quarta-feira, dezembro 19, 2007

Harajuku style


Gosto da forma aloprada dos adolescentes japoneses se vestirem.

Cabaço

- Souza, querido, finalmente, Magali perdeu a virgindade.
- Até que enfim, Ernesto. Dezenove anos...
- Muito carola. Culpa da mãe.
- Agora, você é um pai realizado.
- Claro. Ela está que é uma felicidade só. Foi pro shopping, ontem. Voltou cheia de roupas.
- Mas, como foi? Ela te deu detalhes?
- Ela intermediou uma parada no escritório em que trabalha com um fornecedor. Ofereceram um por fora considerável e ela, esperta, embolsou.
- Cara, você está com os olhos brilhando.
- Souza, estou orgulhosíssimo. Na primeira porrada, a menina arrumou 30 mil.
- Caraio!!!
- Estou orgulhoso, mesmo. Ensinei a ela o caminho das pedras.
- Agora que perdeu o cabaço vai tomar gosto.
- Pode parecer precipitado, mas já vislumbro pra ela uma carreira na política.

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Lilly Allen. Aiai!


Chumbregas

- Fim de ano. Tenho horror, bródi.
- Ficou pra você a organização do almoço?
- Ó! O homem faz questão que eu organize.
- Quer que eu acerte com o Jonas?
- Não. Acertei no Chumbregas.
- Bem mais em conta.
- 30% mais barato. Baré Cola à vontade. Bife prensado, arroz, farofa de banana e, talvez, umas batatinhas. O café levo na térmica.
- A turma vai gostar.
- Tô cagando. O homem vai. Isso é que vale.
- Você vai encarar o boião do Chumbregas?
- Nada. Vou almoçado. Tenho respeito pelo meu estômago.

segunda-feira, dezembro 10, 2007

Meus sobrinhos

Sempre penso que não vou embarcar mais nestas Kombi criminosas que rodam pelo Rio, mas ando sempre duro, ônibus não aparece e aí acabo me entregando pros malucos.
Sábado chuvoso, onze e pau, lá vem a Kombi velha e eu não titubeio.
Estamos eu, o piloto, o cobrador e uma jovem. Não há troco pros meus dois reais. Tudo bem, vou pro fim da linha. A bonitinha desce. A Kombi é só minha.
Primeiro ponto da José dos Reis, uma turma está saindo de um aniversário. Mulheres, homens, crianças, bolo, coca-cola, pastéis... O olho do piloto cresce. Com jeitinho cabe todo mundo, não vai ficar ninguém a pé. Entraram 18. Fui forçado a lucubrar: Há pouco a solidão, o vazio. Agora, a proximidade com outros humanos. Bundas, pernas, sovacos, dentes. Tudo tão próximo.
Faltou-me coragem para puxar a máquina e disparar. Seria foto pra prêmio.
Na Praça de Inhaúma desceram todos.
Sozinho de novo.
Aí tio, vai pra onde? Pro Boêmios. Vou precisar abastecer, tudo bem? Claro que estava tudo bem.
Valeu, tio.
Não é a Zilda, ali na frente? O cobrador, É. ZIIIILLLLDDDAA!!! Ô querido! Vai namorar? Só de segunda a sexta. Vamu num chope? Já é. Entra aí, só vou levar o tio no Boêmios.
Esses meus sobrinhos...

Silêncio é ouro

- Me separei do Geraldo.
- Por que, Dilma? Trinta anos...
- Você é um pouco culpada.
- Eu?!?
- Você o convenceu a fazer terapia.
- Dilma, você vivia reclamando que ele era muito fechado, não se abria.
- Vera, meu marido é uma besta. Calado, achava que era inteligente, profundo. Quando começou a falar, descobri o jumento que sempre foi.

segunda-feira, novembro 26, 2007

Juliana Lohmann - Coisa bonita de se ver

Desde que vi Juliana Lohmann em uma novela achei que ela iria longe na TV.
Na época, representava uma vampirinha adolescente (ou coisa parecida) em uma novela da Globo.
Ontem a vi em Mandrake, na HBO, e tive a impressão de não ter me enganado.
É bonita, não deixa a gente constrangido quando representa e tem muito para crescer.
Ela pode ser vista, também, no Paparazzo, o sítio erótico light do Império.

Joel Santana é seleção

Não gosto de futebol. Adoro o Flamengo.
Cago pra Dunga e seus anões.
Quebro o pau por causa de Obina, o bonde, e seus companheiros.
Estou felicíssimo com a ida do Mengão pra Libertadores.
Joel Santana é seleção.

Saco

Escrever é um saco.
Ler, não. Ler é puro prazer.
Claro, quando se lê o que quer, na hora em que se está disposto.
Escrever é um saco porque tem muita gente escrevendo bem.
Bom, talvez não seja tanta gente assim, mas dá pra ocupar uma existência lendo coisa boa.
Aí, penso no que escreveu um amigo: por que perder tempo escrevendo se podemos ganhá-lo lendo?
Se me pagassem para escrever, valeria a pena.
O trocado que ganhasse mandaria para a Velvet e de lá me enviariam cds e seria justificado o tempo despendido para batucar umas linhas.
Escrever é um saco, mas quando escrevo sempre me acho melhor do que sou.

terça-feira, setembro 11, 2007

Gordinha o cacete!

O homem de hoje, diante de Jane Fonda, em Barbarella, horrorizado diria: "Que monstra, que mulher enooooorme!"
Tudo bem, homem (?) de hoje, eu vivo no passado.
Cercado por Ava Gardner, Claudia Cardinale, Sophia Loren, Doris Day, Marilyn Monroe, Jane Fonda e, sim, uma fraqueza, a magricela Audrey Hepburn.

Grandes


Dois discos que não têm saído de meu cedepleier:
"Era vulgaris", do Queens of the Stone Age, e "Our love to admire", do Interpol.
À sua maneira, grandes, os dois.
Volto a falar sobre eles. Ou não.

Personal friend

Li na Folha de S.Paulo que tem gente pagando 50 pratas a hora por um personal friend.
O amigo pessoal bate papo com o cliente, vai ao shopping com o amiguinho e empresta o ouvido para o carente.
Eu, para ser personal friend de alguém cobraria muito mais. Tenho grande dificuldade de me aproximar de meus semelhantes, mas poria grande empenho em vencer essa limitação se fosse bem pago. Não gosto de humanos, mas adoro dinheiro.

