quinta-feira, maio 31, 2007

Muito bom

Um amigo, depois de ler texto que escrevi, fez um reparo: "Por que muito bom e não ótimo?"
Expliquei. Por dois motivos: muito bom, pra mim, é mais do que ótimo. E, principalmente, não gosto da palavra ótimo.
Minha mãe, na fase espírita de sua vida, dizia sobre determinadas pessoas que mal conhecia e já não gostava. “Meu anjo da guarda não cruzou com o dessa mulher”. O problema era criado pelos anjos da guarda que, muito sensíveis, não simpatizavam com qualquer um.
Eu e as palavras temos relação semelhante. De algumas eu não gosto mesmo. Jamais direi que algo me impactou, prefiro escrever mais, dar bandeira de velho e afirmar que o novo disco da Bjork me causou impacto.
Então, sempre que alguma coisa em minha vida for muito boa, será muito boa . Nunca, ótima.

quarta-feira, maio 30, 2007

CALDO

Moleque, à tarde, freqüentava a piscina da Associação Atlética Vila Isabel.
Morava há pouco tempo na Vila, sentia saudades do Grajaú, mas a água... No Grajaú, me banhava no Country. Não ia todo dia. Tinha de andar muito e a preguiça sempre foi minha sombra.
Na Vila, não. Morava no final da 28 e o clube era no meio da Avenida. O banho era diário.
Por um tempo, ir à piscina era programa prazeroso. Solzão, água fresca, coca cola, batata frita e o papo com os iguais. Muito bom!
Dezembro chegou, vieram as férias e os babacas: rapazes e moças mais velhos do que nós, os iguais.
Os babacas-macho, para impressionar as fêmeas babacas, se mostravam dando caldos em nós: menores, mais fracos e ainda sem interesse em impressionar ninguém.
Quando os babacas exageravam nos caldos, os guarda-piscinas (na verdade, babacas investidos de autoridade) desviavam os olhos das bundas das meninas e chamavam a atenção dos caras. Mas era raro isso acontecer. Como nunca fui muito chegado a ser torturado, abandonei as águas.
Minha vizinha de porta era uma priminha linda. Morenaça, uns dois anos mais velha do que eu, altona, passava por uma jovem recém-saída da adolescência. Sempre íamos às Casas da Banha a mando de nossas mães. Eu via, então, o efeito que Bete causava. Pescoços machos quase se quebravam ao vê-la passar.
Um dia Bete me mostrou sua carteira de nova sócia da AAVI. Sua mãe deixaria que ela fosse à piscina se eu a acompanhasse. Relutei, tentei escapar, mas acabei indo. Claro que não contei nada a ela sobre os babacas.
Pode ter sido imaginação, mas tive a impressão de perceber um frêmito de excitação nos babacas ao me verem chegando.
Bete ainda estava no chuveirinho e eu já dentro dágua, pronto para o suplício. Os babacas se jogaram na piscina e nadaram em minha direção. Quando me cercaram, Bete já estava do meu lado. O babaca-alfa se aproximou para afundar minha resignada cabeça. Bete protestou:
- Você não vai fazer isso com meu primo.
O alfa examinou a morena e,
- Seu primo?
- É, meu primo.
Ganhei, ali, salvo-conduto para tomar meus banhos de piscina sem ser aporrinhado.
O babaca-alfa e minha prima namoraram um tempo até que a mãe dela, titia, descobrisse que eu não era um guarda-cabaço confiável.
Ela nunca mais deixou Bete ir à piscina comigo e eu, já ficando esperto, abandonei a água doce e dediquei-me ao mar, antes que o alfa voltasse sua ira contra mim.

sexta-feira, maio 18, 2007

A vida real, essas coisas

Essa eu gostaria de ter escrito, mas, infelizmente, a vida real me superou.
O texto foi retirado de reportagem do Jornal da Globo. O golpe é o do falso seqüestro, aplicado de dentro do presídio.

