terça-feira, janeiro 01, 2008

Sobriedade

- Júnior!!! Faz tempo, hein...
- Quase um ano. E aí?
- Tudo na mesma. E Sofia, as meninas?
- A mais velha fez 15. Tá me dando trabalho. Sofia é o que você conhece.
- Um sábado desses apareço.
- Será um prazer.
- Júnior, estou achando você diferente. Não sei bem o quê.
- Sobriedade. Há três meses não bebo.
- Eu...
- Você vai dizer que me conhece há 20 anos e nunca me viu sóbrio...
- Bom...
- Conheci Sofia de pileque; fiz minhas três filhas, alto; tenho mantido um bom casamento, de fogo; profissionalmente, sou bem-sucedido. Trabalho com uma garrafa de uísque em cima da mesa.
- Ordens médicas?
- Você sabe que não vou a médicos. Resolvi parar.
- Uma mudança grande.
- Minhas filhas, agora, me acham um chato. Dizem que não tenho animação pra nada. Sofia diz que não agüenta mais. Não sou mais o amante ardente que era. Meus empregados estranham porque não sou a simpatia que era.
- Volte a beber.
- Não dá. Esses anos todos vi um mundo enevoado. Agora, vejo tudo com clareza. Depois que se vê, não há como não ver.

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