sexta-feira, julho 06, 2007

Pequena flor

- O senhor se importa de eu me sentar a seu lado?
- De jeito nenhum.
- É que o cinema está vazio... O senhor pode pensar que sou um homossexual querendo abordá-lo.
- Se você me abordasse, diria, de forma gentil, que sou hétero e lamentava não poder corresponder a seu gesto de carinho. Ressaltaria que tinha ficado lisonjeado com sua escolha, mas que por ter sofrido educação muito rígida não conseguiria me relacionar sexualmente com um outro homem. Diria, também, que até terapia faço para, quem sabe, expandir meus horizontes.
- Mas, meu senhor, também sou heterossexual. Só pedi para sentar ao seu lado por causa da localização.
- Um dia, eu e você nos livraremos desses grilhões.
- Senhor, acho que vou me sentar em outro lugar.
- O que disse incomodou-o, certo? Temos tanta certeza de tudo. Uma pequena incerteza nos desestabiliza.
- Sou heterossexual, casado. Amo minha mulher.
- Mas quis sentar-se ao meu lado. Sentiu-se inseguro. Buscou em mim, refúgio. Quando as luzes se apagassem, talvez você vencesse a hesitação e...
- Por favor, vou sair daqui.
- Vá, mas não fugirá para sempre. Pequena flor, seu destino está traçado.

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