terça-feira, novembro 10, 2009

BOLACHA


O velho roqueiro nunca foi muito ligado em rótulos.
Jamais entendeu as diversas divisões do rock.
Pro velho há só duas: suave e pesado.
Até bem pouco tempo, indie rock, no entendimento do veterano, era rock indígena, rock com batidas tribais. Trance, acid, house, sweet, glam, o velho caga pressas classificações.
O velho roqueiro não baixa músicas na internet. Um brontossauro, o cara.
Música pros ouvidos dele deve sair de fita cassete, vinil e, vá lá, cd.
O velho roqueiro não é muito chegado a comprar CDs em lojas virtuais. Ainda hoje, pela rede, só compra na Velvet. “Qualquer bronca eu falo com o André pelo telefone”.
O prazer do velho é fuçar as prateleiras das lojas. “No tempo da Farelo, o Preto ligava pra mim e dizia: ‘Chegou um novo carregamento’”.
O velho sentava-se no chão da loja e escolhia os vinis antes de irem pras prateleiras.
O velho roqueiro não costuma se deixar levar pela opinião de críticos. Às vezes, coincide de ele gostar de discos bem avaliados por críticos detestáveis.
O velho roqueiro é muito contraditório. Não liga pra críticos, mas lê os palpites dos caras.
O velho roqueiro adorou o último Guns’n’Roses. É amarradão nos três Kasabian. Empire, inclusive. Chorou com o ao vivo do Leonard Cohen. Ficou com uma pulga atrás da orelha com o Gossip domesticado. Amou, ama, amará Polly Jean Harvey.
O velho roqueiro me disse que comprará o novo da Joss Stone, mas o que queria era ter dinheiro para assistir o show do petisquinho. O velho é machista, sacumé.
Encontrei o velho em Madureira. Mancava. Contou-me que está com um probleminha na coluna. Mostrou-me uns vinis que garimpou. Estava feliz abraçado a Ted Nuggent e Pat Benatar.
Entramos numa pastelaria, mandamos vir quatro esfihas e dois caldos. Depois saímos e deixei o velho no ônibus.
O velho roqueiro jamais teve um automóvel. “Vou deixar de comprar minhas bolachas pra sustentar carro?”
O velho roqueiro é a única pessoa que chama disco de bolacha.
E eu o único a chamar cd de disco.

Nenhum comentário: