quarta-feira, fevereiro 19, 2014

ADOLESCENTES ESPERTOS


Jasmine van den Bogaerde, hoje, mundialmente conhecida como Birdy, nasceu em 15 de maio de 1996. Aos 12 anos, ganhou um concurso de música. Antes de completar 15, lançou versão de “Skinny Love”, do grupo de folk moderninho Bon Iver. Chegou ao Top 20 na Grã-Bretanha. Completados os 15, soltou o manso petardo “Birdy”, um disco de covers (apenas uma música é de sua autoria). As interpretações de “Fire and rain”, de James Taylor, “Terrible Love”, do The National e “Shelter”, dos minimalistas sussurrantes The XX são as que mais me impressionam, mas há muitas músicas de primeira no álbum de estreia da menina. Birdy canta e se acompanha ao piano, sempre competentíssima.
No final de 2013, Birdy pôs na rua “Fire within”, disco de inéditas, e mostrou, pelo menos por enquanto, que é moça bonita, talentosa e promissora que não precisará apelar para se manter em evidência.

Ella Yelich-O’Connor, nas quebradas conhecida como Lorde, é de Auckland, na Nova Zelândia. Também nasceu ontem, em 7 de novembro de 1996. É filha de Sonja Yelich, premiada poeta neozelandesa (o que me diz muito pouco).
A música de Lorde tem uma levada diferente (muito diferente) da de Birdy. Às vezes, me lembra Lana Del Rey. Música eletrônica confortável, que não assusta ninguém. O que tem impressionado público e crítica, além da incontestável (força de expressão, sempre há quem conteste) capacidade artística, é o desapego da moça em relação ao sucesso. Até o momento em que estas linhas eram digitadas, a fofinha continuava vivendo no confortável subúrbio de Devonport, em Auckland, Nova Zelândia, a meio metro do fim do mundo.
“Pure Heroine”, seu primeiro disco (antes lançou um EP), vem causando furor. “Royals”, faixa do disco, ganhou prêmio de canção do ano, no Grammy 2014. Também com “Royals”, Lorde levou o Grammy de melhor apresentação pop solo. O linguão de Miley Cyrus deve estar doendo.
Lorde também foi descoberta, graças à Internet, aos 12 anos. É linda, madura, cheia de talento e pose. As músicas que canta, ela mesma compõe. A mãe-coruja declarou à revista Rolling Stone que a filha é “uma escritora melhor do que ela jamais será”.

Jake Edwin Kennedy, daqui pra frente, Jake Bugg, é de Nottingham, Inglaterra. É o veterano do grupo de três deste artigo. Aos 20 anos, lançou seu segundo disco, “Shangri-la” (não o ouvi, minha crença não me permite ouvir música virtual, só a que sai de sulcos de vinil ou produzidas pelo laser do cedepleier), mas o primeiro é brilhante, intitulado, simplesmente, “Jake Bugg”.
Além da diferença de gênero entre Bugg e as meninas superpoderosas lá do início, o garoto é fruto da classe média baixa inglesa, enquanto as moças têm boa situação financeira e pais artistas. O pai de Bugg é enfermeiro e a mãe vendedora. As preocupações do rapaz são outras. Assim que surgiu foi chamado de “Bob Dylan do East Midlands”. Bugg respondeu: “Bob Dylan é legal, você sabe, ele é ótimo, mas não é uma grande influência”. Em seu primeiro disco é, sim. Se ele chegar à metade da trilha percorrida por Dylan será ótimo negócio para a música do planeta.
Por que falei destes três garotos? Simples. Quando há interesse em desqualificar a música feita por adolescentes, atualmente, os exemplos são sempre os mesmos: Justin Bieber, Miley Cyrus, Selena Gomez etc. Todos com certo grau de talento, mas, infelizmente, divulgadores de música menor. Nada contra o ouvinte de canções de péssima qualidade (vivo na terra do funk pancadão e do pagofunk), segundo meus critérios e avaliação, mas é preciso atentar para jovens que fazem música em altíssimo nível.

Ouvidos abertos não fazem mal a ninguém e trazem grande prazer à vida.

ISOPORZINHO


Em passado remoto, íamos à praia e levávamos fartos farnéis sem constrangimento algum. Tenho fotos da requintadíssima Madame Ribeiro atracada a volumosa coxa de galinha no Recreio dos Bandeirantes.
Aí, a turma da modinha interveio. Essa cambada existe desde o princípio dos tempos e eu, desgraçadamente, já me alinhei com ela. Os da modinha adoram cagar regras e determinaram que levar alimentos para a praia era coisa de farofeiro.
Pronto, nós, babacas preocupados com a opinião alheia, paramos de levar lanchinhos ao lazer à beira-mar.
Os da modinha mais moderados admitiam que se levasse um pacotinho de biscoito. Bananas, jamais.
À praia, íamos e ficávamos o dia inteiro. Encarávamos coletivos superlotados, éramos despejados na praia às 8h e, na volta, às 17h, formávamos filas quilométricas para ganhar posição dentro do ônibus.
A modinha, setor subúrbio, preconizava: não era de bom tom ir ao mar com nada além de dinheiro e documentos. Calote no ônibus era bem visto. Encoxar uma menina, também (ser encoxada, dependia). Bolsa, de maneira alguma. Podia estar sendo usada para esconder comida.
O praiano suburbano ia à praia sem dinheiro e lá passava fome. Não dava para comprar sanduíches e refrigerantes. Quem podia fazer isso, principalmente rapazes, era cobiçadíssimo pelas it-girls da época (as cocotas). Os ditames dos da modinha eram rigorosos e os desobedientes viravam párias sociais (não mudou muito).
Corte temporal. Verão de 2014. Praias: misto quente a R$ 25,00; coco a R$ 7,00; saladinha verde a R$ 50,00; omelete de camarão a R$ 100,00; água a... depende da temperatura e cara do trouxa. O pessoal da modinha se assustou e decretou: praia, a partir de agora, só com isoporzinho.
Como a turma não gosta de perder a pose, uma porta-voz do movimento, eleitora do PSOL, querida do Freixo e integrante do Anonimous, esclareceu: “Não é só pelos preços absurdos que defendemos o isoporzinho, que nada tem a ver com o movimento farofeiro do passado, mas o não consumo de alimentos a preços escorchantes reduzirá a emissão de carbono na atmosfera, diminuirá o desflorestamento na Amazônia e, sem dúvida, terá impacto positivo na questão do aquecimento global. Antes de terminar, quero frisar que odeio a Rede Globo”.

Domingo, eu e os Ribeiro vamos ao mar. Madame prometeu levar picanha com batata corada.