sexta-feira, julho 31, 2009

LEONARD COHEN, O FINO



Final de julho.
Nenhum disco que ouvi me causou tanto prazer quanto este Leonard Cohen – Live in London.
As músicas do cd duplo tenho todas em outros registros, mas Cohen canta/narra como nunca neste discão.
O grupo que o acompanha é maravilhoso.
Leonard Cohen, Bob Dylan e Neil Young, para mim, ouvinte de música, estão acima do bem e do mal, mas, em 2009, Cohen se destaca.

MONGA



O Jornal da Globo me fez recordar de meu encontro com Monga, a mulher gorila.
Adolescente, minhas férias eram curtidas em Macaé. Macaé da Leopoldina, pré-Petrobras. A praia era a Imbetiba. Cavaleiros era distante, fora da cidade. Pela Imbetiba, chegávamos à praia Campista. O velho Machado dizia que o nome era homenagem a uma família campista que, inteira, se afogara por ali. Acho que era sacanagem do velho que, como todo macaense, tinha horror à cidade peidona.
Na ocasião de meu encontro com Monga, já não ficava na casa de seu Machado. Hospedava-me no centro da cidade, na residência de primos. Elmira era a dona da casa. João Pinto, o marido, se virava numa casa dominada por mulheres. O outro homem por lá também era João. O apelido, Sossego, entregava a mansidão de quem era mimado por mãe e irmãs e não veio à Terra pra brigar.
Guta, a caçula, era um pouco mais velha do que eu e foi ela (miserável!) quem promoveu o desastroso e vergonhoso encontro deste pobre gordo com Monga, a selvagem mulher gorila. A noite chegando e ela, sem ter o que fazer, olhou pra mim, primo à disposição, e me convidou para ir ao parque de diversões.
Odeio, tenho ojeriza, não suporto parque de diversões, mas como recusar o convite de quem não me convidava para nada. Prima, sacumé. Fui.
Primeira parada, roda gigante. Não dava preu dizer: “Prima, aí, vai sozinha, tenho medinho de altura”. Embarquei, quase me caguei, mas me mantive firme. Quando a maldita roda parava e estávamos lá no alto, Guta, irrequieta, se movimentava pra lá e pra cá. A cadeira sacudia e eu pensava: “Por que nós, machinhos da espécie, nos preocupamos em impressionar as femeazinhas?”
No chão, enjoado, nos encontramos com outros primos. João Luís, o esperto, deu a idéia: “Vamos na Monga”. Destaquei o primo da manada e perguntei: “O que é Monga?” O primo explicou: “É uma mulher que se transforma em gorila diante de nossos olhos. Claro que é truque com espelhos”.
Um montão de crianças entrava para ver Monga. Era a sensação do parque. Do lado de fora, uma multidão esperava. Não vi perigo.
Lá dentro, tive a sensação que experimentaria décadas depois todas as vezes que andasse no metrô lotado. Não cabia mais ninguém ali.
Adeílson, vizinho de minha prima, nervosíssimo: “Meu medo é isso aqui desabar”. Esse escroto foi o responsável pela minha desdita. Fiquei com a frase na cabeça.
Monga apareceu. Uau, no escuro era linda. A VOZ começa: “Vocês verão a transformação desta bela mulher em um monstro perigoso e sanguinário. Mas não há motivo para pânico. Basta que vocês não provoquem a fera. A jaula que prende Monga é feita de material extremamente resistente”.
Na minha mente, a voz de meu primo: “É truque de espelhos...” Desgraçadamente, também a voz de Adeílson: “O perigo é isso aqui desabar...”
Fora da minha mente, a VOZ: “Por favor, silêncio, Monga está se descontrolando”.
Monga já era uma gorila, depois de lenta transformação.
“Por favor, por favor, silêncio, ela está tentando quebrar a jaula”.
E Monga urrava, rosnava, balia e sacudia as grades.
Adeílson, o veadinho, apertou meu braço.
“MEU DEUS, corram, Monga está descontrolada”.
O puto do Adeílson correu, e eu com ele.
Quando nos desvencilhamos dos panos da saída da tenda de Monga, demos de cara com a multidão que ficava à espera dos cagões. Eu, claro, fui o primeirão a sair.
Tentei explicar, pelo menos para os conhecidos, que corri porque achava qua a tenda ia desabar, cumé que eu ia ter medo de algo que sabia ser truque, logo eu, carioca, acostumado com Monga, Batman, Tarzan. Não adiantou. Até o fim das férias só ouvi falar da desejável, mas ignóbil Monga.
Foram minhas últimas férias em Macaé.
Por lá sou conhecido como o marido de Monga.