O espectro

Assombrações, fantasmas, nunca acreditei nessas coisas, mas...
Há vinte e poucos anos fui com um amigo passar um fim de semana em uma cidade praiana. Jonas, todos os anos, passava as férias no que ele chamava de paraíso na terra. A cidade não me impressionou, as primas dele, sim. Entendi por que ali era o paraíso.
Sou cheio de defeitos, com uma qualidade: determinação. Aurora, a prima mais velha de Jonas, me encantou. Infelizmente, não tive oportunidade de conversar com ela. Por isso, uma semana depois voltei à cidade e disse a ela, sem rodeios, o que sentia. Começamos a namorar. Em três meses estávamos casados. Jonas foi o padrinho.
No período em que namorei Aurora, por três vezes Jonas me acompanhou nos fins de semana. Passava o dia na casa, conosco, à noite ia para um hotel. Eu dormia na casa e estranhava Jonas não fazer o mesmo. Aurora me explicou a razão: “Jonas nunca se acostumou com os fantasmas”.
“Você nunca viu nada, lá?”, me perguntou Jonas. Não, nunca. E continuei não vendo. Talvez por causa de Aurora.
Vivemos juntos seis anos intensos. Ela e as irmãs esbarravam nos espectros em todos os cômodos. Era só anoitecer. Estavam habituadas. “Eles não incomodam, só ficam nos olhando”.
Casamos, com dinheiro poupado, comprei uma lojinha e fui morar na casa assombrada. Os fantasmas, aparentemente, não viram em mim nada que valesse a pena olhar. Não me olhavam, eu não os via.
Uma madrugada, acordei para ir ao banheiro. Sentei-me na cama e à minha frente uma mulher me observava. Nossos olhares se cruzaram. Encarei-a sem medo, um pouquinho curioso. Ficamos ali, um de frente pro outro. Seu rosto, impassível, não transmitia nenhum sentimento. Pensei em acordar Aurora, mas para quê? Tornei a olhar a mulher, levantei-me, atravessei-a e fui mijar.

quarta-feira, agosto 29, 2007

Mermão

- Mermão, cê simporta seu ti passar pra outra Kombi?
- Claro, vou descer depois do viaduto.
- Eu ia voltar daqui. Tô tomando preju nessa viagem. Só peguei você.
- Ô cara, o viaduto é aí na frente.
- Mermão, tava te dando uma idéia. Agora, desce aí. Nem precisa pagar.
- Nunca mais entro numa porra dessa.
- Entra sim. Num tem dinheiro pra pegar táxi, num tem ônibus na rua, num tem disposição pra andar a pé. Tem de pegar a gente mesmo.

Coisa bonita de se ver - Jessica Alba

Jessica Alba me chamou a atenção em um seriado de James Cameron, Dark Angel.
Jessica é linda e não compromete como atriz.
No Quarteto Fantástico, loura insípida, não está em seu apogeu.
Deslumbrante, podemos vê-la em Sin City.

Guerreiro

Nunca fui chegado a embates corporais. Dar e levar porrada nunca foi a minha.
Garotos, no entanto, brigam. Por afirmação, estupidez e um porrilhão de outros motivos.
Até o começo da adolescência, briguei duas vezes. Brigas arranjadas pelos bons amigos que me cercavam. Os dois oponentes que enfrentei, em comum comigo tinham a covardia. Um era um provocador covarde. O outro era só covarde.
Com o primeiro desentendi-me no recreio. Estava no ginásio. Discutimos e logo ouvi a frase temida: “Me espere lá fora, depois da aula”. Engoli em seco. Os amigos vibraram. Passei o recreio apavorado. Já estava subindo pra sala de aula, quando aquele que iria me encher de porradas se aproximou e, clemente, disse: “Dessa vez passa, mas na próxima...”
Eu aceitaria, jubiloso, os termos do cagão, mas os amigos interferiram: “Sem essa, depois da aula vocês vão resolver a parada, né, gordo?”. É, né.
A luta foi breve. Um começo de estudos: um ia pra lá, o outro vinha pra cá. Mantínhamos uma boa distância entre nós. Generoso, alertei meu desafeto sobre o perigo de ele ser atropelado. “Cuidado, você está no meio da rua.” Ó hipocrisia, queria era que um ônibus o esmagasse.
O poltrão, aproveitando-se de minha distração, investiu contra mim. Já ia me cagar quando o bundão tropeçou e caiu de costas no chão. Entendi que já tinha esgotado minha cota de generosidade e lancei-me, junto com meus 90kg, sobre as costas do parvo. Se quisesse poderia tê-lo sodomizado, mas nunca fui chegado a rosquinha masculina. Bati até os amigos nos separarem e me carregarem em triunfo.
A minha segunda pugna também foi acertada pelos amigos. O adversário era tão medroso quanto eu. Depois da aula, enquanto a turba, ávida de sangue, esperava por nós, escondemo-nos em uma sala e esperamos. Quando todos foram embora, saímos, atravessamos a rua e chupamos um chicabom na carrocinha que ficava em frente ao colégio.
Daquele dia até hoje, nunca mais ninguém me fez brigar.

sexta-feira, julho 27, 2007

PAN

É antipático, mas estou cagando pra quantas medalhas o Brasil vai ganhar no final do Pan.
O evento é interessante e dá pra perceber que se a imprensa não fosse tão preguiçosa boas histórias poderiam ser contadas, e não só de brasileiros.
Até domingo verei uma competição ou outra.
Não, vôlei masculino nem pensar.

terça-feira, julho 24, 2007

Inferno

- Tenho de comprar um analgésico pra minha mulher. Não sei qual, ela está grávida.
- É perigoso, mesmo. A minha, quando ficou esperando o Júnior, acho que só tomava Tylenol.
- Redoxon, será que faz mal?
- Vou ligar pra casa e perguntar a Solange.
******************
- Solange, na sua gravidez você podia tomar Redoxon?
- ...
- Hein!?!! Não, é a mulher do Fábio que tá grávida, e gripada...
- ...
- Você não conhece o Fábio. É um freguês aqui da banca.
- ...
- Mentira!?! Que mentira, Solange!
- ...
- Não engravidei ninguém...
- ...
- Mulher na rua, o cacete! Vou desligar.
- ...
- Você é louca.
******************
- Cara, me desculpe, minha mulher é muito ciumenta.
- Acabei te arranjando problema.
- O problema quem arrumou fui eu, quando me casei com ela. Mas não sei viver fora desse inferno.

Meninas

Comprei, de uma tacada, os cds da Bjork, Regina Spektor, Feist, Macy Gray e Dolores O’Riordan. Ouvi Volta, de Bjork, e desisti de voltar a ouvi-lo, pelo menos por enquanto. Não compro mais disco de minha ex-deusa. No cedepleier só os antigos da esquimó. O anterior dela, Medusa, já tinha achado uma merda incompreensível. Volta comprei por causa de algumas resenhas que li dizendo estar Bjork mais pop. Pode ser, mas o nível ainda está elevado para mim. Feist achei legal. A comparação com Cat Power não procede. Gostei do cd. Estou ouvindo com atenção. Macy Gray e Dolores O’Riordan, encostarei. O começo de Dolores é enganador. Parece que vai. Não vai. No futuro, volto a elas. Regina Spektor, ufa!, é uma redenção. Cedezinho bacana. Músicas que temos vontade de ouvir de novo e voz gostosa que faz com que pensemos que o mundo não é tão ruim assim.

