quarta-feira, fevereiro 19, 2014

ISOPORZINHO


Em passado remoto, íamos à praia e levávamos fartos farnéis sem constrangimento algum. Tenho fotos da requintadíssima Madame Ribeiro atracada a volumosa coxa de galinha no Recreio dos Bandeirantes.
Aí, a turma da modinha interveio. Essa cambada existe desde o princípio dos tempos e eu, desgraçadamente, já me alinhei com ela. Os da modinha adoram cagar regras e determinaram que levar alimentos para a praia era coisa de farofeiro.
Pronto, nós, babacas preocupados com a opinião alheia, paramos de levar lanchinhos ao lazer à beira-mar.
Os da modinha mais moderados admitiam que se levasse um pacotinho de biscoito. Bananas, jamais.
À praia, íamos e ficávamos o dia inteiro. Encarávamos coletivos superlotados, éramos despejados na praia às 8h e, na volta, às 17h, formávamos filas quilométricas para ganhar posição dentro do ônibus.
A modinha, setor subúrbio, preconizava: não era de bom tom ir ao mar com nada além de dinheiro e documentos. Calote no ônibus era bem visto. Encoxar uma menina, também (ser encoxada, dependia). Bolsa, de maneira alguma. Podia estar sendo usada para esconder comida.
O praiano suburbano ia à praia sem dinheiro e lá passava fome. Não dava para comprar sanduíches e refrigerantes. Quem podia fazer isso, principalmente rapazes, era cobiçadíssimo pelas it-girls da época (as cocotas). Os ditames dos da modinha eram rigorosos e os desobedientes viravam párias sociais (não mudou muito).
Corte temporal. Verão de 2014. Praias: misto quente a R$ 25,00; coco a R$ 7,00; saladinha verde a R$ 50,00; omelete de camarão a R$ 100,00; água a... depende da temperatura e cara do trouxa. O pessoal da modinha se assustou e decretou: praia, a partir de agora, só com isoporzinho.
Como a turma não gosta de perder a pose, uma porta-voz do movimento, eleitora do PSOL, querida do Freixo e integrante do Anonimous, esclareceu: “Não é só pelos preços absurdos que defendemos o isoporzinho, que nada tem a ver com o movimento farofeiro do passado, mas o não consumo de alimentos a preços escorchantes reduzirá a emissão de carbono na atmosfera, diminuirá o desflorestamento na Amazônia e, sem dúvida, terá impacto positivo na questão do aquecimento global. Antes de terminar, quero frisar que odeio a Rede Globo”.

Domingo, eu e os Ribeiro vamos ao mar. Madame prometeu levar picanha com batata corada.

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