Av. Suburbana, trânsito engarrafado, o Velho
Roqueiro olha pela janela do ônibus. Não se sente à vontade com pessoas, mas
gosta de olhar pra elas. Gosta, principalmente, de olhar para belas meninas. Lá
na frente, pela calçada, vêm três. Conversam animadamente. Falam alto. O
barulho do trânsito é ensurdecedor. O Velho ouve as meninas, apesar do barulho.
Ouve algumas frases, as mais gritadas.
– Se a dona Belinha souber vai te capar.
O Velho não entendia muito essas conversas. Como
poderia uma menina ser capada? Elas se aproximavam e o Velho não tirava os
olhos delas. A filha da dona Belinha era a que mais o atraía. Atrevida,
marrenta, belíssima, vulgar. Ao passar embaixo da janela do ônibus paralisado
os olhares da Bela e do Velho se cruzaram. Ela se incomodou.
– O que você ta olhando, velho? Sou gostosa, mas
não pro seu bico.
O Velho raciocinava rapidamente. Muito Ramones.
– Sua mãe, como vai?
– Minha mãe é o cara...
– Você é filha da Belinha, né não? Você tá a cara
dela. Te vi pequenininha.
A marrenta se desconcertou.
– Dá um beijão nela. O Angus mandou. Ela vai se
lembrar. Se não, diga pra ela que fevereiro de 1998, em Angra, foi o melhor mês
de minha vida.
O Velho era atrevido. Chutou.
– Isabel foi a mulher de minha vida. Você é Isabel
como ela?
A garota ia responder. O ônibus andou. O Velho
ainda ouviu a amiga da marrenta: “Dona Belinha com aquela cara de santa. Aí,
ela comeu esse velho em Angra.”