Em passado remoto, íamos à praia e
levávamos fartos farnéis sem constrangimento algum. Tenho fotos da
requintadíssima Madame Ribeiro atracada a volumosa coxa de galinha no Recreio
dos Bandeirantes.
Aí, a turma da modinha interveio. Essa
cambada existe desde o princípio dos tempos e eu, desgraçadamente, já me
alinhei com ela. Os da modinha adoram cagar regras e determinaram que levar
alimentos para a praia era coisa de farofeiro.
Pronto, nós, babacas preocupados com a
opinião alheia, paramos de levar lanchinhos ao lazer à beira-mar.
Os da modinha mais moderados admitiam
que se levasse um pacotinho de biscoito. Bananas, jamais.
À praia, íamos e ficávamos o dia
inteiro. Encarávamos coletivos superlotados, éramos despejados na praia às 8h
e, na volta, às 17h, formávamos filas quilométricas para ganhar posição dentro
do ônibus.
A modinha, setor subúrbio,
preconizava: não era de bom tom ir ao mar com nada além de dinheiro e
documentos. Calote no ônibus era bem visto. Encoxar uma menina, também (ser
encoxada, dependia). Bolsa, de maneira alguma. Podia estar sendo usada para
esconder comida.
O praiano suburbano ia à praia sem
dinheiro e lá passava fome. Não dava para comprar sanduíches e refrigerantes.
Quem podia fazer isso, principalmente rapazes, era cobiçadíssimo pelas it-girls
da época (as cocotas). Os ditames dos da modinha eram rigorosos e os
desobedientes viravam párias sociais (não mudou muito).
Corte temporal. Verão de 2014. Praias:
misto quente a R$ 25,00; coco a R$ 7,00; saladinha verde a R$ 50,00; omelete de
camarão a R$ 100,00; água a... depende da temperatura e cara do trouxa. O
pessoal da modinha se assustou e decretou: praia, a partir de agora, só com
isoporzinho.
Como a turma não gosta de perder a
pose, uma porta-voz do movimento, eleitora do PSOL, querida do Freixo e
integrante do Anonimous, esclareceu: “Não é só pelos preços absurdos que
defendemos o isoporzinho, que nada tem a ver com o movimento farofeiro do
passado, mas o não consumo de alimentos a preços escorchantes reduzirá a
emissão de carbono na atmosfera, diminuirá o desflorestamento na Amazônia e,
sem dúvida, terá impacto positivo na questão do aquecimento global. Antes de
terminar, quero frisar que odeio a Rede Globo”.
Domingo, eu e os Ribeiro vamos ao mar.
Madame prometeu levar picanha com batata corada.
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