terça-feira, abril 28, 2009

GRIPE SUÍNA - Vai chegar matando

Quando a AIDS surgiu foi chamada de Peste Gay. Imaginava-se que só homossexuais a contraíam. Religiosos ignorantes (opa, acho que isso é redundância) diziam ser a AIDS o castigo de Deus para os sodomitas. O tempo passou e os mais esclarecidos, hoje, sabem com alguma segurança as formas de contágio da doença.
Digo os mais esclarecidos porque o recém-eleito presidente da África do Sul, Jacob Zuma, acha que uma boa chuveirada depois do rala e rola é suficiente para evitar o contágio. A estupidez está dominando o mundo.
Só é contaminado pela AIDS, hoje em dia, aqueles que se atiram em um grupo de risco. Gente de vida promíscua, usuários de drogas displicentes e aqueles que fazem sexo sem proteção. Se você, solteiro, usa camisinha ou dedica-se aos embates solitários, tem pouca chance de contrair o vírus HIV. Da mesma forma, os casados que, a todo custo, mantêm-se firmes e não papam fora de casa.
A AIDS, pessoalmente, não me preocupa. Uso minha espada com parcimônia e sempre contra a mesma oponente. Tenho orgulho de manter meu fiofó apenas como rota de saída, com todo respeito pelos que têm o estranho prazer de fazê-lo, também, de rota de entrada. Egoísta, entendo que são remotas as chances de eu pegar AIDS.
A gripe suína, no entanto, é apavorante e me apavora. No começo do século passado, minha avó perdeu quatro filhos para a gripe espanhola. A gripe é absolutamente democrática e o contágio pelo ar leva-a ao mundo inteiro. A espanhola matou milhões em época de transporte difícil. A gripe aviária matou milhares e foi contida pelo rigor do combate empreendido pelo governo chinês. A suína eclodiu no México e entrou nos EUA e Canadá. É quase certo que virá para cá. Nossas autoridades não conseguem erradicar o mosquitinho da dengue, imaginem se tiverem de lutar contra invisíveis vírus que se propagam pelo ar.
Se o vírus desembarcar por aqui, a cada viagem de metrô tombarão dezenas. Não sei se por estar desempregado ando meio pessimista, mas acredito que a influenza porcina vai dar o que falar. E vai matar.

sexta-feira, abril 24, 2009

EXCELÊNCIA

- Nosso tribunal reúne-se para tratar de caso grave, porém, rotineiro nestes tempos de crise de valores. O réu, Geraldo Cordeiro de Lima, sofre grave acusação, que exporemos agora. Vossa Excelência, permita-me usar expressão bastante popular, foi pego no pulo.
- Vossa Excelência, discordo respeitosamente. Não foi apresentada prova alguma contra mim.
- Tilico, jovem e valoroso soldado de nossa comunidade, acusou Vossa Excelência de ser informante da polícia. Um X9, como o vulgo diz.
- As provas, Vossa Excelência, as provas.
- Tilico, acompanhado de dois membros respeitados de nossa agremiação, Mario Foguete e o condecorado soldado Miltão, com 37 mortes no irretocável currículo...
- Vossa Excelência, há dois anos sou gerente da boca. Nesse período crescemos 31% em vendas, reduzimos os confrontos com a polícia em 21%, vimos uma renovação de clientela na ordem de 39%. As outras agremiações nos convidam para palestras.
- Vossa Excelência me interrompeu quando diria que o nobre gerente foi visto pela comissão conversando com policiais. Logo depois sofremos ataques da polícia que nos infligiram sérios prejuízos.
- Não nego o encontro. Tratava do acerto do arrego. Os homens da lei queriam mais dinheiro para não atrapalharem o movimento.
- Vossa Excelência me toma por inocente? As negociações de arregos precisam seguir toda uma rotina. Não é o gerente que trata disso. De qualquer forma, o destino de Vossa Excelência já foi decidido pelo júri. Reconhecemos os relevantes serviços, agradecemos pelo tempo dedicado à agremiação, mas Vossa Excelência foi condenado à morte no micro-ondas. Em respeito a sua folha de serviços, não usaremos a espada samurai. A corte está dispensada.

COISA BONITA, LINDA, MARAVILHOSA DE SE VER - BEYONCE

Sasha Fierce não está com nada.

terça-feira, abril 14, 2009

ISRAEL E EU

Sempre gostei de escrever. Escrevia para mim e os muito chegados. Faltava-me confiança para expor meus textos a estranhos.

Começo da década de 80, eu estava no Seminário do Sul. Israel Belo de Azevedo, meu professor de Metodologia da Pesquisa, selecionou uma resenha que escrevi e leu-a como a melhor entre as feitas por todos os alunos. Ali ganhei segurança para escrever.

Mais tarde, Israel convidou-me para trabalhar com ele no Centro de História Viva do STBSB. Não pude ir. Na mesma época, comecei a trabalhar na Manchete. Trabalhara por 10 anos no Jornal do Brasil de onde saíra por absoluta inadequação ao emprego. A Manchete era mais do mesmo, mas pagava bem. Fui pra lá.

O STBSB passou por período turbulento, Israel foi para a Visão Mundial, depois para a UNIMEP e, mais tarde, veio para a Gama Filho.

A Manchete faliu e eu já estava na JUERP, que teve morte cerebral decretada no final dos anos 90. A situação ficou complicada para mim.

Israel telefonou-me e me convidou para um jantar. Ele estava trabalhando, também, com uma editora evangélica e convidou-me para fazer revisões e elaborar resenhas para o Prazer de Ler que saía encartado no Novas, do bravo Gilton. Trabalhávamos pela Internet e em meu primeiro provedor de acesso fui dependente dele.

Foi um tempo de dureza. A fim de levantar recursos, vendi alguns livros meus para Israel. Ele os comprou e algum tempo depois me chamou para devolvê-los. Não aceitei.

Por que estou escrevendo este texto?

Israel será operado de câncer na próstata. Eu sou hipertenso. Pode ser que não haja oportunidade de dizer o que direi agora, em outra ocasião.

Eu e Israel poderíamos ter sido grandes amigos. Nossos temperamentos nos separaram, mas sempre tive grande admiração por ele. Há um número ínfimo de pessoas, em nossa denominação, que despertam admiração: Israel é uma delas.

Sábado orarei por ele. Depois que se recuperar, vou procurá-lo para um abraço. Abraço dado, voltarei para o meu canto. Infelizmente, demonstrar amor não é uma de minhas qualidades.

sexta-feira, abril 03, 2009

JORNAL MEXIDINHO

Recebi crítica a trabalho que desenvolvi em um jornal por uns 10 anos. Não dei muita pelota. O crítico acertou e errou nos petardos que enviou, mas quando ele usou uma metáfora de ovos mexidos para desancar o jornal calou fundo ao meu coração. Explico: disse meu algoz que o jornal feito por mim lembrava ovos mexidos e ele não apreciava o acepipe. Só muito raramente, quando desejava sentir na carne como se alimentavam os pobres. Eu, sempre na base da pirâmide econômica, costumava adorar.

Minha avó fazia ovos mexidos deliciosos. Ainda solteiro, sempre ligava do trabalho e pedia a ela para me preparar um mexidinho. Era o neto favorito, ela fazia, sempre. Tenho de ser sincero e confessar que ela incrementava o mexidinho com umas batatas fritas cortadas em quadradinhos. Comia todos os dias, rindo.

A lembrança despertada pela crítica me fez, tal um D2, sair atrás do mexidinho perfeito. Conversei com minha querida sogra, mestra na preparação de frangos (em carne vermelha é sofrível). Expliquei-lhe, minuciosamente, como deveria ser elaborada a mistura de ovos, batatas, pimentão, cebola e tomate. Foi um fiasco. A grande quituteira de Inhaúma fracassou retumbantemente.

Conversei com a mana, herdeira desleixada dos segredos culinários da família. A técnica de elaboração do bife à milanesa, ela domina. Esqueceu, infelizmente, como fazer uma fritada de ovo com linguiça; não tem mais o segredo da preparação da sardinha casadinha; deixou escorrer memória abaixo a fórmula da carne seca desfiada no feijão. O mexidinho, me garantiu ela, sabe fazer.

Críticas servem para pouca coisa. Raras têm alguma fundamentação. Essa, pelo menos, serviu para me fazer lembrar um tempo muito bom. O tempo em que estavam todos aqui: pai, mãe, tios, avó. E, de tempos em tempos, sinto uma puta saudade dessa turma.