sexta-feira, setembro 23, 2005

O gás

O Metrô do Rio de Janeiro tem lugares disponíveis para idosos, deficientes físicos, grávidas e mães (e pais) com crianças de colo.
Um erro de projeto na construção dos vagões do Metrê, no entanto, tem prejudicado esta população que, por isso, não exerce plenamente seu direito.
Os bancos destinados a estes passageiros especiais, logo que tocado por uma bunda de passageiro comum, desprendem um gás que provoca sono intenso no dono da bunda mencionada.
O que vemos, então, é um espetáculo bizarro: pernetas, buchudas, caquéticos e nenezinhos em pé, imprensados, e nos bancos destinados a estes desgraçados, infelizes vítimas do gás do sono roncam de prazer.
Ainda bem que o efeito do gás é temporário. Assim que chegam a sua estação de destino, os dorminhocos acordam milagrosamente.

quinta-feira, setembro 22, 2005

Poderosas DESTINY'S CHILD

Adolescentinha

A adolescentinha subia as escadas preocupada. Com as duas mãos, juntava a saia às coxas.
Alguns metros atrás, Sátiro, atento, observava.
A jovenzinha, cuidadosa, olhou em volta para ver se alguém, aproveitando-se de eventual desatenção, tentava pelo menos vislumbrar o tesouro que escondia.
Sátiro olhou-a com cupidez. Deixou claro que estava ali para ver.
Assustada, a menina apertou o passo e desapareceu, veloz como só as adolescentinhas sabem ser.

O jegue mamador

Severino viveu 40 anos à sombra.
Ali, mamava leite bom, cremoso.
Quietinho, só morto teria deixado a suculenta teta.
Quis vir à luz.
Comer louras coxudas às claras.
Mostrar pros conterrâneos a vitória do jumento.
O jegue volta às trevas.
Mas acumulou muito leite nessas quatro décadas.
E, quem sabe, volta pra mamar mais um pouquinho nas próximas eleições.

Intelectuais

Rubem Fonseca, o escritor, e meu cunhado têm pelo menos uma coisa em comum: assistem a um filme por dia.
Todos os dias, o irmão de minha amada vê com atenção a Sessão da Tarde da Globo.

terça-feira, setembro 20, 2005

Recordar é viver - LAURA ANTONELLI

Loucura

Calote

– .......
– Alô!
– Panificação Dois Irmãos....
– Gostaria de falar com o senhor Adamastor Pessanha.
– Não tem ninguém aqui com esse nome.
– Mas eu já falei com ele nesse número.
– Este número é de uma padaria e não temos funcionários com esse nome.
– Seu Adamastor, é o senhor, não é? Fale comigo, nós podemos chegar a um acordo.
– Minha senhora, vou desligar, a padaria está cheia. Não tem nenhum Nestor aqui.
– Adamastor...

– ......
– Bom dia, o senhor Adamastor, por favor.
– Açougue Três Corações, a seu dispor.

terça-feira, setembro 13, 2005

O jumento

Severino, o jumento que preside a Cãmara, defendeu-se de uma das várias acusações que sofreu dizendo não ser maconheiro nem homossexual.
Eu também não.
Ele se considera digno por isso.
Eu não, mas sou humano, naturalmente corrompido.
Ele é uma cavalgadura.
Cavalgaduras são sempre inocentes, a não ser que queimem rosquinha ou um baseado.

Herói

– Não segura minha mão, se não te dou porrada.
(Ele vai bater na mulher e ela está grávida. Eu tenho de fazer alguma coisa. Preciso intervir.)
– Você é um covarde. Só bate em mulher. Veado, veado...
(Pode ser que fique só na discussão. Ele pode estar armado. Eu não tenho o hábito de brigar.)
– Veado, não. Quem é que te fez esse filho, sua vagabunda?
(Esse camarada é um animal e ela é bonita. Acho que se eu chamá-lo à razão...)
– Tá muito certo que foi você, né, mané?
(Cacete, ele deu um soco na cara dela. Será que ninguém intervirá? Ai, outro soco. Meu Deus, ela caiu. Deixa eu apressar o passo. Ela deve saber porque está apanhando.)

O ganho

– Sebá, tá voltando do batente?
– Tô morto. Virar laje é fó.
– Pensou naquela parada?
– Me põe na fita? Se cê me pô, tô dentro.
– Cê vai ficar no alto da passarela. Se tiver limpeza, dá um sinal com o boné.
– Ó...
– Quando a gente parar o carro no tiro, cê puxa.
– Falô
– Te dou 50, tá legal?
– Se tá. É três dias virando laje.