Adolescentes mostram o corpo em
fotos cada vez mais sensuais. O pior, não tomam cuidado e são vistas por
predadores sexuais
(Texto publicado na revista ELOS | Agosto de 2012)
Maria
Alice, 16 anos, estuda há cinco anos com um grupo de amigas. Mesma escola,
mesmo bairro, frequentam os mesmos lugares. “A ideia foi da Soninha. A gente se
fotografava em poses sensuais, mandava uma pra outra e nos dávamos notas. Não
tinha foto de ninguém pelada, só de biquíni. Um garoto que ficava com a Vera
copiou as fotos do celular dela e espalhou. Deu um rolo danado. Meu pai viu as
fotos, me tirou da escola e não quer que eu ande mais com as meninas. Ele é de
outra geração”.
A
história de Maria Alice é fictícia. É o resultado de histórias de adolescentes
que não veem nada de errado em exibir o corpo. Até porque a mensagem que a
sociedade vem passando é essa mesma: usar o corpo para alcançar o sucesso é
comportamento aceitável. Seduzir para subir na carreira profissional deve ser o
padrão. “A socióloga inglesa Catherine Hakim diz que não há igualdade entre os
sexos e incentiva as mulheres a usar todos os seus atributos para ascender na
carreira” (Veja, 25/7/2012). Adolescentes e pré-adolescentes estão apenas
afiando suas armas ao se mostrarem em poses eróticas para aqueles que desejam
impressionar. Lamentavelmente, não só esses têm acesso à visão de seus corpos.
Um
relato verdadeiro. Rafael mora em um condomínio. Circula pelas redes sociais
fuçando a vida alheia. Tem muito tempo disponível. Não trabalha, aposentou-se
por invalidez. Na rede, vai de perfil em perfil até encontrar os liberados.
“Meninas que gostam de postar fotos sensuais, normalmente, deixam seus perfis
disponíveis. Há aquelas que já são profissionais do sexo, a maioria, no
entanto, é só exibicionista. A ingenuidade é que as põe em risco. Outro dia
entrei no perfil de uma menina da Tijuca. Vi fotos dela na escola, em casa, em
praias. Ela era maravilhosa. Em um dos álbuns havia fotos quentíssimas. Até
topless. Menina doida. Estudei o perfil dela e descobri que estudava de manhã.
O colégio dela eu já sabia qual era pelas fotos. Sou desocupado. Eu e todos os
predadores sexuais. Resolvi fazer um teste. Fiquei nas imediações da escola
dela. Parava meu carrinho e olhava. Fiz isso por três dias. Acabei vendo-a. Segui-a
de longe e vi onde morava. No perfil dela, tomei conhecimento de uma festa a
que ela iria. Para fechar meu teste, fui ao local que ela e amigos combinaram
se encontrar para ir a tal festa. Vi quando ela chegou, andou com o grupo por
uns 200 metros e entrou em um prédio. Pensei em ficar por ali para ver como ela
sairia da tal festa, mas já estava ficando obcecado com a garota. Vai que ela
sai sozinha, embriagada... Sou meio desajustado, reconheço, e estou sempre
perto de fazer bobagem. Fui pra casa e não entrei mais no perfil dela.”
Adolescentes
que gostam de se exibir não viverão como promíscuos no futuro. Esta não é uma
regra. Adolescentes exibicionistas correm mais ricos de sofrer ataque sexual do
que aqueles mais discretos. Isto, sim, é fato.
Filmar-se
em situações íntimas pode ser constrangedor e muito perigoso. A atriz Carolina
Dieckman teve seu computador invadido e dele furtadas fotos íntimas. O mesmo
ocorreu com Scarlett Johansen. Um escândalo nas manchetes do final de julho foi
o vídeo de uma assessora do Senado em pleno ato sexual. Não é natural, então,
ter a intimidade invadida por estranhos.
A revista Veja trata de uma pesquisa feita nos
Estados Unidos: “30% dos adolescentes americanos já praticaram alguma vez o sexting – ou seja, usaram seus
smartphones para disparar mensagens contendo fotos em que aparecem nus,
acompanhadas ou não de texto. O número, é claro, assusta. E os estudiosos da
Universidade do Texas responsáveis pela pesquisa descobriram ainda outras
pistas que ajudam a entender melhor esse fenômeno. A principal delas é que o sexting tem um vínculo com a prática “real”
do sexo. De acordo com o levantamento, entre as adeptas do compartilhamento de
fotos íntimas, cerca de 80% já praticaram sexo; o número de sexualmente ativas
cai pela metade entre aquelas que também não se envolvem com sexting”.
Em 2008, a
americana Jessica Logan se enforcou aos 18 anos após sua foto, feita na
intimidade, passar pelos olhos de todos os colegas de escola. Uma reação
exagerada de alguém que tinha outros distúrbios, mas quem pode saber como
reagirá diante de uma situação como essa.
Os
jovens entram na vida sexual ativa cada vez mais cedo. Quase sempre estão
despreparados. Fazem sexo cedendo às pressões dos grupos com os quais convivem.
Ao contrário do que se imagina, adolescentes que querem ser diferentes são
minoria irrisória. A maioria integra-se ao bando, não quer ser percebido.
Vestem-se igualmente, comportam-se da mesma forma. Quase nunca, mesmo os mais
arrogantes, sabem o poder de sedução que exercem. Uma menina de 13 anos usando
calcinha e sutiã, fazendo cara de periguete em foto postada para um amiguinho
pode provocar bocejos no coleguinha e incendiar um velho predador que
fortuitamente tem acesso à fotografia. Se atacada pelo predador, ninguém de bom
senso dirá ser ela a culpada, mas o mal estará feito.
Pode
parecer orientação careta, mas exerça sua sensualidade com alguma discrição.
Use os meios de que dispõe para alcançar objetivos elevados. Estude,
prepare-se, não creia quando lhe disserem que o caminho para uma vida bacana é
fazer um casamento de interesse. O amor romântico ainda não acabou. Há
pragmáticos que creem ser a conjunção de interesses o segredo do sucesso no
casamento. Pode ser. Há, no entanto, maiores chances de se chegar à felicidade
ao se juntar a alguém que misteriosamente abalou nossas estruturas. Só se pode
levar este projeto à frente se, individualmente, construirmos nossa
independência. O belo levará vantagens, mas só beleza não bastará.
A
exibição do corpo em redes sociais põe em risco a integridade física de quem se
expõe. Vivemos em sociedade e precisamos nos sujeitar a regras de convivência.
Às vezes, nos julgamos incapazes de fazer mal a alguém. Lá fora, infelizmente,
à espreita, há muitos que só desejam satisfazer seus próprios instintos. Não é
inteligente facilitar a vida de tais pessoas.
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