terça-feira, setembro 20, 2011

AS CORREÇÕES - Jonathan Franzen


Ao fazer comentário sobre livros gosto de ressaltar que o faço como leitor amador. A Internet é terra de ninguém. Há os que escrevem textos de qualidade duvidosa e sapecam embaixo do título nomes de escritores famosos (Arnaldo Jabor e Luís Fernando Veríssimo aparecem como autores de várias boçalidades na rede.) e existem os que ousam fazer críticas literárias sem ter qualificação para isso. (Nem só resenhas são malfeitas. Li um resumo de Hot Kid, de Elmore Leonard, com vários erros de informação sobre a história.) Dito isso, não se enganem: não sou qualificado para fazer crítica literária, mas pitaco posso dar. E é na base do gostei não gostei. De As Correções, escrito por Jonathan Franzen, gostei, e muito.
O bom e caprichoso escritor escreve, revisa o escrito e faz as necessárias correções. No livro de Franzen todos querem corrigir o rumo de suas vidas. Como alguns de nós.
Alfred e Enid são pais de Gary, Chip e Denise. Os pais são conservadores, se toleram. (Lembrei-me dos velhos de Subúrbio, de Fernando Bonassi. Bonassi pega mais pesado em seu livraço, mas, sei lá por que, associei os idosos dos dois livros. Talvez pelo rancor que os casais se dedicavam.) O filho mais velho é bem-sucedido financeiramente, mas a vida pessoal é tumultuada. Ama o dinheiro e vive em função dele. Chip, o do meio, é filho problemático, roteirista fracassado e professor que perdeu o emprego por se envolver com uma aluna. Denise, a mais nova, é famosa chef de cozinha que vê a carreira ser detonada por causa de uma paixão.
Lido o brevíssimo resumo pode-se imaginar um livro simples. Não é. Franzen constrói seu romance de maneira engenhosa, mas sem invencionices.
Os personagens são apresentados um a um; seus perfis psicológicos destrinchados; os problemas que vivem, mostrados; e o anseio de fazer as necessárias correções de rota explicitadas.
Jonathan Franzen, em 583 páginas, narra a saga de uma família bastante comum na classe média norte-americana. O americano, habitualmente, ao tornar-se adulto, afasta-se dos pais. (É uma situação tão comum por lá que o humorista Ray Romano fez muito sucesso com sua série Everybody loves Raymond. O mote era, justamente, um filho casado que tem os pais como vizinhos. A graça estava na estranheza da situação.) O que resta dessa relação, no fim de tudo, é um sentimento misto de amor e aversão. Bem primeiro mundo.

sexta-feira, setembro 16, 2011

Russian Red - Fuerteventura

Lourdes Hernandez é espanhola, de Madri. Ela é também o Russian Red. Descobri-a no Scream & Yell. Adorei. Corro, agora, atrás do CD.

segunda-feira, setembro 12, 2011

MAMÃEZINHA QUERIDA

- Vadico, garoto, há quanto tempo. Tudo bem?
- Porra nenhuma. Vim da casa de mamãe. Tá naquele vai não vai. Sempre doente. Uma aporrinhação.
- Sua velha é fortona. De vez em quando a encontro pelo bairro. Setenta e poucos, né não?
- Fortona nada. Todo dia tenho de dar uma passada aqui. A Isabel fica injuriada, reclama porque eu chego tarde, não dou atenção às crianças. Se tivesse dinheiro sobrando internava  mamãe.
- Por que ela não mora com você?
- Tá louco. A Isabel nunca cruzou com ela. Mamãe estraga as crianças. Meu casamento já tá bambeando, se levo a velha pra lá, fodeu.
- Mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor, disse o poeta popular.
- Júnior, você sabe que sou louco pela Isabel. São 16 anos de diferença. 36 a 20 era tranquilo, mas 48 a 32 acho que está pesando. E ela continua tão linda como sempre.
- Então, toca a vida, irmão.
- A casa da mamãe vale uma grana. Arranjo fácil uns 150 mil nela. Ela saindo num dia, vendo no outro.
- Não sei o que dizer, até porque moro com minha mãe.
- Solteirão. É outra parada. Pensei mesmo em um asilo. Tem uns baratinhos, bem razoáveis. Mas e se mamãe fica por aí uns 20 anos. Quebra minha banca. A aposentadoria dela é merreca.
- Separe uns trocados da venda da casa.
- A Isabel é uma mulher cara. Entrando esse dinheiro ela vai querer ir pra Disney. Todos os coleguinhas das crianças já foram. Ela nunca foi a um país de Primeiro Mundo. Só saímos do Brasil para Buenos Aires. Ela detestou.
- Outro dia eu estava tomando umas cervas com o Saldanha, ali no Manel. Sua mãe passou e a gente se lembrou da garotice. Íamos pra sua casa, ficávamos por lá a tarde toda. Sua mãe se desdobrava para nos atender. O Saldanha era paradão nela. “A coroa mais gostosa do bairro, Júnior”, ele sempre me dizia quando você não estava por perto.
- Feladaputa.
- Saldanha sempre foi escrotão. Ele recordou os sandubas de carne assada, a laranjada gelada. Sua mãe é especial. Era a mãe que todos queriam.
- É verdade.
- Você era o cara mais limpinho da turma.
- E era sacaneado por isso.
- Ela sempre foi uma boa mãe. Muito mais cuidadosa do que a minha, por exemplo. Criou você sozinha. Seu pai era um cachaceiro do caralho.
- O velho tinha problemas.
- Todos nós temos. Lembro quando seu pai morreu. Cercado de carinho. Isabel chorava como se o pai fosse dela. Um filho da puta que morreu dentro de uma nuvem de amor.
- Júnior, qualé?
- Nada não. Só estou pensando que, de repente, não foi tão ruim eu não ter filhos.

sábado, setembro 03, 2011