sábado, outubro 31, 2009

Pão com manteiga

Há coisas que não entendo.

Ao redor de mim, todos entendem. Ninguém protesta. Burro, então, sou eu.

A padaria, perto de minha cabana na Serra, abre às 6h30.

As portas se abrem, mas o pão ainda não está pronto, o café ficará dali a uns minutinhos e a caixa papeia longe de sua base de trabalho.

Este gordo, envelhecido e cheio de dores, tem pouquíssima paciência, por isso chego na padaria às 7h.

Antes, compro o jornal.

O único exemplar de O Globo que chega na Serra, guardado para mim pela gentil jornaleira.

A padaria é em frente.

Bom dia, dois pães frios com manteiga e um café puro.

Invariavelmente, o balconista me fará confirmar se o café é frio, mesmo, e se o pão vai na chapa.

Café puro. Pão frio. Se for na chapa, não quero.

Ele, ou ela, me olhará (na estupidez, pelo menos, não há diferença entre sexos) e encherá o copo de café e o depositará no balcão. Eu porei o açúcar e aguardarei o pão.

Três vezes em cinco (já me dei o trabalho de contar) não tem pão ali perto dele. Ele irá ao outro extremo da padaria pegá-lo.

Duas vezes em cinco (sim, contei, também), quando falta pão para o café servido no balcão não tem também para venda. O pão ainda estará no forno.

O balconista me deixará com o café no copo e se embrenhará nas entranhas da padaria. Quando retornar, meu café estará geladinho, ao gosto daquele estranho povo do Norte da América.

Perguntei esta semana ao rapaz que gerencia a padaria: Por que antes de servir o café não é preparado o pão?

Ele me olhou (acho que percebi admiração naquele olhar) e disse: O senhor está dando uma ótima ideia. Vou passar essa orientação pro meu pessoal.

Dispensei o café e fui para casa.

Abri o jornal e vi na manchete que alunos e professores de uma universidade hostilizaram uma aluna porque ela foi à aula de vestido curto. Ia me espantar, mas percebi que a história acontecera em São Paulo, a capital sertaneja do Brasil.

Nada que se dá em São Paulo deve se estranhar.

sábado, outubro 24, 2009

Paixão adolescente

Tenho comprado, regularmente, os CDs dos Beatles que saíram remasterizados e em embalagens caprichadas. A coleção é preciosa. Preciosíssima para quem, como eu, viveu a Beatlemania.
Sempre fui pobre. Pobre de bom gosto, mas pobre. Sortudo, tive pai que apreciava livros e música. Saía algo novo, eu ligava para o trabalho dele e, se houvesse dinheiro, no dia seguinte a bolacha estava rodando na Telefunken.
O primeiro disco dos Beatles que ouvi, ganhei de meu pai: Help! Não a edição inglesa, remasterizada agora, mas a que saiu aqui, a norte-americana.
A percepção que tenho dos Beatles é a da paixão pura. Adolescente não se preocupa com opinião de críticos. Não fui diferente. Influência só da rodinha.
Hoje em dia, por mais que tente ignorar a turminha que é paga pra veicular opiniões pessoais, não poucas vezes me vejo impelido a comprar CDs como um zumbi, manipulado por um bosta dono de bom texto.
Sentia prazer ouvindo Beatles. Participava de fã-clube. Falávamos sobre as novas músicas, dissecávamos os LPs. Aos 14 é ótimo ser ingênuo, apaixonado, inflamado. Aliás, não ser é um desperdício.
O pouco dinheiro está me obrigando a comprar os CDs um a um. Ótimo.
Há alguns meses, com os bolsos cheios, recém-saído da Penitenciária Covil de Serpentes, encontrei na Modern Sound quase todos os discos do Steely Dan. Como os dos Beatles, tinha-os em vinil. Sem toca-discos, há muitos anos não os ouvia. Aproveitei, então, a oportunidade e comprei todos de uma vez. Não os curti como esperava.
Os Beatles foram um fenômeno mundial e, sim, em determinado momento a bravata de John Lennon fez todo o sentido: eram mais populares do que Jesus Cristo.
Ser contemporâneo de um fenômeno não faz de ninguém o melhor crítico. Muita coisa sobre os Beatles soube muito depois. Viver a época de um fenômeno, no entanto, nos proporciona satisfação inigualável. Estávamos lá quando começou, fomos envolvidos por um sentimento de nossa geração. Amor de adolescente, sacumé.
Os Beatles nunca vieram ao Brasil. Quem apareceu por aqui foram os American Beatles. No Brasil, havia o Brazilian Beatles. Imagine, hoje, um American U2. E vindo a Lulalândia para consolar os fãs, tocando em lugar dos originais. Não dá para imaginar. É clichê, mas aqueles eram outros tempos.
Em tempos de ócio, ouvir os Beatles, de novo, tem me feito muito bem. Tenho a coletânea 1, com os singles do quarteto. Comprei Love, que foi usado num espetáculo do Cirque du Soleil. Consegui encontrar, no começo da década, Sgt. Peppers e Abbey Road, mas minhas paixões eram o Álbum Branco e Revolver. Comprei-os, finalmente.
Meu pai viveu, certa época, uma fase muito difícil. Não tinha ânimo para nada. Lia o dia inteiro e ouvia óperas. Todos nós o criticávamos. Na época, não se falava em depressão como doença. Ainda hoje, há tapados que a consideram um problema espiritual.
Ele é que estava certo. Sobreviveu por isso. O legado que me deixou foi o amor pela música e pelos livros... e aquele disco dos Beatles, início de minha vasta coleção de 4 mil vinis e, hoje, 5 mil CDs. Muita coisa prum pobre que mora num quarto e sala com esposa, cachorra e mais uns 3 mil livros.
Pobre, sim. Burro, jamais.

