quarta-feira, maio 30, 2007

CALDO

Moleque, à tarde, freqüentava a piscina da Associação Atlética Vila Isabel.
Morava há pouco tempo na Vila, sentia saudades do Grajaú, mas a água... No Grajaú, me banhava no Country. Não ia todo dia. Tinha de andar muito e a preguiça sempre foi minha sombra.
Na Vila, não. Morava no final da 28 e o clube era no meio da Avenida. O banho era diário.
Por um tempo, ir à piscina era programa prazeroso. Solzão, água fresca, coca cola, batata frita e o papo com os iguais. Muito bom!
Dezembro chegou, vieram as férias e os babacas: rapazes e moças mais velhos do que nós, os iguais.
Os babacas-macho, para impressionar as fêmeas babacas, se mostravam dando caldos em nós: menores, mais fracos e ainda sem interesse em impressionar ninguém.
Quando os babacas exageravam nos caldos, os guarda-piscinas (na verdade, babacas investidos de autoridade) desviavam os olhos das bundas das meninas e chamavam a atenção dos caras. Mas era raro isso acontecer. Como nunca fui muito chegado a ser torturado, abandonei as águas.
Minha vizinha de porta era uma priminha linda. Morenaça, uns dois anos mais velha do que eu, altona, passava por uma jovem recém-saída da adolescência. Sempre íamos às Casas da Banha a mando de nossas mães. Eu via, então, o efeito que Bete causava. Pescoços machos quase se quebravam ao vê-la passar.
Um dia Bete me mostrou sua carteira de nova sócia da AAVI. Sua mãe deixaria que ela fosse à piscina se eu a acompanhasse. Relutei, tentei escapar, mas acabei indo. Claro que não contei nada a ela sobre os babacas.
Pode ter sido imaginação, mas tive a impressão de perceber um frêmito de excitação nos babacas ao me verem chegando.
Bete ainda estava no chuveirinho e eu já dentro dágua, pronto para o suplício. Os babacas se jogaram na piscina e nadaram em minha direção. Quando me cercaram, Bete já estava do meu lado. O babaca-alfa se aproximou para afundar minha resignada cabeça. Bete protestou:
- Você não vai fazer isso com meu primo.
O alfa examinou a morena e,
- Seu primo?
- É, meu primo.
Ganhei, ali, salvo-conduto para tomar meus banhos de piscina sem ser aporrinhado.
O babaca-alfa e minha prima namoraram um tempo até que a mãe dela, titia, descobrisse que eu não era um guarda-cabaço confiável.
Ela nunca mais deixou Bete ir à piscina comigo e eu, já ficando esperto, abandonei a água doce e dediquei-me ao mar, antes que o alfa voltasse sua ira contra mim.

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