sábado, outubro 10, 2009

Transporte coletivo

Ando muito de ônibus.
Não gosto, mas não tenho escolha.
Quando entra uma grana, circulo de amarelinho, mas a coisa anda feia.
Estava, dia desses, no Norte Shopping. Na mão, uma sacola da Saraiva com livro e cd. Fiquei na dúvida: Kombi ou ônibus? Dúvida de pobre.
Embarquei no coletivo.
Motorista de ônibus dirige aos trancos. Ou ele aceleeeeera ou freeeeeeeia. Acho que a idéia é nos derrubar, passageiros descuidados. Eu, pesado, sou cauteloso. Agarro-me aos ferros e me arrasto até a roleta, ansioso pra largar a bunda numa cadeira e sofrer os solavancos, sentado.
Naquele dia fui imprevidente. De fora, achei que o ônibus tinha lugar. Não tinha. Um gênio desses que não sobe em coletivo nem sob a mira de um AK-43 resolveu que as cadeiras dos cata-cornos têm de ter bracinho. Resultado, gordo cidadão, como eu, se não encontrar cadeiras totalmente desocupadas, fica em pé. Não sei, acho constrangedor alojar meia bunda na perna de um desconhecido.
De pé, matutei: “Quatro da tarde, um percurso de 20 minutos, não é tão ruim”.
Três pontos depois o ônibus estava superlotado. Primeiro, uma meia-dúzia de mulheres com filhos, muitos filhos, de, no máximo, 5, 6 anos. Depois, um grupo de senhoras que saiu não sei de onde e se espalhou reivindicando todos os pontos possíveis de apoio. E, para finalizar, a praga das pragas: estudantes. Por que essas pestes gritam tanto?
Lá na frente, o piloto se esmerava. Sacudia a galera à vontade. O ônibus, micrão como chamam alguns debochados, não tinha cobrador. Quando a porta traseira era aberta pro desembarque das feras, o motorista contava com a boa vontade da turba para lhe informar quando poderia dar a partida. A cada um que ele derrubava nos degraus de saída, e depois de devidamente xingado, já que nós da zona norte não somos finos como o povo da zona sul, explicava: “Me desculpem, esse ônibus não tem espelho no salão, é ruim de ver aí atrás”.
Eu, com minha vasta experiência de usuário de coletivos, tinha uma certeza: vai dar merda. A esperança era que a merda se desse quando eu já tivesse descido.
Os estudantes desceram. Algumas mães, também. O ônibus já não estava tão cheio. Duas senhoras, destemidamente, se levantaram para ficarem pertinho da porta. Entre um ponto e outro, foram jogadas para trás e, minutos depois, lançadas para frente, quando o ônibus freou.
Desceu um rapaz que, educadíssimo, agradeceu. O atento motorista entendeu o agradecimento como uma autorização para ele partir. Fechou a porta e partiu com vontade. As duas senhoras, no meio dos degraus, bateram nos dois lados da escada de descida e foram ao chão. Eu, que também ia descer, segurei-me, se não cairia em cima das mirradas vovós e talvez estivesse, hoje, preso por homicídio.
Sou educado, quase um tijucano, mas não resisti e, um pouco contrariado, interpelei o motorista: “Ô seu feladaputa, três pessoas iam descer. Preste atenção no seu serviço”.
“É que não tem espelho no salão”, repetiu ele.
“Isso é problema do seu patrão, companheiro”.
As senhoras estavam lá, amontoadas no fundo da escada, sem conseguirem se levantar, escoradas na porta.
Aí, o motorista teve outra grande ideia, abriu a porta do ônibus.
Claro, as duas se estatelaram no asfalto.

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