Desafogo

Levantei-me no escuro.
Caminhei, às apalpadelas, até o banheiro.
Olhos abertos, não via o vaso sanitário.
Abaixei-me e com as mãos senti a tábua.
Levantei-a.
Não conseguia vê-la.
Mijei. Mijei tudo o que tinha pra mijar.
Acordei, puto, num lago de água quente.

segunda-feira, julho 16, 2007

Correios, essa merda

Encomendei em loja de São Paulo, como faço quinzenalmente há alguns anos, alguns CDs.
O envio foi feito por SEDEX, o preço cobrado o do SEDEX, mas a encomenda não chegou a minha casa sob a alegação de que a região onde moro é área de risco.
Gostaria de saber da empresa que monopoliza os serviços de entrega no país, o que não é área de risco no Rio de Janeiro? Se os Correios consideram a cidade do Rio de Janeiro perigosa para que seus delicados funcionários possam exercer sua profissão, é melhor passar o serviço a quem tenha interesse e competência para exercê-lo.
Sairei amanhã de casa e embarcarei em um ônibus para pegar a encomenda numa segura agência dos Correios. Lá serei atendido por trêmulos funcionários, assustadíssimos por que tiveram de sair dos condomínios onde moram, fortemente protegidos, para "trabalhar" nas agências espalhadas por essa terrível cidade. Talvez as agências dos Correios tenham heliponto e os funcionários cheguem para "trabalhar" pelos ares.
Não conheço ninguém que envie cartas (só cobradores). Agora, os Correios se recusam a entregar encomendas. Pergunto: para que servem os Correios. Sim, para dar empregos a parentes de políticos no poder.
Outra dúvida: se o pessoal não vai mais à rua por medo, por que não dispensar esse excedente e ficar só com os funcionários internos? Sobrarão mais computadores pra turma jogar paciência.
As agências deveriam trabalhar de portas fechadas e não permitirem a entrada de estranhos. Sei lá, o estranho pode estar mal-intencionado.
Os Correios são mais um exemplo da ineficiência do Estado. Tudo, TUDO que tem o Estado por trás funciona mal. E, muitas vezes, somos obrigados a usar alguns serviços que esses merdas monopolizam.
Que merda o Brasil ter vencido.

sexta-feira, julho 06, 2007

Pequena flor

- O senhor se importa de eu me sentar a seu lado?
- De jeito nenhum.
- É que o cinema está vazio... O senhor pode pensar que sou um homossexual querendo abordá-lo.
- Se você me abordasse, diria, de forma gentil, que sou hétero e lamentava não poder corresponder a seu gesto de carinho. Ressaltaria que tinha ficado lisonjeado com sua escolha, mas que por ter sofrido educação muito rígida não conseguiria me relacionar sexualmente com um outro homem. Diria, também, que até terapia faço para, quem sabe, expandir meus horizontes.
- Mas, meu senhor, também sou heterossexual. Só pedi para sentar ao seu lado por causa da localização.
- Um dia, eu e você nos livraremos desses grilhões.
- Senhor, acho que vou me sentar em outro lugar.
- O que disse incomodou-o, certo? Temos tanta certeza de tudo. Uma pequena incerteza nos desestabiliza.
- Sou heterossexual, casado. Amo minha mulher.
- Mas quis sentar-se ao meu lado. Sentiu-se inseguro. Buscou em mim, refúgio. Quando as luzes se apagassem, talvez você vencesse a hesitação e...
- Por favor, vou sair daqui.
- Vá, mas não fugirá para sempre. Pequena flor, seu destino está traçado.

Que sorte, Bush não nasceu em Inhaúma


Vi, há algumas semanas, Dixie Chicks: shut up and sing. A preguiça, que amo e odeio, me impediu de postar algo antes. O que vi foi um ótimo documentário de Bárbara Kopple.
Natalie Maines, voz principal das Dixie, no começo da guerra no Iraque, em concerto em Londres, disse se envergonhar de ter nascido no Texas de George Bush.
A turma da Bushland caiu de pau. Bush-filho, na ocasião, tinha grande apoio dos americanos. As moças, por isso, foram chamadas de antipatriotas, vadias, vendidas e outras coisinhas mais. Grupo country que vendia enormidade, as Dixie foram boicotadas nas rádios sertanejas de lá. O sertanejo é um forte, mas também costuma ser muito reacionário.
O documentário mostra as Dixie Chicks em plena crise. São acompanhadas na intimidade, em bastidores de shows, nos palcos.
A elaboração de Taking the long way, discaço que ganharia cinco Grammys, também é mostrada, mas, principalmente, Bárbara Kopple detém-se na perplexidade das Dixie. O grupo tinha um público fiel, vendia disco de montão e, de repente, uma declaração impulsiva levou-as a um turbilhão.
O tempo mostrou que Natalie Maines estava certa, mesmo que involuntariamente. Hoje, odiar George Bush é mania mundial. Ainda bem que ele não nasceu em Inhaúma.

terça-feira, junho 12, 2007

O bom samaritano

- Sr. Orestes?
- Sim.
- Doutor Penafiel, tudo bem?
- Doutor, o senhor que eu trouxe...
- Sr. Orestes, infelizmente, ele morreu.
- Mas ele chegou aqui, aparentemente, bem.
- A polícia está chegando. Vão fazer algumas perguntas ao senhor.
- Doutor, eu expliquei na recepção. Sou motorista de ônibus. Vi esse senhor caído em um ponto. Parei, perguntei se ele estava bem. Percebi que não estava e convenci-o a vir até aqui.
- O senhor tem alguma testemunha?
- Havia algumas pessoas no ponto. Quem estava no ônibus, uma meia dúzia de gatos pingados, desceu e não quis me acompanhar.
- Sr. Orestes, sua história está esquisita. O falecido não caiu dentro do ônibus?
- Não, eu peguei o velho na rua.
- Ninguém faz isso.
- Eu fiz.
- Bom, acho que o senhor vai pagar caro por isso. Olha, a polícia está chegando.

sexta-feira, junho 08, 2007

Acabou

Ana Ivanovic esmigalhou Sharapova.
Ela é linda, joga muito, mas o Roland Garros pra mim acabou.

