Borges precisava tratar de um
assunto sério e sigiloso com o amigão de todas as horas, Inácio. Ambos
envolvidos no rendoso negócio do futebol, eram bons amigos, mas dinheiro, sacumé.
O diretor do clube o chamou:
– Borges, está tudo certo com o
Conselho. Não pode vazar.
– E o Conselho? Você confia em
todo mundo?
– Não falei com todo mundo. Só
com aqueles que tenho no bolso.
Borges, autorizado, conversou com
seu atleta.
– Fica mais um ano por aqui. Em
dezembro a gente vê sua saída prum time de responsa. As conversas com o Paris
Saint-Germain estão alinhavadas.
O garoto confiava nele.
– Só pode vazar depois de tudo
acertado. Não quero ficar com o pau na mão.
A conversa de Lula com Dilma
estava no noticiário. Grampo, escuta telefônica... Legal, ilegal... Borges
assistia ao Fantástico e suas câmeras escondidas.
– Inácio, vamos almoçar? Lembrar
os velhos tempos. Sabe que a Soninha está chegando de Portugal? Daqui a meia
hora mando um táxi pra te pegar.
No táxi, Inácio se preocupou com
a viagem longa.
– Onde vamos? Pegou a ponte.
– Maricá. Tem um restaurante
fuderoso, lá.
Inácio apreciou a paisagem.
Outono com solzão de verão. Em Maricá seguiram para uma praia erma. No carro,
não trataram do assunto que conversariam. O carro parou na beira da praia. Em
volta, ninguém.
– Borges, tô assustado.
– Vai ficar mais. Tire toda a sua
roupa. Se quiser, fique de cueca. Vamos pro mar.
– Você resolve. Conversamos no
mar ou retornamos.
– Vamos lá.
A água estava agradável. Borges
chegou a dar uns mergulhos antes de ir direto ao ponto.
– Desculpe-me pelo local. Confio em você, mas está tudo confuso. Esse papo não pode vazar. Se vazar, eu nego. Aí não quero ouvir gravações feitas na encolha. É meu meio de vida. O importante: o Jeferson Eduardo de Aragão
Barbosa aceitou a proposta do Flamengo. A diretoria vai dar uma esperneada,
fingir que resiste para não contrariar muito à torcida, mas concordará.
– Um registro: babaquice esse negócio de nu na praia. Não sou político, porra. O menino é uma joia, você sabe.
– Sem nhenhenhem. A culpa vai cair nas costas do presidente
anterior que estabeleceu multa rescisória baixa. O atual dirá que estava vendo
isso quando foi traído pelo clube co-irmão. Vai ameaçar entrar na Justiça e
aquela bobeirada toda.
– Não acreditei que o Vasco
venderia. As exigências são aquelas?
– O Flamengo vendendo, o
"Vasco" leva por fora, o garoto, eu e você.
– E o nome?
– Ele faz questão do nome
inteiro. Até as rádios estão atendendo o pedido dele.
– "Jeferson Eduardo de
Aragão Barbosa recebeu a bola, deslocou-se pela lateral, passou para Nenê que,
de primeira, devolveu. Jeferson Eduardo de Aragão Barbosa recebeu na frente,
driblou o zagueiro e... Gol, goool de Jeferson Eduardo de Aragão Barbosa."
Os caras sacaneiam.
– Ele não vai se não usarem o nome
todo. Na camisa, inclusive.
– Eduardo de Aragão, que tal?
– Tem muito jogador com dois
nomes: Thiago Silva, Thiago Motta, Renato Augusto, Eduardo Augusto. Ele é
diferenciado. Palavras dele.
– Borges, muita gente acha que
empresário de jogador ganha muito. Mas é dinheiro merecido. Aturar esses malas...
– Inácio, há profissões piores...
e malas maiores.