quinta-feira, abril 27, 2017

MUNDO TENEBROSO



Assistir aos telejornais, por esses dias, tem sido mais desagradável do que o habitual. Há umas duas semanas, crianças foram mortas por bombas químicas. Um horror. O autor da monstruosidade ninguém sabe ao certo. A conta foi entregue a Bashar al Assad, o carniceiro sírio. A consequência foi o bombardeio norte-americano a uma base aérea síria. A Rússia fez ameaças, aliada que é da ditadura de Assad. Donald Trump, elogiado pela ação, promete, agora, dar uma lição no bufão norte-coreano. Aonde chegaremos ao final desta escalada de beligerância? Não tenho a menor ideia.
No Brasil, os de estômago forte não saíram da frente da TV vendo e ouvindo os depoimentos dos delatores da Odebrecht. Delatores sorridentes e bem-humorados, beirando ao escárnio, nos mostraram a subterrânea qualidade de nossos líderes. E os menos ingênuos sabem que muito mais lama ainda virá.
Um delator chegou a dizer que, em certo momento, havia prazer dos emissários da Odebrecht em comprar corruptos. Mesmo sem necessidade, compravam. É bom que nos lembremos: o dinheiro usado para comprar os marginais não era da Odebrecht, era nosso.
Mudo muito de ideia, graças a Deus, mas tenho pensado seriamente em não votar em mais ninguém. Meu último voto foi de Pezão. Hoje, fico deprimido quando o vejo na TV.
A maior emoção eleitoral que senti foi na vitória de Lula, em 2002. A chegada do PT ao poder me deu algumas esperanças, mas confesso que o ambiente republicano da passagem de cargo de Fernando Henrique Cardoso para Lula também me animou. Talvez por isso minha decepção com o PT tenha sido tão grande.
Militantes petistas afirmam que sempre houve corrupção no Brasil. Quem não está à esquerda, contra-argumenta dizendo que nunca se roubou tanto quanto nos governos petistas. Meu ponto, como ex-petista, é: o PT não podia ser instrumento de assalto ao país. Não me interessa se o PT roubou mais ou menos. O PT não podia roubar.
Nós, cariocas, para completar, ainda vemos o Estado do Rio destruído. A cidade vai pelo mesmo caminho. Temos números de assassinatos que faz sombra à Síria. Quem circula pela cidade com segurança? Morrem policiais, cidadãos, crianças. Um celular custa a vida de inocentes. Matar se tornou ato banal. E não mais nos grotões da cidade, nas comunidades. Nos dias que escrevo este editorial, explodiram um banco na Av. 28 de Setembro, principal via de Vila Isabel; mataram um jovem motoqueiro em Laranjeiras; dois policiais e uma menina, em dias diferentes, foram mortos em Madureira e muitas outras desgraças, que não me ocorrem neste momento, aconteceram.
Não tenho ideia de para onde vão o mundo, o país, o estado, a cidade, mas o clima é desalentador. Há desânimo no ar. As forças para superar o momento difícil, precisaremos buscar em Deus. E é a Ele que precisaremos recorrer e, obviamente, não esquecer de fazer a nossa parte.

