sexta-feira, novembro 13, 2009

PAPEL & CARNE


Morreu mais uma mulher fazendo lipoaspiração.
Vinte e dois anos, 53kg e, segundo o marido, sem necessidade de fazer a intervenção.
O DIA informa que a estética da clínica disfarçava sua falta de estrutura.
Visitei há dois anos uma escola. O diretor/dono do estabelecimento queria publicar texto publicitário em jornalzinho que eu trabalhava.
Orgulhoso, mostrou-me a requintada recepção. “Aqui começamos a conquistar os pais dos alunos”, disse com um sorriso. Depois fomos à sala de informática. “Vinte computadores, internet em banda larga. Aqui ganhamos os alunos”, gargalhou vitorioso.
Nunca ouvi referência à boa qualidade de ensino daquele educandário. Creio que importante, e o que dá retorno financeiro, é ser esteticamente vistoso.
Eu, comilão, não posso ver uma bela vitrine de doces, principalmente se dentro dela estiver se exibindo uma atraente fatia de torta de chocolate. Algumas vezes, na primeira bocada, vem a decepção. Bonita, sim, gostosa?, de jeito nenhum.
A aparência impressiona e nos condiciona. Era assinante da TVA e ficava impressionado com a idade avançada e feiúra dos apresentadores de telejornais da RTP, emissora estatal portuguesa. Gostava do telejornal da emissora portuguesa exibido na madrugada, que focalizava a África de língua portuguesa. Acostumei-me com os apresentadores que passam longe do padrão global de beleza, mas são competentíssimos, que é o que realmente importa.
A Globo e todas as outras emissoras brasileiras que a emulam têm em seus telejornais cotas de apresentadores de terceira idade e negros. Falta um representante gordo, mas gordo, definitivamente, não pega bem em TV. A não ser como entretenedor.
Gordinhas, também não. O padrão é o esqueleto. As mulheres creem nisso e fazem sacrifícios inimagináveis para alcançar corpos muitas vezes construídos no Photoshop.
Fernanda Young, com quem me divirto nas noites de domingo (vendo-a no GNT, claro), posou seminua para a Playboy. Disse ela que sentiria inveja da Fernanda da revista. Os profissionais da Playboy a fotografariam nos melhores ângulos, fariam centenas de fotos e escolheriam as perfeitas. Depois, o pessoal da arte retocaria o que já estava ótimo. Uma Fernanda muito diferente da Fernanda real.
Todos somos atraídos pelo belo. O homem perde o rumo quando uma beldade se aproxima. O fascínio da beleza é incontestável. Não é a beleza, no entanto, que garante vida de qualidade. Há outras características pessoais a se considerar.
Eu, há muito tempo, divido as mulheres em duas grandes categorias: as de papel e as de carne. As de papel, vemos nas revistas, na TV, nos filmes... Pelas de carne passamos todos os dias e é a elas que temos de agradar. São elas que precisamos conquistar.
Quando homens e mulheres de carne se confundem e desejam ser seus duplos de papel, morrem. E é uma morte tola porque só aloprados preferem humanos de papel.

Nenhum comentário: