segunda-feira, janeiro 21, 2013

VIGOR ADOLESCENTE



O mercado, esse espertalhão que vive do nosso sangue, há muito tempo descobriu o adolescente. No passado, a adolescência começava aos 12 anos e encerrava-se com pompa aos 18. Hoje, a faixa etária estendeu-se. Começa aos 10 anos e algumas vezes se encerra aos 25. Há especialistas que só consideram terminada a adolescência quando o rapaz ou a moça saem da casa dos pais e se sustentam.
O mercado fatiou essa faixa etária e nos EUA os tweens (10 a 13 anos) têm altíssimo poder de fogo. Desde petizes os tweens compram suas próprias roupas, leem livros que lhes interessam, consomem ídolos fabricados para eles e fazem barulho. Depois dos 13 são teens (lá e cá, muito pela paixão que nutrimos pelo idioma de Justin Bieber).
“A adolescência é uma etapa intermediária do desenvolvimento humano, entre a infância e a fase adulta. Este período é marcado por diversas transformações corporais, hormonais e até mesmo comportamentais. Não se pode definir com exatidão o início e o fim da adolescência (ela varia de pessoa para pessoa), porém, na maioria dos indivíduos, ela ocorre entre os 10 e 20 anos de idade (período definido pela OMS – Organização Mundial da Saúde)” – http://www.suapesquisa.com.
Neste texto, quando falarmos de adolescentes, pensaremos em jovens de 13 a 18 anos (só para facilitar minha vida). Os termos tweens e teens não serão mais mencionados aqui. Fiquemos com os nossos pré-adolescente e adolescente.
O adolescente é fascinante. Um grupo poderoso, certamente. Na adolescência formamos os laços mais fortes. Em qualquer época da vida fazemos amizades, mas na adolescência cremos que essa ligação será para toda a vida.
Há adolescentes problemáticos (como há jovens, adultos e idosos). Não se falará deles neste texto, que é descaradamente uma apologia do vigor, entusiasmo e arrogância adolescente.

BARRA PESADA
Na adolescência formamos nossos grupos de amizade, definimos a carreira que seguiremos, corremos atrás de emprego e enlouquecemos com o sexo oposto. Tudo isso com hormônios explodindo dentro de nós. Nós, porque eu também passei por isso e sei que a barra pesa.
Estudei com uma menina desde o primário (agora, acho que é 1º Grau ou Ensino Fundamental) até o pré-vestibular. Aluna aplicadíssima, orgulho do papai e da mamãe, Sônia apaixonou-se por um malandro de nossa turma. Uma simpatia de garoto, mas vagabundo. Sônia não passou no Vestibular, concluiu precariamente o Ensino Médio e ainda engravidou. Engravidou em uma época que estigmatizava a mãe solteira terrivelmente. Retomei contato com ela, via Facebook, e ouvi em uma longa conversa as dificuldades que enfrentou: “Meus pais me apoiaram, mas só pude voltar a estudar 10 anos depois de meu filho nascer. Papai fez questão que eu criasse meu filho e só depois que ele faleceu é que minha mãe resolveu ficar com o menino para eu estudar. Hoje, tenho três filhos, todos casados. Estou viúva e mamãe vive comigo. Tem quase 100 anos”.
O adolescente está sempre a uma distância mínima do erro. E é fácil vacilar quando são tantas as oportunidades para fazermos lambança.
Devemos considerar que o adolescente com boa estrutura familiar tem mais chances de seguir caminho seguro. O deslumbramento derruba muitos garotos e garotas. E não são vítimas de deslumbramento só os jovens milionários do futebol.
A barra é pesada para o adolescente, mas ele sempre acha que dá para consertar as bobagens feitas. Às vezes, não dá. O sentimento de onipotência que acomete a garotada pode levá-la ao fundo do poço, mas, se bem trabalhado, esse sentimento pode ser transformado em confiança em si mesmo sem o exagero de se achar infalível.

ARROGÂNCIA
Arrogância é altivez, insolência, orgulho, presunção. É desagradável lidar com pessoas arrogantes. Eu me mantenho longe delas. O adolescente tem muita arrogância arraigada nele. Ele pode. Ele tem muito tempo pela frente. Ele e ela são desejados, cobiçados. Ele e ela terão muito dinheiro, poder. No meu entendimento, não chega a ser errado pensar assim. O certo, no entanto, é que toda essa presunção geralmente não leva a lugar algum.
As igrejas batistas se dividem em faixas etárias como estratégia para o treinamento de seus membros. Adolescentes carregam pedras. Fazem o que ninguém faz. Já irritei adolescentes, involuntariamente, quando eles vinham me apresentar uma ideia para melhorar uma atividade e eu dizia: “Sua ideia é boa, mas isso já foi feito e não deu certo”. Ouvi, como resposta, algumas vezes: “Não deu antes, pode dar agora”. Um dia ouvi, de verdade, e o projeto fracassado do passado “bombou” no presente. Aprendi. Trabalhar com adolescentes não é fácil, mas compensa, e muito.
Se a arrogância do adolescente se transforma em confiança genuína e ele consegue compreender que deve prestar atenção no que lhe está sendo dito e admitir que também erra de vez em quando, temos alguém precioso ao nosso lado. E ele, certamente, não precisa concordar submissamente com tudo o que vem da liderança.

