segunda-feira, maio 26, 2008

Cu de bêbado

- Tô falando, foi sacanagem dos caras... Passaram uma gosma na sua bunda.
- Mas tá ardendo.
- Ninguém fez nada.
- Me enrabaram.
- Nada disso. Mas eu te avisei. Beber como você bebe... Cu de bêbado não tem dono.
- Me enrabaram e você não quer dizer.
- Você conhece os caras. Pergunta pra eles. Te viram caído na frente do clube. Resolveram te sacanear.
- Acabaram comigo. Como vou encarar a Soninha?
- Cara, e se tiverem te enrabado? Você tava desmaiado, não podia fazer nada.
- Viu! Me enrabaram.
- Tá certo, enrabaram. Eram quatro, não pude fazer nada. Argumentei. Disseram que ia sobrar pra mim.
- Você não fez nada?
- Eu te avisei: “Cu de bêbado não tem dono”. O meu tem. É meu. Não bebo, por isso.

Olho por olho

Se pormos fé no relato de O Globo (domingo, 25/5), Itamar Paiva, 45, com seu possante Fiat Uno, avançou sinal vermelho em movimentada rua da Tijuca. Quase atropelou André Luis, que teve a infeliz idéia de levar três pré-adolescentes para comer uma pizza. Dois deles seus filhos.
André reclamou, esbravejou com o navalha. O rufião, então, deu ré e tentou fazer com o rabo o que não fez de frente: atropelar todo mundo. Não conseguiu.
O troglodita, que estava acompanhado por uma insana, saiu do carro e, com uma chave de roda, agrediu André, que está em coma, respirando por aparelhos.
Essas tragédias urbanas me comovem. Um adulto sai com seus filhos para comer uma pizza. Dá azar, encontra o facínora.
Sabemos onde tudo vai dar. O advogado já prometeu que Itamar vai se entregar. Nossa justiça é generosa com os abonados e Itamar já tem experiência em dar porrada nos outros. Não vai acontecer nada com ele. Já André precisará de sorte para sobreviver e não ter seqüelas.
Esse caso se resolveria facilmente se deixássemos de lado as burocracias jurídicas e retornássemos a primitivas leis. Alguém bastante forte poderia dar na cara do cidadão Itamar com a mesma chave de roda e a mesma violência. O que isso resolveria? Nada. Mas se Itamar fosse parar num leito de hospital, ao lado de André, já seria alguma coisa.

sábado, maio 03, 2008

SAUDADE

Perdi minha mãe há 16 anos. Na última vez em que estivemos juntos, acariciamos a mão um do outro, longamente. Era um domingo, ela estava em um leito de hospital e eu não a veria novamente.
Lembro-me bem da cena porque não era comum nos acariciarmos. Sou de uma família que não costuma demonstrar sentimentos com facilidade. Azar o meu.
Sempre me relacionei muito bem com minha mãe. Temperamentos semelhantes. Águas mansas num momento, ressaca devastadora logo a seguir. Qualidade: o bom humor, quase todo o tempo.
Sinto falta dela, e de minha avó, até hoje. As duas foram fundamentais para minha vida. Não há um dia em que não me lembre delas.
É inútil falar, mas falo. Quem tem mãe viva, dê a ela todo o carinho possível. É clichê, mas a morte nos leva sem aviso. Não seja um sobrevivente que vive a lamentar o amor que não demonstrou. Acredite, é doloroso e irremediável.