quinta-feira, outubro 22, 2009

A ARTE DE DEFECAR

Albert Einstein, para evitar gastar tempo com futilidades, tinha em seu armário vários ternos iguais. Não se angustiava como alguns de nós na hora de sair de casa.
Entendo o notável físico quando levo minha cadela para defecar.
Em primeiro lugar, ela define a direção que devo tomar. Ela, na ponta da guia, é quem me conduz. Saímos do prédio e ela para na primeira bifurcação. Um caminho leva para a rua, o outro para o interior do condomínio. Essa primeira decisão costuma ser rápida, antecedida de uma boa cheirada em vestígios de urina canina aqui e ali.
Se ela decidir ir para a rua, ótimo. Lá fora as alternativas são poucas. Direita ou esquerda.
Se resolver explorar o condomínio, me entrego aos poderes do alto. São vários caminhos, muitas direções, uma infinidade de cheiros que, maravilha, não consigo sentir.
Preparo-me para uns 20 minutos de idas e vindas, pulos de dentes arreganhados na direção de desavisados, pedidos de desculpas, um ou outro vá se foder...
Depois de me extenuar, ela escolhe, por exemplo, o quadrante sul da quadra. No quadrante, ela começa a percorrer grandes círculos que vão diminuindo até chegar ao que chamo de região X. Nesta região, posto-me no centro e ela dá muitas, muitas, muitas voltas ao meu redor até parar. Aí, sim, é o ponto X. O corpo dela se dobra para cima. A obra começará a ser feita.
Este é um momento de profunda comunhão entre mim e os poderes que regem o Universo. Clamo aos céus para que ninguém apareça, nenhum carro surja. Se isso acontece, ela se desconcentra e para. Se parar, vamos começar a buscar outro ponto X, que pode ser lá na puta que pariu.
Se considerarmos a consistência, um cão caga, como nós, humanos, de duas formas: mole ou duro. Cocô duro é mole. Cocô mole é duro. De recolher.
Cocô de cachorro, no entanto, não é só consistência. Há a forma. O tipo mais simples de recolher é o que classifico como cagalhão. Um bloco só, mole ou duro, que se recolhe de uma vez.
Enjoado é o pingadinho, que o cão vai largando por vários metros e você, com 150kg na carcaça, tem de ir catando, cantando mantras pacificadores.
Depois de defecar, minha amada cadela fica paradinha, aguardando que eu a limpe.
Limpo-a (se não fizer isso, acho que sou mordido) e, em introspecção, preparo-me para a mijadinha, que será dada, depois da repetição do ritual de escolha, no outro extremo do condomínio.
Ter um cão me fez dar o maior valor ao vaso sanitário. Ainda bem que nós humanos temos um lugar certo onde depositar nossos excrementos. Se assim não fosse, quanta energia despenderíamos num simples lançamento de barro. Os mais simples cagariam na frente de seus próprios lares, mas, e os provocadores? Estes passariam telegrama na porta dos desafetos e, certamente, não recolheriam a missiva.
Então, você que me lê, não deixe de apresentar preito de gratidão ao gênio que bolou o vaso sanitário. Essa figura que não conhecemos é muito mais genial do que o gênio dos ternos iguais.

