terça-feira, dezembro 22, 2009

O DIABO É FÓ





Sou um zapeador inveterado, viciado, alucinado.
Não só no sofá, vendo TV, no rádio, também, trabalhando no computador.
Aliás, acho que esse é o motivo de não abandonar meu radinho de pilhas.
Numa dessas, ouço um pregador pertencente à igreja mãe de todas as igrejas exploradoras: “Participe da campanha, abrace a fé. Não deixe o diabo atrapalhar você. Às vezes você quer participar e resolve que vai abraçar a fé. Aí, naquele mês, você tem uma enfermidade, precisa comprar remédios, antibióticos. Antibiótico é caro. Mais de 50 reais, alguns. Aí você pensa, puxa, logo agora que eu ia começar a campanha. Não, meu amigo, minha amiga. Isso é o diabo. O diabo não quer que você participe da campanha...”
A esta altura fui pra outra estação. Ato contínuo, levantei-me pra vomitar.




segunda-feira, dezembro 21, 2009

HUMILDES


– Julinho, viu aquela parada pra mim?
– Que parada, Gomes?
– Já percebi que não viu. O emprego pro Jeremias. Aquela vaga que você me disse que pintou no seu trabalho.
– Ainda não. Gomes, o cargo não tem salário alto, mas é estratégico. Quem pegar a vaga vai lidar diretamente com o homem. Se for um traíra, fode a gente.
– O Jeremias é cara humilde, prestativo. Gente boníssima. Não pisa numa barata.
– Cara, tenho maior cagaço de humildes.
– Julinho, e nossa amizade?
– Se depender de eu indicar o humilde, acabou.

domingo, dezembro 20, 2009

TV FECHADA - Espaço Aberto (Globo News), com Edney Silvestre


Não tenho o hábito de ler poesia – o que estou pretendendo mudar – por isso não são muitas, ainda, as que me impressionam.
Assistindo Espaço Aberto, na Globo News, apresentado por Edney Silvestre, conheci o poeta português José Luis Peixoto. No final do programa, Silvestre pede a Peixoto que leia uma poesia, especificamente. Gostei demais e sairei atrás dos livros de Peixoto, que também é romancista e ensaísta.
Aliás, ele está no Brasil para lançar o romance Cemitério de piano.

na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viuva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Alexandre Castro deve fechar Alegria na Rua


Quadrilhas de meninos malabaristas têm assaltado motoristas nos semáforos da Zona Sul do Rio de Janeiro. Os furtos não causaram dissabor apenas às vítimas. O professor Alexandre Castro está triste. Ele que nem automóvel possui, preocupado, sempre, com a emissão de carbono na atmosfera. A preocupação justifica-se.
Há 15 anos, Castro criou a ONG Alegria na Rua. O objetivo da ONG era treinar meninos malabaristas para atuar em semáforos. Os aprendizes distrairiam a população, receberiam pequena ajuda de custo e depois seriam inseridos no mercado de espetáculos circenses.
A iniciativa teve tanto sucesso que logo os cariocas viam em praticamente todos os sinais, ou semáforos como prefere o paulistano Castro, meninos fazendo malabarismo com laranjas.
Obviamente, nem todos os meninos malabaristas são egressos da Alegria na Rua. Motivadas, no princípio, pela oportunidade de ganhar algum trocado, crianças despreparadas aproveitaram-se da boa ideia da ONG e espalharam-se pelos cruzamentos cariocas.
O prof. Alexandre Castro, em entrevista à revista Veja, truculento semanário da capital sertaneja, alertava: “Essas crianças passam o dia na rua, são exploradas por adultos, não frequentam escola. Temo que, no futuro, insufladas por degenerados que as exploram, cometam o ato vil de surrupiar os bens e, quiçá, tirar a vida de incautos”. Os fatos comprovam o vaticínio do mestre.
A Alegria na Rua sempre se preocupou em manter seus meninos equilibristas na escola. As crianças estudam na parte da manhã, almoçam (comida vegetariana, como orienta o mentor da ONG) e saem para as ruas. Castro informa: “47% dos meninos equilibristas treinados por nós conseguem colocação em circos do Rio de Janeiro. Muitos foram convidados para trabalhar em outros Estados. Nosso grande orgulho são os Orange Family, três garotos que estão impressionando o mundo atuando no Cirque Du Soleil”.
O prof. Alexandre Castro conclui informando, ainda, que toda a estratégia da Alegria na Rua será repensada. “Verei se vale a pena prosseguir. A ideia original já estava sendo deturpada. Nunca foi intenção nossa estimular a mendicância. Sempre quisemos formar cidadãos autossustentáveis, verdes, vegetarianos, amiguinhos da camada de ozônio. Se perceber que isso não será possível, prefiro encerrar o trabalho da Alegria na Rua”.

