quinta-feira, outubro 22, 2009

A ARTE DE DEFECAR

Albert Einstein, para evitar gastar tempo com futilidades, tinha em seu armário vários ternos iguais. Não se angustiava como alguns de nós na hora de sair de casa.
Entendo o notável físico quando levo minha cadela para defecar.
Em primeiro lugar, ela define a direção que devo tomar. Ela, na ponta da guia, é quem me conduz. Saímos do prédio e ela para na primeira bifurcação. Um caminho leva para a rua, o outro para o interior do condomínio. Essa primeira decisão costuma ser rápida, antecedida de uma boa cheirada em vestígios de urina canina aqui e ali.
Se ela decidir ir para a rua, ótimo. Lá fora as alternativas são poucas. Direita ou esquerda.
Se resolver explorar o condomínio, me entrego aos poderes do alto. São vários caminhos, muitas direções, uma infinidade de cheiros que, maravilha, não consigo sentir.
Preparo-me para uns 20 minutos de idas e vindas, pulos de dentes arreganhados na direção de desavisados, pedidos de desculpas, um ou outro vá se foder...
Depois de me extenuar, ela escolhe, por exemplo, o quadrante sul da quadra. No quadrante, ela começa a percorrer grandes círculos que vão diminuindo até chegar ao que chamo de região X. Nesta região, posto-me no centro e ela dá muitas, muitas, muitas voltas ao meu redor até parar. Aí, sim, é o ponto X. O corpo dela se dobra para cima. A obra começará a ser feita.
Este é um momento de profunda comunhão entre mim e os poderes que regem o Universo. Clamo aos céus para que ninguém apareça, nenhum carro surja. Se isso acontece, ela se desconcentra e para. Se parar, vamos começar a buscar outro ponto X, que pode ser lá na puta que pariu.
Se considerarmos a consistência, um cão caga, como nós, humanos, de duas formas: mole ou duro. Cocô duro é mole. Cocô mole é duro. De recolher.
Cocô de cachorro, no entanto, não é só consistência. Há a forma. O tipo mais simples de recolher é o que classifico como cagalhão. Um bloco só, mole ou duro, que se recolhe de uma vez.
Enjoado é o pingadinho, que o cão vai largando por vários metros e você, com 150kg na carcaça, tem de ir catando, cantando mantras pacificadores.
Depois de defecar, minha amada cadela fica paradinha, aguardando que eu a limpe.
Limpo-a (se não fizer isso, acho que sou mordido) e, em introspecção, preparo-me para a mijadinha, que será dada, depois da repetição do ritual de escolha, no outro extremo do condomínio.
Ter um cão me fez dar o maior valor ao vaso sanitário. Ainda bem que nós humanos temos um lugar certo onde depositar nossos excrementos. Se assim não fosse, quanta energia despenderíamos num simples lançamento de barro. Os mais simples cagariam na frente de seus próprios lares, mas, e os provocadores? Estes passariam telegrama na porta dos desafetos e, certamente, não recolheriam a missiva.
Então, você que me lê, não deixe de apresentar preito de gratidão ao gênio que bolou o vaso sanitário. Essa figura que não conhecemos é muito mais genial do que o gênio dos ternos iguais.

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