segunda-feira, março 19, 2007

Bicho burro

– Ulisses, de Joyce?
– Isso.
– Rapaz, você só lê tijolo.
– Leitura tem de ser desafiadora.
– Noutro dia era D. Quixote.
– É verdade. Intelectual, sacumé.
– Cara, por que esse amor repentino por literatura?
– Geraldinho, querido, isso aqui não é livro.
– Pô, tô vendo o livro na sua mão.
– Chapinha, já fui assaltado aqui na área um porrilhão de vezes. Já me levaram carteira, celular, relógio... Na última vez, me levaram tudo, menos o livro que carregava. Aí, surgiu a grande idéia: o livro-carteira. Dentro desses livros grossos e ocos carrego meus cartões, dinheiro, documentos, sem temer a bandidagem que, antes de qualquer coisa, é profundamente estúpida.
– Grande sacada.
– Nunca mais fui assaltado. Tenho esse Ulisses, o D. Quixote, um Grande Sertão: Veredas e Os Sertões.
– É só cavucar um livro grosso e andar por aí, tranqüilamente?
– Não é bem assim. Bíblia, não dá. Tem muito ladrão crente. Livro de auto-ajuda, nem pensar. Como já disse: ladrão é bicho burro. Adora ler merda.