Aviso

Lula à Folha sobre a atitude de Chávez: "Eu acho que o mesmo Estado que oferece uma concessão, pode cassá-la".
Depois ninguém diga que se surpreendeu.
Como eu digo, hoje.
Afinal, acreditei nesse pilantra.

segunda-feira, junho 04, 2007

ZOÉ

Eu e Hernani gostávamos de Zoé.
Nunca brigamos por causa disso. Não tínhamos chance alguma com ela, então, por que brigar?
Zoé era uma graça. Cabelos pretos, olhos azuis, nariz atrevido.
Namorava um truculento e morava na Tijuca. Eram seus defeitos.
Hernani e eu andávamos do Grajaú à Tijuca para ficar de campana num boteco em frente ao prédio em que Zoé morava, na Conde de Bonfim. Sentávamos numa mesa do pé-sujo, pedíamos umas cocas e vigiávamos para ver se ela apareceria do outro lado da rua. Nunca apareceu.
Se aparecesse, nos esconderíamos.
Em sala de aula, sentávamos em ordem alfabética. Zoé, na minha frente; Sandra, sua irmã, atrás de mim. O grande momento de meu dia era quando ela se virava para me perguntar qualquer bobagem.
Graças a essa organização alfabética caí num grupo de trabalho de Zoé. Hernani ficou meio queimado, mas...
Na casa do objeto de nossa paixão, fiquei tão nervoso que devorei uma bandeja de salgadinhos.
Lembro-me disso e de ter levado uns cascudos dentro do elevador. Um bando de tijucanos degenerados os aplicou. Tenho impressão que o ódio que devoto à Tijuca nasceu aí.
Eu e Hernani fomos grandes amigos, em grande parte, por causa de Zoé.
Falávamos o tempo inteiro sobre ela.
Sonhávamos com ela.
É bom ter alguém com quem dividir um sonho.

domingo, junho 03, 2007

Sharapova, o dragão e 22 cabeças-de-bagre

Que celulite!
Tarde de domingo, chuva, frio...
Na ESPN Brasil, Maria Sharapova e um dragão duelavam.
Eu, magnetizado, procuro as celulites da deusa.
Jogo duro, quebra de serviço de um lado e de outro. Sharapova, linda, lutava, gemia, me enlouquecia.
O locutor da ESPN Brasil, a todo momento, anunciava que logo após o embate entre bela e mocréia seria transmitida a sensacional partida protagonizada pelos poderosos escretes de Peru e Equador, diretamente de Madri. Jogo que eu não poderia deixar de perder.
Sharapova, como São Jorge, continuava sua peleja contra o dragão.
O futebol, vá lá, começou.
De vez em quando, minha visão da bela era atrapalhada pelo quadradinho no cantinho da tela com imagens da pelada madrilenha.
Se ainda fosse a pelada russa.
O duelo não acaba e o louco locutor nos manda passar pro ESPN Internacional. Sharapova continuaria jogando por lá. Ali seria exibido o jogão para turistas peruanos e equatorianos em visita a Corruptolândia.
Corri para ver Sharapova no outro canal. Vi dois palhaços de raquete na mão.
Emputeci-me e zapeei.
Quando passei pela ESPN Brasil de novo, vi o final do jogo de Sharapova.
A emissora interrompera o jogo da divina para transmitir 10 minutos do final do primeiro tempo do inebriante futebol de várzea jogado por nossos vizinhos de continente.
Nesse intervalo de tempo, Sharapova cravou a lança no coração do dragão.

quinta-feira, maio 31, 2007

Muito bom

Um amigo, depois de ler texto que escrevi, fez um reparo: "Por que muito bom e não ótimo?"
Expliquei. Por dois motivos: muito bom, pra mim, é mais do que ótimo. E, principalmente, não gosto da palavra ótimo.
Minha mãe, na fase espírita de sua vida, dizia sobre determinadas pessoas que mal conhecia e já não gostava. “Meu anjo da guarda não cruzou com o dessa mulher”. O problema era criado pelos anjos da guarda que, muito sensíveis, não simpatizavam com qualquer um.
Eu e as palavras temos relação semelhante. De algumas eu não gosto mesmo. Jamais direi que algo me impactou, prefiro escrever mais, dar bandeira de velho e afirmar que o novo disco da Bjork me causou impacto.
Então, sempre que alguma coisa em minha vida for muito boa, será muito boa . Nunca, ótima.

quarta-feira, maio 30, 2007

CALDO

Moleque, à tarde, freqüentava a piscina da Associação Atlética Vila Isabel.
Morava há pouco tempo na Vila, sentia saudades do Grajaú, mas a água... No Grajaú, me banhava no Country. Não ia todo dia. Tinha de andar muito e a preguiça sempre foi minha sombra.
Na Vila, não. Morava no final da 28 e o clube era no meio da Avenida. O banho era diário.
Por um tempo, ir à piscina era programa prazeroso. Solzão, água fresca, coca cola, batata frita e o papo com os iguais. Muito bom!
Dezembro chegou, vieram as férias e os babacas: rapazes e moças mais velhos do que nós, os iguais.
Os babacas-macho, para impressionar as fêmeas babacas, se mostravam dando caldos em nós: menores, mais fracos e ainda sem interesse em impressionar ninguém.
Quando os babacas exageravam nos caldos, os guarda-piscinas (na verdade, babacas investidos de autoridade) desviavam os olhos das bundas das meninas e chamavam a atenção dos caras. Mas era raro isso acontecer. Como nunca fui muito chegado a ser torturado, abandonei as águas.
Minha vizinha de porta era uma priminha linda. Morenaça, uns dois anos mais velha do que eu, altona, passava por uma jovem recém-saída da adolescência. Sempre íamos às Casas da Banha a mando de nossas mães. Eu via, então, o efeito que Bete causava. Pescoços machos quase se quebravam ao vê-la passar.
Um dia Bete me mostrou sua carteira de nova sócia da AAVI. Sua mãe deixaria que ela fosse à piscina se eu a acompanhasse. Relutei, tentei escapar, mas acabei indo. Claro que não contei nada a ela sobre os babacas.
Pode ter sido imaginação, mas tive a impressão de perceber um frêmito de excitação nos babacas ao me verem chegando.
Bete ainda estava no chuveirinho e eu já dentro dágua, pronto para o suplício. Os babacas se jogaram na piscina e nadaram em minha direção. Quando me cercaram, Bete já estava do meu lado. O babaca-alfa se aproximou para afundar minha resignada cabeça. Bete protestou:
- Você não vai fazer isso com meu primo.
O alfa examinou a morena e,
- Seu primo?
- É, meu primo.
Ganhei, ali, salvo-conduto para tomar meus banhos de piscina sem ser aporrinhado.
O babaca-alfa e minha prima namoraram um tempo até que a mãe dela, titia, descobrisse que eu não era um guarda-cabaço confiável.
Ela nunca mais deixou Bete ir à piscina comigo e eu, já ficando esperto, abandonei a água doce e dediquei-me ao mar, antes que o alfa voltasse sua ira contra mim.

sexta-feira, maio 18, 2007

A vida real, essas coisas

Essa eu gostaria de ter escrito, mas, infelizmente, a vida real me superou.
O texto foi retirado de reportagem do Jornal da Globo. O golpe é o do falso seqüestro, aplicado de dentro do presídio.