VIGOR
Um texto na barra do segundo caderno de O Globo me chamou a atenção. Uma senhora, aos 70 anos, resolveu compor músicas no seu teclado Cassio. Em pouco tempo transformou-se em uma estrela da música islandesa (de lá saíram Sugarcubes, Bjork, Seabear). Em oito anos, Sigridur Nielsdóttir compôs 600 músicas. Não me interessa aqui a qualidade da obra de Sigridur. Importa a disposição, o vigor da velha senhora. É este vigor que o adolescente tem. Vigor/coragem de fazer o que os mais velhos temem empreender. Nada mais patético do que adolescente desanimado, conformado, sem entusiasmo.
Minha amada, na adolescência, ia para a igreja a pé. Inhaúma–Praça Seca, uns 10km. Do Campinho até a Praça, distribuía folhetos evangelísticos no lado direito da Cândido Benício. Na volta, da Praça até o Campinho, cobria o lado esquerdo. Pregava em ar livre, cantava no coral, fazia evangelismo em presídio... (era vigorosa e meio doida). Hoje, só de lembrar dessa época ela fica cansada. O adolescente tem essa disposição, o vigor físico, a vontade de transmitir aquilo em que ele acredita.

ENTUSIASMO
“Excitação da alma quando admira excessivamente”. Gosto dessa definição de entusiasmo tirada do Dicionário Michaellis. Também gosto de arrebatamento como sinônimo de entusiasmo. O adolescente é arrebatado, exagerado, apaixonado (uma boa parte deles, pelo menos) e, se acredita em uma causa, se atira de peito aberto.
Quem lida com adolescente na vida secular ou dentro de igreja sabe que precisa conquistá-lo. Um mesmo grupo de adolescente rende muito com um líder e não rende nada com outro. O adolescente, pela imaturidade, é muito dono da verdade; adora pegar quem o lidera em contradição; se regozija em arrancar máscaras. Depois de um tempo, e muitas tentativas, se não consegue, ele respeita quem o está capitaneando. E do respeito ao capitão passa ao entusiasmo à causa que o capitão defende. Já vi turmas que detestavam matemática passarem a amá-la depois de receberem aulas de verdadeiros mestres. Também já vi grupos debruçarem-se sobre a Bíblia inspirados por mestres que além de conhecer viviam as verdades das Escrituras.
Um grande erro, sempre em minha opinião, de adultos que trabalham com adolescentes é se comportarem como se fossem adolescentes. Não são, e eles percebem a impostura.
 O Fluminense, no passado, tinha um ponta-direita velocíssimo: Cafuringa. Fez um ou dois gols em toda a carreira. Seu problema: era tão veloz que na maioria das vezes saía pela linha de fundo com bola e tudo. Não sabia dosar a energia que tinha. Deu azar de não ter encontrado um técnico que o instruísse.
O adolescente tem pouca noção de que vive uma fase privilegiada da vida. Pode escolher e seguir o rumo que desejar. Sei que de muitos adolescentes foi roubada esta oportunidade, mas muitos que a têm deixam-na passar. O adolescente é responsável por sua história. Deve usar este vigor, entusiasmo e destemor para conseguir o melhor para si e para os seus.

sábado, janeiro 05, 2013

EXIBICIONISMO PERIGOSO


Adolescentes mostram o corpo em fotos cada vez mais sensuais. O pior, não tomam cuidado e são vistas por predadores sexuais

(Texto publicado na revista ELOS | Agosto de 2012)