EU, SINDICALIZADO

Em 1974, comecei a trabalhar no Jornal do Brasil. Tinha 20 anos. Associei-me ao Sindicato de Jornalistas do Município do Rio de Janeiro. O que me moveu foi a carteira com carimbo Imprensa. Dava pra tirar uma onda. De qualquer forma, o velho cobrador do Sindicato circulava as redações do Rio para recolher as mensalidades e eu pagava, religiosa e voluntariamente.
Havia (deve haver, ainda) um Sindicato do Estado do Rio. Na Manchete, trabalhei com uma figura que era profissional deplorável. Faltava pra cacete, o serviço dele precisava ser revisto. Um revisor que precisava ser revisado. Ele se valia da imunidade que tinha por ser da diretoria do sindicato do Estado para ser um profissional de merda. O do Município era o sindicato relevante, o que se empenhava por seus associados. Então, há sindicatos e sindicatos.
Enquanto trabalhei em empresas jornalísticas, fui filiado ao Sindicato dos Jornalistas, depois que precisei buscar trabalho em outras empresas era ligado (não filiado) aos sindicatos dos empregados da firma em que estava. Algumas das “conquistas” da classe, mantive em todas as empresas, como as seis horas diárias de trabalho.
O imposto sindical compulsório (sempre me emputeci com esta merda) era descontado para a empresa em que estava trabalhando. Para ser encaminhado ao SJPMRJ, eu precisava ir ao Centro, pegar uma declaração e entregar no DP da empresa. Dava um trabalhão. Mas fazia isso porque já estava desvinculado do Sindicato e achava correto agir assim. Era um babaca, na época.
Quando entrei no Jornal do Brasil, havia linotipistas. Durante os oito anos que trabalhei por lá, foram extintos. Éramos 120 revisores. Em 1980, viajei numa barca lotada de demitidos. Desembarquei na Manchete e, 20 anos depois ela falia. Já tinha saído de lá em 1990. Os revisores de texto minguavam. Subitamente, passei a ser, com 40 anos, um revisor garoto. Na profissão, só gente mais velha.
Profissões se extinguem, é inevitável. Temos de nos liguei adaptar. Muitas vezes foi penoso para mim, mas a solução não era o Estado me dar colo. Estado atrapalha.
Meu registro de jornalista devo ao grande José Sarney. Entrei no JB e meu registro era de jornalista provisionado. O grande Sarney decretou que o provisionado viraria profissional. Nunca entrei em uma Faculdade de Comunicação. A maioria dos bons jornalistas, também não.
Estou dizendo isso porque hoje de manhã entrei no sítio do Sindicato para ver as condições para voltar a me filiar. Com o fim do imposto sindical (já foi tarde), quem deve sustentar a associação somos nós, os profissionais. Vi as condições, as exigências e liguei pra lá. Sou aposentado, não sabia se podia retornar ao sindicato nessa condição. Também não tenho diploma, mas, pensei, é um retorno, fui sindicalizado antes da exigência de diploma, não achei que houvesse problema. A senhora que me atendeu não deu tempo nem de eu falar sobre a aposentadoria. Quando disse que não tinha diploma, ela me interrompeu e informou que o diploma era inegociável.
Está certa a moça, mas acho que ela não percebeu que algo mudou e os recursos terão de ser buscados em outras fontes. Minha febre cidadã passou. Não pagarei R$ 160,00 para entrar nem R$ 35 mensais para jamais usar os serviços do sindicato.

Foi só uma brisa que passou.

sábado, abril 22, 2017

PROVAS


- Roberval, que história é essa de briga com o Tasmânia?
- Não foi briga. Ele me massacrou. O cara, além de mentiroso, é um cavalo.
- O que houve? Estou vendo que ele te escangalhou todo. O papo que está rolando é que você começou a briga.
- É verdade. Ele veio me dizer, no boteco, que minha mulher estava me corneando.
- Por quê? A troco de quê? O que ele tem com isso? Se está, é problema dela.
- Qualé, porra? Meu, também. Eu e Tasmânia somos amigos de infância. Irmãos. Fizemos tudo juntos. Menos meinha. Ele me disse que pensou muito antes de me contar. O nome do feladaputa que está comendo a Neusa ele não entregou. A traição ele teve de contar. Falou: “Você é meu chapa, Roberval, meu mano.”
- Como ele soube da traição? Apresentou provas? Prova é fundamental.
- Ele viu a Neusa e o amante entrando no motel. O Escapadinha. O carro do safado estava com as janelas abertas.
- Claro, né. Qualquer um gostaria de exibir a Neusa. Uma mulher espetacular.
- Candinho, você está entusiasmado.
- Desculpe-me, sua mulher é bonitona.
- O Tasmânia ficou no bar em frente ao Escapadinha e viu quando, duas horas depois, eles saíram.
- Você acha que o Tasmânia mentiu? Ele tem algum interesse em detonar a relação de vocês?
- O Tasmânia não mentiria, mas ele pode ter se enganado. Cadê as provas da traição? Só porque ela foi pro motel com um homem, ficou lá dentro com ele por duas horas, não quer dizer que eles tenham transado, né não?
- É, é...
- Não há provas. Fiquei puto com o Tasmânia e parti pra cima dele. O resultado é o que você está vendo.
- E a Neusa, você falou com ela?
- Falei. Ela relutou, escondeu o jogo... Disse que sexo casual não é traição. Não que ela tenha feito. Era absurdo eu acreditar num dedo-duro. Como pode você duvidar da amizade do Candinho?
- Peraí, por que ela falou em mim. Tô fora. A gente é brother.
- Tranquilidade, Candinho. Ela me disse: “Acredite no que você quiser. Mas, lembre-se: Não há provas contra mim.”
- E você?
- É como ela falou: não há provas. Só acredito na traição de Neusa se vê-la em pleno coito com outro. Nem em filmagem acredito. Pode haver manipulação na imagem.
- Você vai fazer o quê?
- Evitarei passar nas proximidades do Escapadinha.