– Alô senhora? (...) Eu quero uma quantia de 20 mil pra soltar ele daqui.
– Ai meu Deus, aonde eu vou arranjar isso? Nem trabalho eu não tenho.
– Quem tá com a senhora aí?
– Eu tô dentro de uma igreja.
– A senhora tá dentro da igreja?
– Tô, dentro da igreja. Eu limpo a igreja pra igreja.
– A senhora é cristã?
– Sou cristã.
– Olha só, a senhora me desculpa, tá? O que eu fiz com a senhora foi só um trote, tá bom?
– “Ahãm”.
– Senhora, a senhora tá escutando o que eu tô falando? Isso é um meio de eu arrumar dinheiro. Dar trote nas pessoas, tá bom?
– “Ahãm”. Cadê meu filho?
– O seu filho não tá aqui comigo não. Foi meu comparsa que entrou chorando e a senhora pensou que foi seu filho. A senhora no começo falou o nome dele. Falou Júlio e depois falou Bruno, não falou?
– Falei.
– Então, foi onde eu entrei dizendo que eu era seu filho. Que o seu filho tava aqui. Tá bom?
– Tá bom (chorando). – A senhora vai orar por mim? Hein, senhora?
– Vou.
– Tá, fica com Deus.
– Obrigada.

quarta-feira, maio 16, 2007

Fome de saber

- Tá lendo o Expresso, agora?
- Hoje, tô. Junto com o jornal veio um pacote de Bauducco.
- O Meia Hora, ontem, deu um sanduba de mortadela.
- Tô sabendo. Quando cheguei na banca tinha acabado.
- Acho legais essas promoções. Incentivam o povo a ler.
- É... O jornaleiro me deu um toque que amanhã, com o Extra, tem pão e queijo mais café com leite.

Discaço

Neon Bible, do Arcade Fire, é um grande disco.
Havia expectativa quanto a esse segundo trabalho do grupo.
Funeral, o disco de estréia, é perfeito.
A banda, no entanto, lidou bem com a pressão.
Estão em Neon Bible muitas das qualidades de Funeral (inventividade, melodias primorosas, arranjos originais, tesão), mas o disco não é cópia do primeiro.
Mesmo a besteirada de gravar dentro de igreja para alcançar um som melhor pode-se descontar da inexperiência do grupo.
Temos de considerar, também, que, infelizmente, há necessidade de se produzir notícias para um tipo de imprensa e público que adoram essas babaquices.
Mas, Neon Bible é um discaço.
O Arcade Fire já cumpriu sua missão no volátil mundo do rock.

quarta-feira, maio 09, 2007

Cesar Maia tem seguidores

Está lá na Época OnLine.
As coisas estão ficando esquisitas, muito esquisitas.

Esqueça São Pedro
Prefeitura de São Paulo pede que médium controle o tempo para a chegada do papa

O clima não será dos melhores para receber o papa Bento XVI. Os meteorologistas prevêem frio e pancadas de chuva. Para evitar o caos na cidade, a prefeitura de São Paulo decidiu usar um método pouco ortodoxo: vai usar o poder da médium Adelaide Scritori, presidente da Fundação Cacique Cobra Coral (FCCC), para elevar a temperatura e “limpar” o céu. Isso mesmo. O pedido marca o início de uma parceria assinada com a instituição, mantida por uma seguradora que lhe destina anualmente 20% de seu faturamento. “É o que nos permite assessorar o governo sem cobrar pelo serviço”, diz Osmar Santos, assessor da FCCC. Para ajudar São Paulo a receber o papa, a médium da FCCC teria elevado a pressão atmosférica na Argentina a fim de antecipar a chegada da frente fria à capital paulista de quarta-feira (9/5) para terça (8/5). Com isso a temperatura cairia em 10º C no sudeste antes da chegada de uma massa de ar polar que afugentaria as nuvens do céu da cidade.

Clique na imagem pra ler o ofício da "autoridade":


quarta-feira, abril 25, 2007

Humanidade

Depois de muita reflexão e pesquisa, concluí que a humanidade se divide em três grandes grupos. Descrevo, a seguir, o comportamento dos representantes desses grupos.
Diante do alarido que acompanha a cópula de dois gatos saudáveis, o representante do primeiro grupo vira-se na cama e pensa, antes de voltar a dormir: “Uau, é o mundo seguindo seu curso”.
O do segundo se dá ao trabalho de levantar-se da cama e jogar um balde d'água em cima dos devassos. “Eu não fodo, ninguém fode”.
O último representante vê onde os gatos trepam e, no local, põe comida envenenada, esperançoso que ali, na noite seguinte, extenuados com a orgia sexual, os felinos façam ali sua última refeição. “O prazer dos outros me irrita profundamente”.
Às vezes, me dá vontade de jogar água nos gatos, mas quase sempre me viro pro outro lado e durmo.
O dia que eu preparar comida envenenada, espero ter coragem para eu mesmo comê-la.

sábado, abril 14, 2007

A melhor banda do mundo

Se me perguntassem qual o melhor grupo de rock de todos os tempos, não saberia responder. A cada época da vida, gostava mais de um determinado grupo ou cantor.
Já foram os melhores: Beatles, Yes, Genesis, Neil Young, David Bowie, Clash, Lou Reed, Who, Queen, Jesus and Mary Chains etc etc. Juntamente com esses, sempre ouvi muitos outros.
Lendo um post no blog de meu ex-chefe, o KreK, recordei-me de um hábito que em minha adolescência era normal, o de nos reunirmos para ouvir e discutir as novidades musicais. Tínhamos nossos grupos favoritos e os defendíamos com vigor.
Qual meu grupo favorito, hoje? Para responder a essa pergunta, olhei meus milhares de cds e vinis, consultei-os e eles quedaram-se em silêncio. Mas minha amiga TV socorreu-me. De lá saiu o som do The Flaming Lips, que se apresentava no programa de Jools Holland e nenhuma dúvida mais ensombreceu meu hesitante coraçãozinho. O The Flaming Lips é minha banda do momento.
Conheci-os tardiamente. Há dois anos. Tenho apenas três cds do grupo. Todos geniais. Minha dureza crônica me impediu de vê-los em show aqui no Rio e também me impede de comprar seus discos importados, mas o FL tem a alucinação necessária a um bom grupo de rock.
Perto deles chega o Arcade Fire. O primeiro cd do AF é obra-prima. Néon Bible, o segundo, está vindo para mim por Sedex, da Velvet. Se for tão bom quanto Funeral, terei um novo melhor grupo de rock do mundo para anunciar.

