Há coisas que não entendo.
Ao redor de mim, todos entendem. Ninguém protesta. Burro, então, sou eu.
A padaria, perto de minha cabana na Serra, abre às 6h30.
As portas se abrem, mas o pão ainda não está pronto, o café ficará dali a uns minutinhos e a caixa papeia longe de sua base de trabalho.
Este gordo, envelhecido e cheio de dores, tem pouquíssima paciência, por isso chego na padaria às 7h.
Antes, compro o jornal.
O único exemplar de O Globo que chega na Serra, guardado para mim pela gentil jornaleira.
A padaria é em frente.
Bom dia, dois pães frios com manteiga e um café puro.
Invariavelmente, o balconista me fará confirmar se o café é frio, mesmo, e se o pão vai na chapa.
Café puro. Pão frio. Se for na chapa, não quero.
Ele, ou ela, me olhará (na estupidez, pelo menos, não há diferença entre sexos) e encherá o copo de café e o depositará no balcão. Eu porei o açúcar e aguardarei o pão.
Três vezes em cinco (já me dei o trabalho de contar) não tem pão ali perto dele. Ele irá ao outro extremo da padaria pegá-lo.
Duas vezes em cinco (sim, contei, também), quando falta pão para o café servido no balcão não tem também para venda. O pão ainda estará no forno.
O balconista me deixará com o café no copo e se embrenhará nas entranhas da padaria. Quando retornar, meu café estará geladinho, ao gosto daquele estranho povo do Norte da América.
Perguntei esta semana ao rapaz que gerencia a padaria: Por que antes de servir o café não é preparado o pão?
Ele me olhou (acho que percebi admiração naquele olhar) e disse: O senhor está dando uma ótima ideia. Vou passar essa orientação pro meu pessoal.
Dispensei o café e fui para casa.
Abri o jornal e vi na manchete que alunos e professores de uma universidade hostilizaram uma aluna porque ela foi à aula de vestido curto. Ia me espantar, mas percebi que a história acontecera em São Paulo, a capital sertaneja do Brasil.
Nada que se dá em São Paulo deve se estranhar.