Em um Rio de Janeiro de muitos crimes, um que nem se sabe se foi ou não me impressionou. Para prosseguir, admitamos que houve um assassinato e, consequentemente, um assassino.
O assassino é jovem. Naquela noite não estava mais entediado do que usualmente.
Não tem namorada, está sem dinheiro, não acompanha novelas.
Ia para casa, fazia o caminho de todo dia, por cima do viaduto.
Encostou-se na grade, acendeu um cigarro e olhou o movimento da Av. Brasil, embaixo de onde estava. Àquela hora não se comparava com o dos horários de pico, mas cada ônibus que passava o fazia sentir uma vibração que o irritava.
Reparou nos blocos de concreto espalhados pela calçada. Forte, se quisesse levantava-os com facilidade. Bom, talvez não conseguisse. A falta de dinheiro o afastara da musculação. Abaixou-se, ergueu o maior bloco que vira ali por perto. Precisou esforçar-se. Apoiou-o na grade do viaduto e respirou fundo.
A distância avistou o ônibus se aproximando. De manhã um feladaputa de um motorista o deixara na pista, braço estendido. No ponto, riram de sua indignação. Bateu boca com um dos caras que riram. Escolheu o menor, mas o tampinha o encarou. Acabou afinando, o anão poderia estar armado. Motorista desgraçado.
Jogou o pedregulho em cima do ônibus que passava. Não por causa do motorista que o deixou a pé. Lançou o bloco de concreto porque estava ali de bobeira. Só por isso.
O choque da pedra com a lataria do ônibus fez um estrondaço.
Viu o ônibus se afastando, diminuindo a velocidade e parando. Pelo meio da pista atravessou o viaduto. Lá de baixo não seria visto. Em casa a mãe o esperava com um farto jantar.
No dia seguinte, este homem soube que a pedra que lançou matou uma mulher que dormia dentro do ônibus. Eu gostaria de acreditar que ao tomar ciência da morte da inocente o homem sentiu corroer-lhe as entranhas doloroso remorso e, desesperado com seu ignominioso crime, verteu lágrimas de sangue.
Mas, por que me enganar? O homem, se soube o que fez, provavelmente, deu de ombros e pensou: azar o dela.
No bar, tomando um chopinho com os chegados, contou a história.
Uns não creram: “Você adora contar lorotas”.
Outros, por conhecê-lo melhor, acreditaram e o invejaram: “Um dia farei algo grandioso assim”.
Um comentário:
Depois vá lá no Sobretudo ver uma puxada de saco no Gordo Falante. Sabe como é, né? Natal chegando... rsrs.
Beijos.
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