Exagero

Francês é mesmo esbanjador.
Manual pra turista escrito na terra do cê-cê recomenda que o cidadão da pátria do biquinho, ao andar por cidades brasileiras, traga no bolso 50 pratas para o ladrão.
Exagero. No Rio, meliantes, com ou sem farda, ficam exultantes com qualquer dezinho.

Valor

- Juquinha, acabou. Não dá mais.
- Por quê? Íamos tão bem.
- Você é um amor, mas não agrega valor.
- Claro que agrego.
- Fofo, carinhoso, atencioso, mas...
- Magali, a acusação que você me fez...
- Você não é feio, mas não é lindo; financeiramente, indefinido; intelectualmente, medíocre.
- Amor, você não terminou o médio. Pra mim você é linda, mas só pra mim.
- Juquinha, te amo, mas, daqui pra frente, só namoro quem me agregar valor.

quarta-feira, abril 11, 2007

Besta política

Sou uma besta política.
Por duas razões: não faço e não entendo política.
Bush enviou suas marionetes para o Iraque por duas razões principais: as armas químicas que Saddam escondia e a amizade que unia o perverso ditador a essa onírica figura chamada Bin Laden.
Há algum tempo sabe-se que não havia arma química alguma no Iraque. Agora, descobre-se que Saddam e Bin Laden nunca fizeram nem meinha.
Mais pra frente talvez saibamos que Saddam foi punido por causa de seu bocão (com curdos massacrados nunca alguém se importou).
O que nunca descobriremos é por que Bush atacou o Iraque.
Minha explicação é singela.
Bush é um jumento.
Saddam o provocou ele foi pra briga.
Ou melhor, mandou as marionetes brigarem por ele.

quinta-feira, abril 05, 2007

40

Paraíso Tropical, a novela, não vai bem.
As 40 donas-de-casa paulistanas foram convocadas para analisar o drama e dar a ele novos rumos.
Diagnóstico das notáveis: sexo animal é condenável; escroques são adoráveis e devem ter mais espaço na trama; gente muito ética é chata.
Lula gostou e mandou chamar as 40 paulistanas para conversar com seus 40 todos-nós-sabemos-o-quê.

domingo, abril 01, 2007

Piteuzinho

A grande maioria de minhas musas está no passado, mas aprecio belezas pós-modernas.
Varapaus, não. Beleza muito óbvia, também não.
Beleza com atitude, seja lá o que isso for, é o que importa.
Lilly Allen é isso aí.
Uma gracinha de menina com um disco delicioso gravado: Alright, still.
Seu primeiro e único trabalho me pegou pela despretensão.
Ela me lembra Betty Boo, outra graçola que eu adorava ouvir e ver.

quarta-feira, março 28, 2007

Coisa bonita de se ver - Ava Gardner

Sou passadista em termos de mulheres.
As mais belas que vi tinham o dobro de minha idade.
Greta Garbo, Audrey Hepburn, Grace Kelly, Sophia Loren, Claudia Cardinale, Tonia Carrero, Ingrid Bergman, Kim Novak, Lauren Bacall, Marlene Dietrich e muitas outras.
Ava Gardner era deslumbrante, mas está aí porque a vi em Mogambo, por esses dias.
No filme também está Grace Kelly. Linda. Mas não é páreo para Ava Gardner.

Carlos

Carlos era casado, sem filhos. Marivone, sua mulher, uma mulata bonita, o amava sinceramente. Pelo menos se casaram por amor. As dificuldades e a vida fizeram o casamento começar a desmoronar.
Carlos nunca se achou merecedor de Marivone. Seu irmão não cansava de lhe dizer:
- A caçamba de seu caminhão é pequena para tanta areia.
Ele também achava isso.
Ciumento sempre fora. Tinha medo de perder Marivone. Achou que se casando com ela a prenderia.
O casamento saiu. Foram morar numa casinha modesta, num bairro distante. Seu irmão foi o padrinho da cerimônia:
- Rapaz, não é que você conseguiu.
Para sustentar o casamento feito às pressas, sem planejamento, Carlos trabalhava muito. O primeiro ano de vida em comum foi uma maravilha. Carlos e Marivone viviam no céu. Apertados financeiramente, mas felizes. Aos domingos ou ia para casa da mãe ou da sogra.
Seu irmão prosperara. Carro do ano, roupas de grife, muito dinheiro: do tráfico.
A mãe fingia não saber. Os irmãos, também. Marivone admirava o progresso do cunhado e nas poucas discussões que tinham, sempre por falta de dinheiro, dizia:
- Por que você não conversa com seu irmão? Ele pode te dar uns toques de como ganhar dinheiro.
Ele sabia como o irmão ganhava dinheiro. Jamais contou para Marivone. Tinha vergonha.
As discussões entre ele e Marivone, antes raras, passaram a ser constantes. Sempre dinheiro.
No final, Marivone o feria:
- Seu irmão está de carro novo, reformou a casa toda.
Parou de visitar a família. Arranjou, para complementar a renda, um serviço de segurança. Trabalhava dia sim, dia não. Quando estava em casa era um bagaço, só queria dormir. O irmão o visitava, de vez em quando.
- Você não aparece mais. Mamãe está com saudades.
Uma noite, trocou o turno com o colega. Esqueceu da troca e foi trabalhar. No trabalho, riu com o amigo, da bobeira.
- Tô de cabeça cheia, esqueci de nossa troca.
Voltou pra casa. Na sua cama, o irmão e Marivone. Ainda ouviu o mano, rindo, falar no ouvido de Marivone:
- Você é muita areia pro caminhão do meu irmãozinho.
Deu meia-volta, foi até o bar do Careca, bebeu até não poder mais. Saiu do bar trocando pernas. Viu-se sem forças. Jogou-se embaixo de um carro.
Antes de morrer, pensou no trabalho que daria para o motorista.

AMARELINHA

A administração do conjunto habitacional em que moro deu uma ajeitada no playground. Brinquedos reformados, escorregador novo, painel com personagens de quadrinhos... Ficou bonito e a criançada adorou. A maior atração, no entanto, é um jogo de amarelinha, pintado no chão com capricho.
Às vezes, passo por lá e vejo uma fila enorme de crianças esperando a vez para jogar amarelinha. A garotada comporta-se como se estivesse em um shopping, aguardando sua hora de brincar.
Estou velho, casmurro, mas não posso deixar de pensar no meu tempo de garoto. Desenhávamos no chão, com giz, nossa amarelinha. Fazíamos garrafão, caracol e qualquer outra coisa que fosse necessária para nos esbaldar.
Não sou saudosista, nem preso ao passado, mas acho que a garotada de hoje só leva vantagem em relação à que foi criança há uns 40 anos, na sacanagem.
Aí, tenho de admitir: éramos uns babacas.