quinta-feira, julho 09, 2009

Coisa bonita de se ver - Ingrid Bergmann

Considero Ingrid Bergmann uma das mulheres mais belas que já vi.
Beleza que hoje não existiria. Sempre haveria um imbecil que lhe sugeriria um retoque no nariz perfeitamente imperfeito.

A chefinha

Quase oito horas. Todo mundo doido pra ir embora, mas sem o boa noite da chefinha, ninguém saía.
- Cadê a chefinha?
- É só você olhar pela janela. Está lá embaixo, no estacionamento, rodeada de figurões.
- Pergunte se podemos ir embora?
- Você tá louco?
Na redação, estávamos em sete. Todos loucos pra ganhar as belas ruas de São Cristóvão, protetor dos motoristas e dos assalariados apressados.
Juju, belíssima e atrevida afrodescendente esperneou:
- Vou gritar aqui de cima e perguntar se dá pra gente se mandar.
O sub lembrou:
- Sei não, a chefinha hoje não tá de bom humor. Quando ela fica um tempão naquele canto da janela, olhando lá pra fora, é bom não abusar. O gaúcho saiu daqui falando fino com o joelhaço que levou.
- Olhando pra fora, não, pra dentro. Não há nada na paisagem de São Cristóvão para se ver.
Eu, lá no meu canto, sentadinho, esperando a chefinha se lembrar de nós, acabei ouvindo:
- Você que é peixe dela podia fazer alguma coisa.
Eu, peixe da chefinha. Aiai, quem me dera. Mas fui mencionado, tive de falar alguma coisa.
- Por que não pegamos os trecos dela, avisamos que estamos descendo, apagamos tudo e vamunessa.
Minha superior imediata (que só se envolvia sentimentalmente com novaiorquinos) não achou a ideia grande coisa, mas tinha um compromisso que parecia bastante promissor. Intempestivamente, levantou-se e, da janela, avisou à chefinha que estávamos saindo e levaríamos seus breguetes.
Bolsa e agasalho na mão, ouviu o aviso do sub:
- Tá esquecendo a Montblanc dela.
Juju, espevitada, pegou a caneta e deixou-a cair no chão.
Comoção na redação.
- Porra, quebrou?
- Meu Deus, ela adora essa caneta.
- Cacilda, e agora? Juju, você entrega e explica o que aconteceu.
- Porra nenhuma. A chefinha é educada, mas se eu mostrar essa caneta quebrada vai me espinafrar lá embaixo, na frente de todo mundo.
- PORRA, quebrou?
- Amassou a pena, a tampa não estava no lugar.
Um inocente sugeriu:
- Vamos fazer um rachuncho e dar uma nova pra ela.
Senti uma fisgada no bolso. Essa turma que usa Bic não tem noção do que é uma Montblanc. Saí do silêncio:
- Dependendo do modelo de Montblanc, vamos ter de deixar o salário em troca da caneta.
A gordinha se assustou:
- Tô fora. Não sei por que vocês têm essa pressa de ir embora. Tenho dinheiro, não.
O sub sentiu que precisava decidir:
- Juju, tampe a caneta, ponha dentro da bolsa, e vamos embora. Passamos rapidamente, damos boa noite e capinamos. Com sorte, ela não mexe nessa caneta, hoje. Em casa, vai deixar a bolsa em algum lugar. Amanhã, quando perceber a caneta quebrada, além de nós, haverá os suspeitos da casa. A chefinha é casada, tem filhos, empregada.
Eu, para conquistar a equipe que ainda me tinha sob observação, prometi:
- Se amanhã ela chegar aqui aborrecida e perguntar alguma coisa, eu mesmo lanço a suspeita sobre a empregada. Direi, “chefinha, provavelmente, sua assistente doméstica deixou cair a bolsa no chão e causou o acidente com a caneta”.
Todos me olharam com ar de reprovação, mas a alternativa era enfrentar a ira da chefinha.
A reunião de pauta do dia seguinte foi tensa, mas para nosso alívio lá estava a chefinha fazendo as anotações com sua Montblanc. Letra redonda, bonita, de quem, pelo menos naquele dia, não daria esporro em ninguém.