segunda-feira, outubro 19, 2009

A estupidez humana

Religiosos fanáticos não esgotam o repertório de imbecilidades que reservam para seu público.
E tem gente boa querendo teocracia. Aí, como quer Saramago, só se Deus tomasse café com Ratzinger.

Picasso

- Cara, você acredita que a Dudinha me deixou?
- Ó! Aquilo é a mó puta. Você sabia disso.
- Não fala assim. Ela tem a alma livre. Você é machão. Eu e ela ficamos três anos juntos.
- Ela te corneou os três anos. Não comi por causa de nossa amizade, sacumé.
- Tô mal, cara. Se ela quisesse voltar...
- Ela não vai voltar. Não, agora. O Picasso tá pegando.
- O Picasso? Mas ele é tudo o que ela sempre condenou em um homem. Truculento, controlador, não respeita a parceira.
- A Dudinha sempre foi chegada a um safanão. Cheguei a te alertar.
- Isso é idiotice. Dudinha é independente. Gosta de carinho, liberdade. Eu sempre dei espaço a ela, nunca a sufoquei.
- Por isso ela foi embora ou, talvez, porque você não seja o Picasso.

NUM FÓ

A revista TRIP vai encartar R$2,00 em alguns exemplares de sua próxima edição.
É um teste. Querem saber como anda a honestidade do brasileiro.
O dinheiro que retornar será encaminhado a instituições de caridade.
Compro a TRIP, regularmente.
Se encontrar os dois reais, não devolvo. Não irei aos Correios.
Além de pagar caro pela revista, ainda querem me dar trabalho.
Num fó.

Hypocryzya

O velho roqueiro anda emputecido.
Já anda de saco cheio de ver especialistas em empregabilidade (que porra será essa?) e jornalistas diplomados dizerem pra garotada tomar cuidado com o que posta em páginas de sítios de relacionamento.
Algumas empresas estão fuçando esses perfis para selecionarem futuros empregados, afirmam as figuras. O velho roqueiro grita, irado: “Fodam-se as empresas”.
Por questões que envolvem segurança, o gado é filmado até cagando. Todos toleram, porque se derrubam helicópteros o que não farão com humildes pedestres. O medo justifica (?) a invasão de privacidade.
O velho roqueiro, no entanto, acha intolerável esse descaramento de empresas fuçarem a vida alheia e usarem isso para a seleção de novos empregados e chocante o fato de nenhum desses especialistas apontar esta atitude como imoral.
A menina, bonita ou feia, que quiser postar uma foto de si mesma pelada, agarrada com o namorado ou a namorada, pode e deve fazê-lo. Ela não será melhor ou pior funcionária por causa disso.
O velho roqueiro é conservador, fã do ACDC, chora com os solos de David Gilmour, mas perde a cabeça com a hipocrisia.
O velho roqueiro não é chegado a filosofar nem apresentar diagnósticos, mas anda dizendo que nos ambientes corporativos todos comem todos, no sapatinho. Às claras, para a plateia, condenam o comportamento libidinoso.
Sabe das coisas, o ancião.