segunda-feira, março 19, 2007

Bicho burro

– Ulisses, de Joyce?
– Isso.
– Rapaz, você só lê tijolo.
– Leitura tem de ser desafiadora.
– Noutro dia era D. Quixote.
– É verdade. Intelectual, sacumé.
– Cara, por que esse amor repentino por literatura?
– Geraldinho, querido, isso aqui não é livro.
– Pô, tô vendo o livro na sua mão.
– Chapinha, já fui assaltado aqui na área um porrilhão de vezes. Já me levaram carteira, celular, relógio... Na última vez, me levaram tudo, menos o livro que carregava. Aí, surgiu a grande idéia: o livro-carteira. Dentro desses livros grossos e ocos carrego meus cartões, dinheiro, documentos, sem temer a bandidagem que, antes de qualquer coisa, é profundamente estúpida.
– Grande sacada.
– Nunca mais fui assaltado. Tenho esse Ulisses, o D. Quixote, um Grande Sertão: Veredas e Os Sertões.
– É só cavucar um livro grosso e andar por aí, tranqüilamente?
– Não é bem assim. Bíblia, não dá. Tem muito ladrão crente. Livro de auto-ajuda, nem pensar. Como já disse: ladrão é bicho burro. Adora ler merda.

quarta-feira, março 14, 2007

Vira-lata

Explicações. Uma das coisas boas de meus dias atuais é que não tenho de explicar nada. Saudades, também não tenho. Algumas lembranças de uns poucos bons momentos em família: mulher, filhos, cachorro... Mas a maior parte do tempo, minha vida anterior era só aporrinhação. Trabalho o dia inteiro, trabalho duro, pesado. Dormia cedo, na hora do jornal das oito já começava a dar cabeçadas. A voz grave do apresentador do jornal era meu acalanto. Antes de amanhecer já estava encarando o trem lotado. Todos os dias as mesmas sacanagens. Jogávamos pedra no pessoal na rua, fazíamos rodinha de carteado, tirávamos sarro da mulherada incauta. Era a melhor parte do meu dia. Minha vida era uma merda.
Explicações. Naqueles tempos teria de explicar o que me aconteceu. Hoje não. Só digo que uma manhã acordei e era um cachorro. Amarelo, cotó, grande, vira-lata. Daquele dia pra cá nunca mais vi meus familiares e, se depender de mim, jamais os verei novamente.

Cliente Cachorro

A nova coqueluche da “literatura” corporativa é Cliente cachorro. Os autores do livro, Daniel O’Shelly e Mary Severin, preconizam que o cliente precisa ser tratado como cachorro. “Tratado assim”, declara Severin, “num primeiro momento ele reage até com alguma agressividade, depois volta com o rabo entre as pernas”. O’Shelly completa o pensamento de Severin: “Normalmente, o cliente nem reage. Ele gosta de ser tratado como cachorro”.
Grandes empresas no Brasil compraram o livro e distribuíram entre seus funcionários que lidam diretamente com o público. A OI, o jornal Estado de S. Paulo, a TVA e a Embratel estão adotando o livro com sucesso retumbante.
“Um cliente telefonou reclamando do nosso telefone, o Livre. Não esperei nem que ele terminasse de falar e disse que se não estivesse satisfeito com nosso serviço que procurasse outra operadora. Ele até me pediu desculpas”, contou uma feliz funcionária da Embratel e leitora entusiasmada de Cliente cachorro.
Sebastião Civitta informou-nos que a adoção dos princípios de Cliente cachorro talvez seja a salvação da TVA, que chafurda no buraco há muito tempo. “Estamos pensando, inclusive, em mudar a forma de nossas funcionárias atenderem o telefone. Em vez de ‘TVA, fulana de tal, em que podemos ajudar?” usaríamos ‘O que você quer, porra’. É mais objetivo e põe o cliente em seu devido lugar”.
Da mesma forma que O monge e o executivo, Cliente cachorro não agradou tanto lá fora. "Tivemos sucesso mediano em alguns países, mas o estouro de vendas foi Brasil e Argentina", informou O'Shelly.

sexta-feira, março 09, 2007

Homofobia

Faz sucesso na mídia o pastor Marcos Gladstone.
Gay assumidíssimo, lidera uma igreja para homossexuais no Centro do Rio de Janeiro, a Comunidade Metropolitana. Para o sítio “NoMínimo”, Gladstone declarou: “As igrejas não podem ser trincheiras da homofobia, pois Deus é amor, não discriminação”.
Está certo.

Por causa dessa notinha publicada na revista Soma, há um babaca que de vez em quando enche meu saco. O cara tem horror a homossexuais e gostaria que eu pensasse e agisse como ele. Não dá.
Gente como esse idiota me fez deixar de acreditar em algo que em minha época de inocência cria: que uma boa conversa resolvia qualquer parada. Não resolve.
Hoje, aos 53 anos, quando alguém pensa diferente de mim, mudo de assunto.

Hienas

“Tenho 17 anos, três filhos que dei e este que está na minha barriga vou dar também. Vivo na rua desde os 11 anos e não quero ir pra casa de jeito nenhum. Aqui é legal.”
Voz rouca de catarro, feia como a miséria, perversamente inocente, a menina conversava com a senhora, antes de levar-lhe o relógio.
Uma dezena de outras crianças, como as hienas, escolhiam na manada os animais mais fracos para atacar.
Andar de 629 é tarefa de destemidos.

Agualusa

José Eduardo Agualusa, angolano de Huambo, é grande escritor, mesmo sendo elogiado por Caetano Veloso. A despeito de Caetano, levem Agualusa a sério.
“Negro e pobre são condições que se confundem no Brasil. Não se criou aqui, como em Angola, uma elite negra”, diz com propriedade para “Época” (13/9/2004).
Outros exemplos da lucidez de Agualusa:
Sobre literatura: “Não há personagem de autor português que não se suicide no final. Os portugueses parecem alguns autores paulistas atuais, soturnos e pessimistas”.
Sobre Lobo Antunes: “O maior escritor lusitano da atualidade chama-se António Lobo Antunes. Ele é difícil em sua linguagem cheia de metáforas, é mesmo exagerado e sombrio, mas, no meio de extensas zonas de sombra, encontram-se golpes luminosos. Só que há poucos portugueses com humor depois de Eça de Queirós”.
Sobre José Saramago: “Ele pode ser um grande escritor. Memorial do Convento é um excelente romance. Mas não gosto dele. Saramago cultiva o niilismo. É um pessimista que não acredita na vida e seus livros são contaminados pelo desencanto. É difícil escrever quando se descrê completamente da vida. Um grande romance deve ser feito com raciocínio, mas também com paixão, as vísceras e o coração”.
Corra a uma boa livraria, compre um livro do homem e deleite-se.

