quarta-feira, abril 17, 2013

DEUS ME CHAMOU




Assisti no Agora é Tarde, apresentado por Danilo Gentili, na Band, à entrevista de Alexandre Canhoni, ex-paquito, que se converteu na década de 90. Dito por ele: “Deus me chamou para trabalhar com crianças no país de pior IDH do mundo. Fui e fiquei por lá.”
Canhoni diz que vem ao Brasil somente para divulgar o trabalho e cuidar da saúde. O resto do tempo, junto com a esposa, cuida de centenas de crianças, cinco delas adotadas por ele e a mulher.
O Níger é 99% islâmico e hostil aos cristãos. “Temos problemas, mas somos respeitados”, ele disse a Gentili.


Muito raramente ouço relatos críveis de pessoas que foram chamadas por Deus para cumprir algum mandato. O comum é alguém fazer o que quer e, por julgar seu desejo um tanto mundano, afirmar com olhos lacrimejantes e voz trêmula que cumpre a vontade de Deus.
Exemplifico. Um pastor faz excelente trabalho em determinado lugar, toca projetos que demandaram sacrifício de sua igreja (projetos justificados pelo reverendo como “da vontade de Deus”) e ganha, vá lá, míseros R$ 5 mil. Surge o convite de uma igreja maior. Apartamento, automóvel, plano de saúde, vale refeição... O pastor se manda e diz que vai atender o chamado do Senhor. Não me incomoda a saída do pastor, me irrita o discurso hipócrita. O pastor deveria agir como homem e dizer: “Saio porque lá ganharei mais e terei melhores condições de vida.”
Também me causa engulhos a conversinha: “Não ‘trabalho’ em instituição religiosa. Para mim é ministério. Deus me chamou. Várias empresas me querem e me pagariam dez vezes mais o que ganho aqui, mas sinto que Deus me quer em sua obra.”
Lorota. Lorota. Lorota.


Pode ser que, amanhã ou depois, venha saber da falta de sinceridade de Alexandre Canhoni. Acho difícil. Viver no Níger é duríssimo. Deserto do Saara, sertão do Nordeste muitíssimo piorado. Absoluta falta de recursos. O cara tem de acreditar que foi enviado para lá por Deus. Mesmo que Deus não tenha nada com a história e tudo não passe de delírio dele.

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