sábado, julho 04, 2009

Linchem o motorista

Em acidente de ônibus, morreu uma menina de 12 anos. Foi arrastada pelo coletivo. Ela ficou presa à porta e o motorista não viu.
Na televisão, pudemos ver o ônibus, superlotado, ser invadido pela turba de estudantes. Vimos, também, o desespero do motorista quando tomou consciência do que aconteceu.
O que não vi nem ouvi na televisão foi um comentário exato sobre de quem é a responsabilidade pela morte da menina. Claro, o motorista será julgado por homicídio doloso e está correto, mas é somente ele o responsável pela tragédia?
O prefeitinho Eduardo Paes garantiu fiscalização rígida para punir motoristas que barram a entrada de estudantes nos ônibus. O prefeitinho nunca subiu em um coletivo.
Grande parte da frota de ônibus, no Rio, é pouco maior do que Kombis. O motorista conduz a máquina assassina sozinho. Ele dirige, faz troco, fiscaliza as portas. Em passado remoto, seu auxiliar, o cobrador, o avisava quando podia dar partida no bólido.
Vejo, pelo menos uma vez por dia, gente caindo de ônibus por causa da “distração” de motoristas. Como o brasileiro não desiste nunca, a grande maioria que cai, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima.
É sempre mais fácil culpar os motoristas, que trabalham cada vez mais e em piores condições. Transporte coletivo deveria ser responsabilidade do Estado (se o Estado fosse sério e não fizesse nomeações de apadrinhados/administradores como acontecia na falecida CTC). Enquanto o lucro alucinado for a motivação de empresários que dominam o setor no Rio, morrerá muita gente, mas na imprensa aparecerão apenas os casos mais sensacionais.
E o vilão sempre será o motorista.

Falar merda, direito de todos

Quatro alunos do Pedro II morreram em acidente de trânsito. Todos iam à escola, regularmente, em van pirata.
O pai de uma sobrevivente disse a O DIA que várias vezes empurrou a van para que ela pegasse. “Comemoro o fato de minha filha estar viva. Foi um milagre. Deus me deu o maior presente que poderia receber na vida”.
Todos falamos merda sem pensar. O simplismo de alguns raciocínios me irrita. Se Deus deu a ele um presente, entende-se que aos outros pais puniu, levando seus filhos.
É difícil para os pais envolvidos neste trágico evento considerarem que responsáveis pela morte e salvação das crianças são o acaso, o despreparo dos motoristas envolvidos e a irresponsabilidade deles, pais.
Deus está em todo lugar, mas de alguns lugares devemos cuidar nós mesmos.

quarta-feira, julho 01, 2009

A farra dos abutres

Michael Jackson foi um gênio. Aloprado, mas gênio.
Dizia-me um já falecido amigo: “Canta, dança e compõe muito bem. É gênio”.
Concordo e acrescento: se cercava dos melhores profissionais.
“Thriller” é um dos discos mais impressionantes que ouvi. Disco do porte de Sgt. Peppers, London Calling, Psychocandy...
No palco, vi poucos shows como os dele. Madonna? Não. O Queen de Fred Mercury? Talvez.
A vida pessoal de Jackson me interessa pouco, como, aliás, a de todo artista. É bom saber dos podres dos vizinhos.
Os garotinhos que, dizem, comeu, sempre tiveram papais e mamães mais interessados em levar um monte de grana do doidinho nos tribunais do que preservar os fiofós de seus pimpolhos.
Desde "Bad" não prestava mais atenção na música de Michael Jackson. Vi alguns clipes, ocasionalmente, na TV, de discos mais recentes.
Michael Jackson morreu agora, aos 50 anos, de causas ainda desconhecidas. Artisticamente, já estava morto há um bom tempo.
Os abutres festejam. Terão muita carne para comer.