Maria Alice, 16 anos, estuda há cinco anos com um grupo de amigas. Mesma escola, mesmo bairro, frequentam os mesmos lugares. “A ideia foi da Soninha. A gente se fotografava em poses sensuais, mandava uma pra outra e nos dávamos notas. Não tinha foto de ninguém pelada, só de biquíni. Um garoto que ficava com a Vera copiou as fotos do celular dela e espalhou. Deu um rolo danado. Meu pai viu as fotos, me tirou da escola e não quer que eu ande mais com as meninas. Ele é de outra geração”.
A história de Maria Alice é fictícia. É o resultado de histórias de adolescentes que não veem nada de errado em exibir o corpo. Até porque a mensagem que a sociedade vem passando é essa mesma: usar o corpo para alcançar o sucesso é comportamento aceitável. Seduzir para subir na carreira profissional deve ser o padrão. “A socióloga inglesa Catherine Hakim diz que não há igualdade entre os sexos e incentiva as mulheres a usar todos os seus atributos para ascender na carreira” (Veja, 25/7/2012). Adolescentes e pré-adolescentes estão apenas afiando suas armas ao se mostrarem em poses eróticas para aqueles que desejam impressionar. Lamentavelmente, não só esses têm acesso à visão de seus corpos.
Um relato verdadeiro. Rafael mora em um condomínio. Circula pelas redes sociais fuçando a vida alheia. Tem muito tempo disponível. Não trabalha, aposentou-se por invalidez. Na rede, vai de perfil em perfil até encontrar os liberados. “Meninas que gostam de postar fotos sensuais, normalmente, deixam seus perfis disponíveis. Há aquelas que já são profissionais do sexo, a maioria, no entanto, é só exibicionista. A ingenuidade é que as põe em risco. Outro dia entrei no perfil de uma menina da Tijuca. Vi fotos dela na escola, em casa, em praias. Ela era maravilhosa. Em um dos álbuns havia fotos quentíssimas. Até topless. Menina doida. Estudei o perfil dela e descobri que estudava de manhã. O colégio dela eu já sabia qual era pelas fotos. Sou desocupado. Eu e todos os predadores sexuais. Resolvi fazer um teste. Fiquei nas imediações da escola dela. Parava meu carrinho e olhava. Fiz isso por três dias. Acabei vendo-a. Segui-a de longe e vi onde morava. No perfil dela, tomei conhecimento de uma festa a que ela iria. Para fechar meu teste, fui ao local que ela e amigos combinaram se encontrar para ir a tal festa. Vi quando ela chegou, andou com o grupo por uns 200 metros e entrou em um prédio. Pensei em ficar por ali para ver como ela sairia da tal festa, mas já estava ficando obcecado com a garota. Vai que ela sai sozinha, embriagada... Sou meio desajustado, reconheço, e estou sempre perto de fazer bobagem. Fui pra casa e não entrei mais no perfil dela.”
Adolescentes que gostam de se exibir não viverão como promíscuos no futuro. Esta não é uma regra. Adolescentes exibicionistas correm mais ricos de sofrer ataque sexual do que aqueles mais discretos. Isto, sim, é fato.
Filmar-se em situações íntimas pode ser constrangedor e muito perigoso. A atriz Carolina Dieckman teve seu computador invadido e dele furtadas fotos íntimas. O mesmo ocorreu com Scarlett Johansen. Um escândalo nas manchetes do final de julho foi o vídeo de uma assessora do Senado em pleno ato sexual. Não é natural, então, ter a intimidade invadida por estranhos.
A revista Veja trata de uma pesquisa feita nos Estados Unidos: “30% dos adolescentes americanos já praticaram alguma vez o sexting – ou seja, usaram seus smartphones para disparar mensagens contendo fotos em que aparecem nus, acompanhadas ou não de texto. O número, é claro, assusta. E os estudiosos da Universidade do Texas responsáveis pela pesquisa descobriram ainda outras pistas que ajudam a entender melhor esse fenômeno. A principal delas é que o sexting tem um vínculo com a prática “real” do sexo. De acordo com o levantamento, entre as adeptas do compartilhamento de fotos íntimas, cerca de 80% já praticaram sexo; o número de sexualmente ativas cai pela metade entre aquelas que também não se envolvem com sexting”.
Em 2008, a americana Jessica Logan se enforcou aos 18 anos após sua foto, feita na intimidade, passar pelos olhos de todos os colegas de escola. Uma reação exagerada de alguém que tinha outros distúrbios, mas quem pode saber como reagirá diante de uma situação como essa.
Os jovens entram na vida sexual ativa cada vez mais cedo. Quase sempre estão despreparados. Fazem sexo cedendo às pressões dos grupos com os quais convivem. Ao contrário do que se imagina, adolescentes que querem ser diferentes são minoria irrisória. A maioria integra-se ao bando, não quer ser percebido. Vestem-se igualmente, comportam-se da mesma forma. Quase nunca, mesmo os mais arrogantes, sabem o poder de sedução que exercem. Uma menina de 13 anos usando calcinha e sutiã, fazendo cara de periguete em foto postada para um amiguinho pode provocar bocejos no coleguinha e incendiar um velho predador que fortuitamente tem acesso à fotografia. Se atacada pelo predador, ninguém de bom senso dirá ser ela a culpada, mas o mal estará feito.
Pode parecer orientação careta, mas exerça sua sensualidade com alguma discrição. Use os meios de que dispõe para alcançar objetivos elevados. Estude, prepare-se, não creia quando lhe disserem que o caminho para uma vida bacana é fazer um casamento de interesse. O amor romântico ainda não acabou. Há pragmáticos que creem ser a conjunção de interesses o segredo do sucesso no casamento. Pode ser. Há, no entanto, maiores chances de se chegar à felicidade ao se juntar a alguém que misteriosamente abalou nossas estruturas. Só se pode levar este projeto à frente se, individualmente, construirmos nossa independência. O belo levará vantagens, mas só beleza não bastará.
A exibição do corpo em redes sociais põe em risco a integridade física de quem se expõe. Vivemos em sociedade e precisamos nos sujeitar a regras de convivência. Às vezes, nos julgamos incapazes de fazer mal a alguém. Lá fora, infelizmente, à espreita, há muitos que só desejam satisfazer seus próprios instintos. Não é inteligente facilitar a vida de tais pessoas.