relação ao mesmo sexo”
(Folha de S.Paulo, 4/1/2008).
É por isso que não bebo.

Gordo Falante 2007



O Gordo Falante, finalmente, liberou o resultado do melhor CD rock de 2007.
O Gordo é pobre, por isso o universo de discos que participam do prestigioso prêmio é limitado.
O Gordo é pobre e honesto, por isso não leva bola pra premiar ninguém (Bem, a honestidade é relativa. Nunca apareceu ninguém com um pepê para o favorecimento de uma bandinha qualquer. Se aparecer, o Gordo pensa, considera e sucumbe.)
O Gordo comprou, com suado dinheirinho ganho em muitas horas de labuta, 176 cds em 2007. Nem todos de rock e, óbvio, alguns relançamentos.
O Gordo é eclético e, de vez em quando, ouve até samba.
Sem mais delongas, o Gordo decidiu, baseado única e exclusivamente em seu gosto pessoal, que o melhor cd que ouviu em 2007 não foi um, mas dois: Baby 81, do Black Rebel Motorcycle Club, e Because of the times, do Kings of Leon.
Agradecimentos à Velvet que mediante envio, por transferência bancária, de papel-moeda me forneceu boa parte dos cds que participaram desta nobre seleta.

terça-feira, janeiro 01, 2008

BUM!

A manchete que gostaria de ver estampada nos jornais de 1° de janeiro:
MORTEIROS COM DEFEITO DE FABRICAÇÃO DECEPAM MÃOS DE MILHARES DE BRASILEIROS.
É verdade, detesto fogos de artifício.

Sobriedade

- Júnior!!! Faz tempo, hein...
- Quase um ano. E aí?
- Tudo na mesma. E Sofia, as meninas?
- A mais velha fez 15. Tá me dando trabalho. Sofia é o que você conhece.
- Um sábado desses apareço.
- Será um prazer.
- Júnior, estou achando você diferente. Não sei bem o quê.
- Sobriedade. Há três meses não bebo.
- Eu...
- Você vai dizer que me conhece há 20 anos e nunca me viu sóbrio...
- Bom...
- Conheci Sofia de pileque; fiz minhas três filhas, alto; tenho mantido um bom casamento, de fogo; profissionalmente, sou bem-sucedido. Trabalho com uma garrafa de uísque em cima da mesa.
- Ordens médicas?
- Você sabe que não vou a médicos. Resolvi parar.
- Uma mudança grande.
- Minhas filhas, agora, me acham um chato. Dizem que não tenho animação pra nada. Sofia diz que não agüenta mais. Não sou mais o amante ardente que era. Meus empregados estranham porque não sou a simpatia que era.
- Volte a beber.
- Não dá. Esses anos todos vi um mundo enevoado. Agora, vejo tudo com clareza. Depois que se vê, não há como não ver.