segunda-feira, dezembro 14, 2009

BAT MASTERSON


Em visita a família amiga, lá pelas tantas alguém mencionou a morte, aos 90 anos, de Gene Barry. Na sala, quase todos nos lembramos do personagem que o ator viveu em série que fez muito sucesso aqui no Brasil, na década de 60: Bat Masterson.
A musiquinha da série foi cantada em coro, comentamos alguns aspectos do filme e mudamos de assunto, como ocorre nos bons papos sem compromisso.
À noite, já em casa, voltei a pensar no velho herói e me lembrei de um momento traumático de minha vida: o dia em que fui Bat Masterson.
Um carnaval qualquer do começo da década de 60, meu pai levou-me à matinê do Clube da Light, no Grajaú. Estava fantasiado de Bat Masterson. A fantasia era um sucesso entre a criançada. Tinha bengala (a minha foi feita na carpintaria da Projetil), cartola, colete, gravatinha borboleta e revólveres.
Bat Masterson, o da televisão, era canhoto e usava só um revólver. Ganhava as paradas mais no charme do que com as armas. Geralmente, resolvia as pendências com algumas bengaladas.
O Masterson do Clube da Light usava dois revólveres prateados, dispensava o paletó (concessão ao verão carioca) e era avesso a conflitos físicos. A bengala, então, era cenográfica.
O Clube da Light era reduto de uma elitezinha merdéu. Na década de 50, não era permitida a entrada de negros em suas folias. Nos anos 60, meu pai era da diretoria do clube (e negro), por isso era lá que pulávamos no Carnaval.
Na portaria, a funcionária desarmava os Ivanhoés, Vigilantes Rodoviários, Zorros e, desgraçadamente, Bat Mastersons. Tive confiscados meus revólveres e bengala. Criança fica aborrecida, irritada, chateada... Eu, precoce, fiquei foi mesmo puto da vida.
“No final, é só pegar de volta, filhinho”, falou a mocinha. “Filhinho é o caraio”, acho que pensei em dizer, mas não disse.
No salão, o roda pra lá roda pra cá dos bailes carnavalescos. Era muito criança para aproveitar a única coisa boa de bailes de carnaval, o ninguém é de ninguém, mas me divertia. Criança se diverte com pouca coisa.
Fim de baile, vamos à portaria recolher as armas. A mocinha já tinha ido embora. Meu pai gostava de um papo e nunca se apressava. Muita gente fora embora. E um puto, filho de pai antissocial, levou minhas pistolas.
O porteiro me apresentou dois revólveres mixurucas, pretos, fininhos. Gostaria de ter reagido com mais bravura, mas chorei, chorei muito, chorei de fazer escândalo. Meu pai pegou a bengala da mão do porteiro e me confortou: “Depois eu compro outros revólveres iguais aos antigos pra você”.
Nunca comprou, mas me deu muitos discos e livros. Acho que ganhei com a troca. Não tenho sangue frio para ser matador.

sábado, dezembro 12, 2009

QUAL O GÊNERO?