O bom homem

Na fila de táxis do NorteShopping, três homens. Um deles paraplégico.
– A cadeira é muito grande, não cabe no porta-malas do carro – explicou o taxista cheio de má-vontade.
Em outro táxi, o motorista, um senhor de idade, experiente e bondoso, se ofereceu para levar o grupo.
– Vamos dar um jeito de pôr a cadeira de rodas no banco de trás. Vocês dois se apertam. Ele, por causa da limitação dos movimentos, viaja na frente.
O senhor paraplégico, quase da mesma idade do veterano motorista, agradeceu.
– Muito obrigado. Deus lhe pague. Sempre se pode fazer algo por alguém quando há boa vontade.
Uma hora depois o velho taxista estava de volta ao ponto. Cercado pelos colegas, era alvo de impiedosas gozações. Não é todo dia que se é assaltado por um paraplégico.

Cheio de razão

“Dentro da mesma religião haverá mais grupos distintos, com idéias e comportamentos diferentes uns dos outros, principalmente no catolicismo e no protestantismo. Aumentará a competição entre as religiões e os grupos lançarão campanhas de marketing para conquistar fiéis. Nós já vemos um pouco disso hoje, mas com certeza será mais freqüente no futuro”. Alvin Toffler (autor de Choque do futuro e Terceira onda), à revista Veja, de 15 de outubro de 2003.

Papo de surdo e mudo

– O sr. Utahy Caetano dos Santos Filho, por favor.
– É ele...
– Sr. Utahy, aqui é do Carrefour. Constatamos que o senhor está com uma fatura em aberto há mais de 15 dias.
– Senhor, vou estar passando sua ligação para nosso Departamento de Dívidas com mais de 15 Dias em Atraso.
– O quê!?!
– Boa tarde, Departamento de Dívidas com mais de 15 Dias em Atraso. Em que podemos ajudar?
– Não acho, sr. Utahy, que esta seja uma hora apropriada para brincadeiras...
– Por favor, o senhor vai estar dizendo o que deseja?
– O senhor está com seu carnê em atraso há mais de 15 dias. O Carrefour tomará providências.
– O senhor disse Carrefour? Carrefour é supermercado. Aqui é o setor de Dívidas Bancárias. Senhor, aguarde na linha. Vou estar passando a ligação para o Departamento de Dívidas com mais de 15 Dias em Atraso, em nível de supermercado.

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

PANDA AZUL

Pardais e ratos de Inhaúma estão em festa.
Panda Azul foi assassinado.
Minha sogra escolheu o nome.
Do gato, claro. Panda Azul era um gato.
Matava três a quatro pardais por dia.
À noite, detonava ratos.
Matava com requinte de crueldade.
Exasperava, torturava, levava pássaros e roedores à loucura e os deixava para que morressem lentamente.
Em sua curta vida reduziu consideravelmente a população desses dois animais inúteis: ratos e pardais.
Pena que Panda não era chegado a baratas e pombos.
Inhaúma chora.
Pardais e ratos rejubilam-se.
Eu estou triste.
Não verei mais Panda pegar pardais no ar, trazê-los ao chão e matá-los rindo.

sábado, fevereiro 10, 2007

Novo homem

– Geraldo, bonito carro.
– Carlinhos, querido, como vai?
– Bem. Gostei do adesivo: “Eu amo minha esposa”.
– É uma homenagem que presto a Vera, ao mesmo tempo mostra o valor que dou à família.
– Geraldo, sou eu, Carlinhos.
– Não estou entendendo.
– Trabalhamos juntos. Você foi mandado embora porque estava traçando a secretária do Jesuíno, que explorava o mesmo território.
– Eu mudei. Tive uma experiência mística. Sou um outro homem.
– Geraldo, vi você estacionando, saindo do carro, olhando a bunda da mulata que passava. Me aproximei pra te dar uma sacaneada por causa do carro e da secada. Pensei comigo, esse Geraldo é foda, não pode ver mulher. Aí vi o adesivo.
– Nada a ver. O velho homem, às vezes, nos domina.
– Praquela bunda você precisaria do novo homem, o velho não daria conta.

Estupidez

"O Talibã considerava os debates uma heresia, e a dúvida um pecado. Tudo, exceto decorar o Alcorão, era desnecessário, até perigoso. Quando o Talibã chegou ao poder em Cabul, no outono de 1996, os profissionais de todos os ministérios foram afastados e os mulás assumiram, governando tudo, do banco central às universidades" (O livreiro de Cabul, Asne Seierstad, p. 29).Onde se lê Talibã pode ser lido o nome de qualquer grupo religioso.O desejo de todos esses grupos é impor suas verdades.A estupidez é uma epidemia. E são estúpidos que conduzem grupos religiosos.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Dunga fashion

Dunga deve ter sido um pai terrível.
Só isso explica as roupas que a filha estilista o faz vestir.

domingo, janeiro 28, 2007

Menina má


Travessuras da menina má, de Mario Vargas Llosa, é um grande livro.
História de duas formas de amar, se considerarmos os protagonistas: Ricardito e a menina má.
História de muitas maneiras de amar, se levarmos em conta os vários personagens que surgem no romance.
Eu, leitor amador, admiro em Llosa a simplicidade como ele conta uma história. (Suas narrativas mais complexas levam os leitores profissionais ao orgasmo.)
O primeiro livro que li de Llosa foi Pantaleón e as visitadoras. Mudanças de falas dentro do parágrafo e subversão da pontuação eram novidades para mim. Terminei o livro encantado. Como me encantaria com Tia Júlia e o escrevinhador, História de Mayta e Guerra no fim do mundo.
O amor de Ricardito, que tudo tolera, e o da menina má, pura perversão, já fazem parte dos grandes amores da literatura.

MAN IN BLACK

O primeiro disco de Johnny Cash ouvi recentemente. Comprei-o depois que vi Walk the line.
De lá pra cá comprei quatro discos dele, três da série produzida por Rick Rubin. Cash empresta sua voz a músicas de vários artistas, entoa hinos religiosos e, claro, canta seu repertório próprio.
Para o mercado, é conveniente que um cantor seja claramente identificado em um nicho. Johnny Cash é um cantor country, mas escapou do gueto.
De minha vitrola (cedepleier o cacete) não sai American V: a hundred highways, disco lançado após a morte de Cash. É tocante ouvir algumas faixas cantadas com um fio de voz. O homem de preto representa o que há de melhor na música norte-americana.

“Eu me visto de preto pelos pobres e oprimidos/ Que vivem no lado faminto e sem esperanças da cidade / Eu me visto assim pelo prisioneiro que há muito pagou por seu crime / Mas está ali pois é uma vítima dos tempos”Man in black

sábado, janeiro 27, 2007

Trator

Não adiantou muito torcer por Sharapova.
Serena Williams passou por cima da lindinha como um trator.
Pena. Por causa disso a partida foi curtinha.

Sharapova vs. Williams


Sou Sharapova desde criancinha.