domingo, outubro 11, 2009

O voo dos urubus


A primeira vez que vi urubus de perto, criança ainda, foi em Macaé.
Aqui no Rio via-os no céu.
Há alguns metros de distância o bicho é horroroso.
O bom flamenguista tem simpatia pelo carniceiro. As torcidas rivais sacaneavam os rubro-negros chamando-os de urubu em alusão ao grande contingente de afrodescendentes que compunham a maior torcida do Brasil. Hoje, essas torcidas seriam enquadradas na lei, por racismo.
No final da década de 60, um maluco soltou um urubu no campo. Jogavam Flamengo e Botafogo. Hoje, o Flamengo ganha o Botafogo a toda hora. Naquela época, perdia sempre. Fim de jogo, Flamengo 2 a 1. Henfil popularizou o urubu no Jornal dos Sports e o “lixeiro dos ares” virou mascote da massa flamenguista.
Sempre levo no bolso, em minhas caminhadas aqui na serra, a máquina fotográfica. Pode aparecer um gamo, um tucano e gosto de estar pronto para captar esses mágicos instantes que a Serra de Inhaúma proporciona.
Semana passada, esbarrei com um bando de urubus fazendo a refeição matinal. Contei 23. Enfiei a mão no bolso e percebi que havia esquecido a máquina. Segui na caminhada. Uns 100m à frente, outro grupo de urubus. Parei e fiquei olhando.
É um bicho feio. Brigam muito entre eles por um naco de comida. São agressivos. Andam desengonçadamente. Basta, no entanto, que levantem voo para se tornarem aves graciosíssimas. Observei-os, durante algum tempo, fazendo voos rasantes do alce morto (bala perdida, sacumé) até a zebrinha desencarnada. É lindo. Nada voa como um urubu.
É isso que me dá esperança de o Flamengo chegar ao G4 e ao título.
Os urubus levantaram voo.

sábado, outubro 10, 2009

Transporte coletivo

Ando muito de ônibus.
Não gosto, mas não tenho escolha.
Quando entra uma grana, circulo de amarelinho, mas a coisa anda feia.
Estava, dia desses, no Norte Shopping. Na mão, uma sacola da Saraiva com livro e cd. Fiquei na dúvida: Kombi ou ônibus? Dúvida de pobre.
Embarquei no coletivo.
Motorista de ônibus dirige aos trancos. Ou ele aceleeeeera ou freeeeeeeia. Acho que a idéia é nos derrubar, passageiros descuidados. Eu, pesado, sou cauteloso. Agarro-me aos ferros e me arrasto até a roleta, ansioso pra largar a bunda numa cadeira e sofrer os solavancos, sentado.
Naquele dia fui imprevidente. De fora, achei que o ônibus tinha lugar. Não tinha. Um gênio desses que não sobe em coletivo nem sob a mira de um AK-43 resolveu que as cadeiras dos cata-cornos têm de ter bracinho. Resultado, gordo cidadão, como eu, se não encontrar cadeiras totalmente desocupadas, fica em pé. Não sei, acho constrangedor alojar meia bunda na perna de um desconhecido.
De pé, matutei: “Quatro da tarde, um percurso de 20 minutos, não é tão ruim”.
Três pontos depois o ônibus estava superlotado. Primeiro, uma meia-dúzia de mulheres com filhos, muitos filhos, de, no máximo, 5, 6 anos. Depois, um grupo de senhoras que saiu não sei de onde e se espalhou reivindicando todos os pontos possíveis de apoio. E, para finalizar, a praga das pragas: estudantes. Por que essas pestes gritam tanto?
Lá na frente, o piloto se esmerava. Sacudia a galera à vontade. O ônibus, micrão como chamam alguns debochados, não tinha cobrador. Quando a porta traseira era aberta pro desembarque das feras, o motorista contava com a boa vontade da turba para lhe informar quando poderia dar a partida. A cada um que ele derrubava nos degraus de saída, e depois de devidamente xingado, já que nós da zona norte não somos finos como o povo da zona sul, explicava: “Me desculpem, esse ônibus não tem espelho no salão, é ruim de ver aí atrás”.
Eu, com minha vasta experiência de usuário de coletivos, tinha uma certeza: vai dar merda. A esperança era que a merda se desse quando eu já tivesse descido.
Os estudantes desceram. Algumas mães, também. O ônibus já não estava tão cheio. Duas senhoras, destemidamente, se levantaram para ficarem pertinho da porta. Entre um ponto e outro, foram jogadas para trás e, minutos depois, lançadas para frente, quando o ônibus freou.
Desceu um rapaz que, educadíssimo, agradeceu. O atento motorista entendeu o agradecimento como uma autorização para ele partir. Fechou a porta e partiu com vontade. As duas senhoras, no meio dos degraus, bateram nos dois lados da escada de descida e foram ao chão. Eu, que também ia descer, segurei-me, se não cairia em cima das mirradas vovós e talvez estivesse, hoje, preso por homicídio.
Sou educado, quase um tijucano, mas não resisti e, um pouco contrariado, interpelei o motorista: “Ô seu feladaputa, três pessoas iam descer. Preste atenção no seu serviço”.
“É que não tem espelho no salão”, repetiu ele.
“Isso é problema do seu patrão, companheiro”.
As senhoras estavam lá, amontoadas no fundo da escada, sem conseguirem se levantar, escoradas na porta.
Aí, o motorista teve outra grande ideia, abriu a porta do ônibus.
Claro, as duas se estatelaram no asfalto.

