segunda-feira, setembro 12, 2011

MAMÃEZINHA QUERIDA

- Vadico, garoto, há quanto tempo. Tudo bem?
- Porra nenhuma. Vim da casa de mamãe. Tá naquele vai não vai. Sempre doente. Uma aporrinhação.
- Sua velha é fortona. De vez em quando a encontro pelo bairro. Setenta e poucos, né não?
- Fortona nada. Todo dia tenho de dar uma passada aqui. A Isabel fica injuriada, reclama porque eu chego tarde, não dou atenção às crianças. Se tivesse dinheiro sobrando internava  mamãe.
- Por que ela não mora com você?
- Tá louco. A Isabel nunca cruzou com ela. Mamãe estraga as crianças. Meu casamento já tá bambeando, se levo a velha pra lá, fodeu.
- Mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor, disse o poeta popular.
- Júnior, você sabe que sou louco pela Isabel. São 16 anos de diferença. 36 a 20 era tranquilo, mas 48 a 32 acho que está pesando. E ela continua tão linda como sempre.
- Então, toca a vida, irmão.
- A casa da mamãe vale uma grana. Arranjo fácil uns 150 mil nela. Ela saindo num dia, vendo no outro.
- Não sei o que dizer, até porque moro com minha mãe.
- Solteirão. É outra parada. Pensei mesmo em um asilo. Tem uns baratinhos, bem razoáveis. Mas e se mamãe fica por aí uns 20 anos. Quebra minha banca. A aposentadoria dela é merreca.
- Separe uns trocados da venda da casa.
- A Isabel é uma mulher cara. Entrando esse dinheiro ela vai querer ir pra Disney. Todos os coleguinhas das crianças já foram. Ela nunca foi a um país de Primeiro Mundo. Só saímos do Brasil para Buenos Aires. Ela detestou.
- Outro dia eu estava tomando umas cervas com o Saldanha, ali no Manel. Sua mãe passou e a gente se lembrou da garotice. Íamos pra sua casa, ficávamos por lá a tarde toda. Sua mãe se desdobrava para nos atender. O Saldanha era paradão nela. “A coroa mais gostosa do bairro, Júnior”, ele sempre me dizia quando você não estava por perto.
- Feladaputa.
- Saldanha sempre foi escrotão. Ele recordou os sandubas de carne assada, a laranjada gelada. Sua mãe é especial. Era a mãe que todos queriam.
- É verdade.
- Você era o cara mais limpinho da turma.
- E era sacaneado por isso.
- Ela sempre foi uma boa mãe. Muito mais cuidadosa do que a minha, por exemplo. Criou você sozinha. Seu pai era um cachaceiro do caralho.
- O velho tinha problemas.
- Todos nós temos. Lembro quando seu pai morreu. Cercado de carinho. Isabel chorava como se o pai fosse dela. Um filho da puta que morreu dentro de uma nuvem de amor.
- Júnior, qualé?
- Nada não. Só estou pensando que, de repente, não foi tão ruim eu não ter filhos.

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