Sobre The fall, novo disco de Norah Jones, a crítica de Veja diz: “Seu estilo musical que já foi definido erroneamente como jazzístico, está agora mais próximo do folk de artistas como Joni Mitchell e Aimée Mann”.
A Rolling Stone aponta para outra direção: “Os fãs mais puristas de Norah Jones com certeza estranharão este seu novo disco. Não é para menos, pois ela deixa de lado o revestimento de pequena diva do jazz com um pé no country e assume uma postura mais, digamos, indie e experimental”.
Os caras não se entendem, mas isso não importa. Certo é que Norah Jones, em The fall, deixa o piano e empunha a guitarra.
Mais importante: faz um ótimo disco. Se de jazz, country, indie ou samba, não interessa.

JINGLE BELLS


– Cardoso, você parece que come merda. Por que você sentou no lugar do Ratão?
– Sabia lá que era lugar do Ratão. Cheguei da casa da mãe, vi o movimento na quadra, lembrei do jogo do Dia dos Pais e resolvi dar uma olhada. Estava cheião, vi o lugar vazio no meio da arquibancada, fui pra lá e sentei.
– Cara, não chama a arena de quadra. O Ratão já mandou matar por causa disso.
– Arena pra mim é aquela porra de romano, grego, turco, sei lá.
– Você sentou do lado da Madá, mulher do Ratão. O lugar do lado dela é dele. Você não sabe disso?
– Sabia não. Se soubesse, cê acha que ia sentar lá. Mas fiquei longe dela. Tinha o maior espação. Não encoxei a dama, de jeito nenhum.
– Se encoxasse tava morto.
– Sei não, ela me deu umas olhadas. E, ó, ela não falou que não podia sentar do lado dela. Ninguém falou.
– Todo mundo sabe que não pode. O Ratão, quando mandou construir a arena na comunidade, avisou que aqueles dois lugares jamais poderiam ser ocupados.
– Foi a primeira vez que fui na quadra.
– Arena, caraio. Eles não querem saber disso. Se manda, ouvi um zunzunzum que vão te dar uma lição.
– Porrada?
– Matar, pra dar exemplo. A Madá ficou muito chateada.
– Do outro lado dela tinha uma mina sentada.
– O lado direito dela pode ser ocupado. O esquerdo é do Ratão.
– Vou morrer por causa disso? E se eu falar com o Ratão?
– O Ratão tá preso há três anos. Pegou um gancho de 20. Você é desligado, mesmo.
– Vou ficar na casa da minha mãe.
– O Ratão vai sair no Natal pra visitar a família. Não vai voltar, claro. Levo um papo com ele.
– Valeu.
– Agora, cai fora. Não vai nem em casa. O pessoal tá querendo mostrar trabalho. No indulto de Natal saem mais uns quatro da elite. Quem tá aqui fora precisa deixar claro pro Ratão que tem valor. Ah, se eu quebrar essa pra você, daqui pra frente procure conhecer melhor as leis da comunidade. As lá de fora ninguém respeita. Já as daqui...

quinta-feira, dezembro 10, 2009

DESACELERANDO


Este blog não é o melhor lugar para se ler comentários sobre o que está, hoje, nos noticiários. Lutei durante muitos anos contra o vício maldito da novidade. Venci-o, enfim.
A ansiedade de querer saber sobre tudo e no final descobrir que nada sabia. Esta ansiedade, mandei pras picas.
Não me interessa mais conhecer o grupo de rock que será o melhor do mundo na semana que vem. Curto o antigo, calmamente. Por exemplo, nada mais velho e delicioso do que Colour me free! da igualmente deliciosa Joss Stone. Jovenzinha esperta, sabe que o que é bom não precisa, necessariamente, ser novo.
Todo esse trololó pra dizer que, lendo uma Época antiga, dei de cara com frase absurda de Januário de Santana, técnico em eletrônica espancado por seguranças do Carrefour de Osasco, no Estado Sertanejo.
Em tempo, Januário é negro.
“Os seguranças falaram que eu ia roubar o Ecosport e a moto. Quando disse que o carro era meu, bateram mais ainda. Já passei outros constrangimentos com esse carro. Acho que vou vender”.
Negro aqui em Lulalândia só pode ter fusquinha, de preferência com o escapamento furado, fazendo esporro.

