sexta-feira, abril 26, 2013

POR ONDE ANDA O GUARDA-CABAÇOS?


Lá pelo final da década de 60, havia um personagem que gozava (aliás, pouco gozava) da antipatia dos jovens heterossexuais: o guarda-cabaço. O guarda sempre estava ao lado da jovenzinha mais cobiçada, não a deixava por nada, acompanhava-a por todos os cantos, principalmente na escola.
Há 50 anos este era outro mundo. Um mundo em que cabaços tinham alto valor. Mundo machista, sim, mas, em muitos aspectos, um lugar mais seguro para se viver. O mundo em que perambulava, patético, o guarda-cabaço.
O guarda-cabaço, na maioria das vezes, não era gay (não era fácil ser gay na década de 60). Era, sim, sempre, muito solícito. A dona do cabaço que guardava tinha dele toda a atenção. Copiava a matéria para a portadora do hímen a necessitar de proteção, explicava os pontos das aulas não entendidos por sua protegida e levava sempre na pasta um belisquete apreciado pela queridinha.
O que ganhavam os guarda-cabaços? A companhia das tirânicas deusinhas, certamente. Pouquíssimos papavam a protegida, que quase sempre era inaugurada por um boçal boa pinta e sem noção. Mas mesmo pros boçais bonitões a vida não era fácil. Ali pelos 15, 16 anos quase toda jovenzinha mantinha sua tampinha no lugar. Não é como hoje.
Mais tarde passei a gostar tanto da companhia feminina que poderia, facilmente, ser confundido com um guarda-cabaço. Tive algumas amigas com quem nunca me envolvi sexualmente, andava com elas para cima e para baixo, mas sem me preocupar com suas vidas afetivas. Mulheres são mais ricas, intelectualmente, do que homens. No tempo de colégio, no entanto, não era guarda nem pegador. Observava, apenas.
Estudava no Brigadeiro Schorcht, na Taquara, e via sempre a chegada de um notável guarda-cabaço e sua protegida. O amigo de xadrez era apaixonado pela menina, mas o vigilante zagueiro lhe dava poucas oportunidades de aproximação. Do grêmio onde jogávamos, via o guarda chegando com a donzela. As amiguinhas se aproximavam e ele ficava por ali, borboleta a voltear a flor. Ela saía e ele acompanhava. Na cantina, ela sentava-se à mesa enquanto o pateta buscava o lanchinho da princesinha. Se um pegador se aproximava, o empata-foda se apressava e antes de o devorador desferir qualquer engodo lá estava ele, beija-flor a bicar florezinhas, para atrapalhar. Dentro da sala de aula, sentava-se na carteira logo atrás do objeto de sua veneração. Dali vigiava os movimentos dos papões. Os guardas têm, todos, comportamento semelhante. O guarda do Brigadeiro foi derrotado. Meu amigo, persistente, pintosão e rico perdeu a paciência, atacou a menininha e deixou o guarda desempregado.
Guardadores de cabaço não existem mais. São personagens de outro mundo, outro tempo. Hoje não há mais cabaços para guardar. As que ainda os preservam sentem-se envergonhadas por isso.
Eu achava que sentia aversão pelos guarda-cabaços. Não era assim. Talvez tivesse inveja daquelas figuras que faziam tudo pelo objeto de adoração. Ganhavam da lindinha, como prêmio, um sorriso, um gesto carinhoso e de todos os outros o desprezo. Viviam sem se preocupar com a maioria, escravos apenas de seus sentimentos. Invejava-os porque sempre dei muita importância à opinião alheia, como fazem muito bem os medíocres.

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