quinta-feira, outubro 08, 2009

A melhor guitarra dos Stones

Jagger, Richards, Watts, Taylor e Wyman

Perguntaram a Mick Taylor, ex-guitarrista dos Rolling Stones, ali pelo começo da década de 70, se ele se arrependia de ter deixado o grupo.
Ele disse que não. “Se tivesse ficado nos Stones, as drogas teriam me matado”.
Mick Taylor ocupou o lugar de Brian Jones, que morreu afogado em uma piscina em circunstâncias estranhas. Taylor recebeu o convite para ingressar na banda e fez doce. Era um guitarrista mais qualificado do que o necessário para os Stones. (Tanto é verdade que depois dele entrou o medíocre Ron Wood que está no grupo até hoje.) Mas a projeção internacional dos Stones, acredito eu, acabou por convencê-lo de que era bom negócio “fazer um sacrifício”.
Com Mick Taylor, os Rolling Stones gravaram dois de seus melhores discos: “Exile on main street” e “Sticky fingers”. E é só ouvir com um mínimo de atenção para perceber a guitarra soberba que o cara tocava.

Aqui se faz, aqui se paga

- Aqui se faz, aqui se paga. O que plantamos, colhemos. É nisso que acredito.
- Menelau, você tem 80 anos. Casou com uma mulher a quem não amava, porque era de família rica. Deu o golpe do baú e depois de alguns anos assumiu a empresa da família enganando os babacas dos seus cunhados. As melhores mulheres você comeu. Rico, boa pinta, papo escorregadio, não é de se estranhar que tenha sido assim. Foi um péssimo pai pros seus três filhos. Surpreendentemente, todos o veneram. Nunca lhe causaram problemas. Sua mulher, com toda galhada que carrega, jamais lhe foi infiel. Quando, Menelau, você vai começar a pagar o que fez? O que você plantou, um dia vai colher?
- Duque, você e sua moral burguesa. Nada faltou, a vida toda, nem à minha mulher nem a meus filhos.
- O dinheiro era dela. Você roubou seus cunhados, seu sogro, se apropriou do que era deles. É péssimo patrão. Paga mal, explora seus empregados. Arrogante, desprezível, perverso. Segundo suas crenças, quando você vai começar a pagar todo o mal que fez?
- Duque, você está extrapolando. Dirija e cale-se.
- Há 40 anos sou seu motorista. Todas as vezes que o rádio fala em algum meliantezinho de merda morto pela polícia, você, seu escroto, repete a mesma frase: “Aqui se faz, aqui se paga”. Porra nenhuma, você nunca pagou nada. Quantas vezes o ouvi se vangloriar de ter destruído alguém, se gabar de ter comido uma garotinha oferecendo um qualquer prum pai mais filho da puta do que você...
- Pare esse carro, você está demitido.
- Menelau, eu queria ter coragem pra enfiar esse carro num paredão, mas quase que certamente você sairia incólume. Gente como você faz o que quer. Planta merda e colhe ouro. Dirija essa merda. Fico por aqui. Não aguento mais ouvi-lo dizer: “Aqui se faz, aqui se paga”. Estou a ponto de lhe dar um tiro nos cornos.