quarta-feira, dezembro 09, 2009

COISA BONITA DE SE VER - Jewel Staite


A drª Jennifer Keller, de Stargate Atlantis, grande série que termina agora aqui no Brasil. A única série assistida por mim de cabo a rabo. O rabo, ainda não vi.

PELO NÚMERO


Desembarcou do táxi e arrastou-se até a entrada do INSS.
Foi até o guichê. Encaminharam-no ao fundo da sala. Vão chamá-lo pelo número da senha.
Sentou-se. Cinco minutos depois foi chamado.
O funcionário anotou, teclou, anotou mais um pouquinho e orientou-o a esperar na sala à direita. Vão chamá-lo pelo número da senha.
Levantou-se, andou até a sala indicada, sentou-se e esperou.
De onde estava via todo o amplo salão. Do lado de dentro do balcão, gente estranha. Feios, todos. Falavam e não olhavam para aqueles com quem estavam falando, os do lado de fora.
O guarda que lhe informou o guichê onde deveria ir, ao entrar na agência, lia um jornal e dele não tirou os olhos.
A criatura enorme que lhe deu a senha devorava um saco de biscoitos e, preocupada com a eventual fuga de um dos recheados de chocolate, mantinha olhos atentos no pacote. A gordona comia, escondia os biscoitos com o corpanzil e passava as senhas.
O funcionário que checou seus documentos, por um instante fugaz, cruzou o olhar com ele. Desviou-o, rapidamente. Ficou tão perturbado com a imprudência que levantou-se e disfarçou bebendo um pouco de água.
Viu seu número no luminoso. Número 4.567, sala 5.
– Bom dia, doutor.
A resposta, um grunhido ininteligível.
O médico olhava com atenção a tela do computador.
Sentou-se.
– Por que o senhor veio aqui?
Fez as queixas, apresentou razões, mostrou que estava difícil trabalhar no estado presente.
Sem desviar os olhos do computador (será que estava jogando Paciência?), pediu os exames.
Passou a tomografia, exames de sangue, eletrocardiograma, teste da farinha... Todos condenando-o à morte próxima.
Apresentou laudos de ortopedista, cardiologista, angiologista, proctologista... Unânimes em considerar milagroso o fato de ele ainda respirar.
Ainda de olho na tela do computador (deveria estar vendo a Flávia Alessandra), grunhiu:
– O senhor pode ir. Em 15 dias uma correspondência chegará à sua casa deferindo ou não seu pedido.
Levantou-se, arrastou-se até a rua e fez sinal prum táxi.
Sentou-se no banco de trás. O motorista olhou em seus olhos e perguntou:
– Pra onde vamos?
Uma alegria difícil de conter tomou conta do homem:
– Graças a Deus voltei a meu mundo.

sexta-feira, dezembro 04, 2009

ORGULHO


Um pai, diante de ataque de fúria do filho craqueado, chamou a polícia.
Os homens da lei chegaram e o doidaço trancou-se no quarto.
A polícia invadiu o quarto, o rapaz resistiu e atacou um dos policiais com uma faca.
O bem treinado guardião da ordem, em defesa própria, sacou a arma e sapecou 12 tiros no alucinado.
Essa é a polícia que me enche de orgulho.

