segunda-feira, junho 04, 2007

ZOÉ

Eu e Hernani gostávamos de Zoé.
Nunca brigamos por causa disso. Não tínhamos chance alguma com ela, então, por que brigar?
Zoé era uma graça. Cabelos pretos, olhos azuis, nariz atrevido.
Namorava um truculento e morava na Tijuca. Eram seus defeitos.
Hernani e eu andávamos do Grajaú à Tijuca para ficar de campana num boteco em frente ao prédio em que Zoé morava, na Conde de Bonfim. Sentávamos numa mesa do pé-sujo, pedíamos umas cocas e vigiávamos para ver se ela apareceria do outro lado da rua. Nunca apareceu.
Se aparecesse, nos esconderíamos.
Em sala de aula, sentávamos em ordem alfabética. Zoé, na minha frente; Sandra, sua irmã, atrás de mim. O grande momento de meu dia era quando ela se virava para me perguntar qualquer bobagem.
Graças a essa organização alfabética caí num grupo de trabalho de Zoé. Hernani ficou meio queimado, mas...
Na casa do objeto de nossa paixão, fiquei tão nervoso que devorei uma bandeja de salgadinhos.
Lembro-me disso e de ter levado uns cascudos dentro do elevador. Um bando de tijucanos degenerados os aplicou. Tenho impressão que o ódio que devoto à Tijuca nasceu aí.
Eu e Hernani fomos grandes amigos, em grande parte, por causa de Zoé.
Falávamos o tempo inteiro sobre ela.
Sonhávamos com ela.
É bom ter alguém com quem dividir um sonho.

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