– Alô senhora? (...) Eu quero uma quantia de 20 mil pra soltar ele daqui.
– Ai meu Deus, aonde eu vou arranjar isso? Nem trabalho eu não tenho.
– Quem tá com a senhora aí?
– Eu tô dentro de uma igreja.
– A senhora tá dentro da igreja?
– Tô, dentro da igreja. Eu limpo a igreja pra igreja.
– A senhora é cristã?
– Sou cristã.
– Olha só, a senhora me desculpa, tá? O que eu fiz com a senhora foi só um trote, tá bom?
– “Ahãm”.
– Senhora, a senhora tá escutando o que eu tô falando? Isso é um meio de eu arrumar dinheiro. Dar trote nas pessoas, tá bom?
– “Ahãm”. Cadê meu filho?
– O seu filho não tá aqui comigo não. Foi meu comparsa que entrou chorando e a senhora pensou que foi seu filho. A senhora no começo falou o nome dele. Falou Júlio e depois falou Bruno, não falou?
– Falei.
– Então, foi onde eu entrei dizendo que eu era seu filho. Que o seu filho tava aqui. Tá bom?
– Tá bom (chorando). – A senhora vai orar por mim? Hein, senhora?
– Vou.
– Tá, fica com Deus.
– Obrigada.

quarta-feira, maio 16, 2007

Fome de saber

- Tá lendo o Expresso, agora?
- Hoje, tô. Junto com o jornal veio um pacote de Bauducco.
- O Meia Hora, ontem, deu um sanduba de mortadela.
- Tô sabendo. Quando cheguei na banca tinha acabado.
- Acho legais essas promoções. Incentivam o povo a ler.
- É... O jornaleiro me deu um toque que amanhã, com o Extra, tem pão e queijo mais café com leite.

Discaço

Neon Bible, do Arcade Fire, é um grande disco.
Havia expectativa quanto a esse segundo trabalho do grupo.
Funeral, o disco de estréia, é perfeito.
A banda, no entanto, lidou bem com a pressão.
Estão em Neon Bible muitas das qualidades de Funeral (inventividade, melodias primorosas, arranjos originais, tesão), mas o disco não é cópia do primeiro.
Mesmo a besteirada de gravar dentro de igreja para alcançar um som melhor pode-se descontar da inexperiência do grupo.
Temos de considerar, também, que, infelizmente, há necessidade de se produzir notícias para um tipo de imprensa e público que adoram essas babaquices.
Mas, Neon Bible é um discaço.
O Arcade Fire já cumpriu sua missão no volátil mundo do rock.

quarta-feira, maio 09, 2007

Cesar Maia tem seguidores

Está lá na Época OnLine.
As coisas estão ficando esquisitas, muito esquisitas.

Esqueça São Pedro
Prefeitura de São Paulo pede que médium controle o tempo para a chegada do papa

O clima não será dos melhores para receber o papa Bento XVI. Os meteorologistas prevêem frio e pancadas de chuva. Para evitar o caos na cidade, a prefeitura de São Paulo decidiu usar um método pouco ortodoxo: vai usar o poder da médium Adelaide Scritori, presidente da Fundação Cacique Cobra Coral (FCCC), para elevar a temperatura e “limpar” o céu. Isso mesmo. O pedido marca o início de uma parceria assinada com a instituição, mantida por uma seguradora que lhe destina anualmente 20% de seu faturamento. “É o que nos permite assessorar o governo sem cobrar pelo serviço”, diz Osmar Santos, assessor da FCCC. Para ajudar São Paulo a receber o papa, a médium da FCCC teria elevado a pressão atmosférica na Argentina a fim de antecipar a chegada da frente fria à capital paulista de quarta-feira (9/5) para terça (8/5). Com isso a temperatura cairia em 10º C no sudeste antes da chegada de uma massa de ar polar que afugentaria as nuvens do céu da cidade.

Clique na imagem pra ler o ofício da "autoridade":