DONO DO PEDAÇO

Fácil não seria.
Juju acabara de sair de um tumultuado romance.
O ex era soldado, homem de confiança do Homem.
De qualquer forma, Dorival não era de perder oportunidades. Sondou pra se informar se a menina estava mesmo liberada ou se estava no castigo. Liberação feminina era coisa lá de baixo. Na comunidade, as minas eram vadias, cachorras, e muitas adoravam isso, e quando se envolviam com o pessoal do movimento viajavam ao passado e viviam em tempos bíblicos, veterotestamentários. Só o macho da espécie podia repudiá-las.
Na discretíssima apuração, soube que AK dispensara Juju, que era a terceira fêmea do pedaço à sua disposição. Dorival não pôde deixar de pensar. Se Juju, tesão dos tesões, companheira imaginária de suas noites insones, era a terceira, as outras duas, putaquepariu.
Um amigão ainda lhe deu toque esperto. Dá um tempo, espere pra ver se AK se adapta à nova mulher e depois se aproxime.
Dorival acatou a orientação. Estava afoito, mas não queria morrer aos 19 anos.
Na escola, namorou Juju. Beijinho pra lá, beijinho pra cá. Conheceu mãe, pai. Almoçava na casa da gata de vez em quando. Mas Juju era jogo duro e ele queria porque queria comer aquela prenda. Não comeu, comeu uma outra, Juju soube e o dispensou.
A dor de corno foi grande. Mesmo corno não sendo. Correu atrás, chorou, se humilhou, pediu ajuda dos, quem sabe um dia?, futuros sogros. A menina estava e permaneceu irredutível.
Antes dos 18 ela desfilava com AK. Ele, ainda desconsolado, foi abordado pelo ceifador. “Aí, a mina tá comigo. O primeiro aviso é pra você ficar longe; o segundo não haverá, te encho de porrada e bala. Depois te queimo.”
AK era homem convincente. Nunca mais chegou perto de Juju. Olhava-a de longe, com medo, pavor, terror, amor, desejo, angústia.
Uma tarde, em plena Uruguaiana, Juju segurou em seu braço. Quando viu que era ela, se desmanchou de felicidade e horror. “Me arrependo tanto de não ter aceitado seu pedido de perdão. Você é o meu amor. Sou respeitada no morro, mas não tenho respeito por mim. AK tem duas mulheres, filhos, eu sou a cachorra.”
Saiu dali voado. Trabalhava, ganhava uma merreca, ajudava em casa, pagava faculdade, tudo pra sair do lugar em que vivia. É uma merda um lugar onde um homem não pode ganhar uma mulher no papo.
Esperou o período de adaptação de AK. Pediu a Juju, por email, que lhe desse nova oportunidade. Ela deu a oportunidade e quis dar outras coisas tantas vezes negadas. Queria dar logo. Se tivesse se deixado levar pela palpitante cabeça que vivia entre suas pernas cairia, imediatamente, nos braços da bela Juju.
Antes do batente e de embarcar no trem, Dorival tomava seu cafezinho frugal na padaria da saída da comunidade. Pão, manteiga, café com leite, olhe lá. Ao seu lado, no balcão, o temido AK. Os olhares se cruzaram. AK mordeu o pão abarrotado de queijo, generosamente fornecido pelo dono da padaria, que tinha cu e medo, e disse afavelmente a Dorival:
– Fui informado que você está pensando em ficar com a Juju”.
Dorival protestou:
– Nada disso, esse pessoal fala demais.
– A parada é a seguinte, gosto daquela mina, mas não sou olho grande. Não estou dando a atenção devida a ela. Pode ficar, mas quando eu estiver a fim, vou chegar lá.
– AK, você é um cara generoso, mas, realmente, não tem nada a ver. A Juju é uma amiga, gosto da família, mas é só isso.
Dorival voltou em casa, se despediu da mãe, “vou ficar dormindo na empresa”, e caiu na poeira. A mãe morava na comunidade desde que nascera e de lá não sairia.
Alugou um quarto, começou um namoro com uma colega de trabalho, casou-se com ela e os dois foram viver em um conjunto habitacional na periferia.
Juju, não viu mais. De vez em quando, lembrava-se dela. Quando isso acontecia, trancava-se no banheiro e tocava uma bronha doída.