sexta-feira, abril 03, 2009

JORNAL MEXIDINHO

Recebi crítica a trabalho que desenvolvi em um jornal por uns 10 anos. Não dei muita pelota. O crítico acertou e errou nos petardos que enviou, mas quando ele usou uma metáfora de ovos mexidos para desancar o jornal calou fundo ao meu coração. Explico: disse meu algoz que o jornal feito por mim lembrava ovos mexidos e ele não apreciava o acepipe. Só muito raramente, quando desejava sentir na carne como se alimentavam os pobres. Eu, sempre na base da pirâmide econômica, costumava adorar.

Minha avó fazia ovos mexidos deliciosos. Ainda solteiro, sempre ligava do trabalho e pedia a ela para me preparar um mexidinho. Era o neto favorito, ela fazia, sempre. Tenho de ser sincero e confessar que ela incrementava o mexidinho com umas batatas fritas cortadas em quadradinhos. Comia todos os dias, rindo.

A lembrança despertada pela crítica me fez, tal um D2, sair atrás do mexidinho perfeito. Conversei com minha querida sogra, mestra na preparação de frangos (em carne vermelha é sofrível). Expliquei-lhe, minuciosamente, como deveria ser elaborada a mistura de ovos, batatas, pimentão, cebola e tomate. Foi um fiasco. A grande quituteira de Inhaúma fracassou retumbantemente.

Conversei com a mana, herdeira desleixada dos segredos culinários da família. A técnica de elaboração do bife à milanesa, ela domina. Esqueceu, infelizmente, como fazer uma fritada de ovo com linguiça; não tem mais o segredo da preparação da sardinha casadinha; deixou escorrer memória abaixo a fórmula da carne seca desfiada no feijão. O mexidinho, me garantiu ela, sabe fazer.

Críticas servem para pouca coisa. Raras têm alguma fundamentação. Essa, pelo menos, serviu para me fazer lembrar um tempo muito bom. O tempo em que estavam todos aqui: pai, mãe, tios, avó. E, de tempos em tempos, sinto uma puta saudade dessa turma.

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