sexta-feira, fevereiro 05, 2010

DESENCANTO

Gosto de enfatizar: não gosto de futebol, gosto do Flamengo.
Nada me faz assistir uma partida de futebol em que o Flamengo não esteja presente.
Em Copas do Mundo, vejo a Seleção Brasileira. Sem entusiasmo.
O entusiasmo se foi em 1982. Sou clichê: aquela foi a Seleção que mais me impressionou.
Fui torcedor fanático de 1968 (aos 15 aninhos) até o meio da década de 80. Em 80 e tal libertei-me completamente do futebol. Identificava-me como rubro-negro e só. Sacaneava os amigos de outros times quando o Flamengo vencia, fingia ficar irritado ao ser sacaneado nas derrotas do rubro-negro. Era a tal da contrapartida.
No século 21 voltei a ter interesse moderado pelas atuações de meu time. Se ia mal no Campeonato Brasileiro, no Carioca brilhava. À minha volta tenho outros cariocas para sacanear. É o que me importa.
Neste começo de 2010, volta a dominar-me o desinteresse pelo destino do Flamengo. A briga Petkovic X Marcos Braz, fato que por si só não justificaria a decisão tomada por mim de não perder mais tempo com futebol, irritou-me de tal forma que me preocupou.
As últimas linhas que li sobre o caso (e serão as últimas, mesmo) apresentavam declarações do jumento que dirige o futebol rubro-negro:
1)  “Alguém acredita que Petkovic ficou andando de carro pela Tijuca, aguardando a eventualidade de ser chamado para o antidoping.”
2)  “Adriano e Vagner Love têm tratamento diferenciado no Flamengo. Os dois perderam muito dinheiro para jogar no Rio. Se Adriano e Love quiserem faltar a treinos, eu libero. O elenco não se incomoda com isso. Se têm dúvidas, perguntem aos jogadores. Eles adoram os dois.”
Examinemos os dois pontos.
Mesmo não acreditando na versão do jogador, o que ganha o dirigente e asno chamando-o de mentiroso pela imprensa? Ou melhor, o que ganha o clube com isso?
Fernando, meio-campista, também foi substituído no intervalo do jogo em que o Flamengo era implacavelmente sovado pelos bambis cariocas. Disse que avisou à direção técnica que estaria no estádio e, pelo celular, poderia ser alcançado, caso fosse sorteado no antidopping.
Se eu tivesse de descrer de uma dessas versões, escolheria a segunda. Pet informou que estava em seu carro, curtindo o ar-condicionado, ouvindo o jogo pelo rádio. Quem tem experimentado o calor infernal do Rio de Janeiro, não custa a crer em suas palavras.
Fernando foi para o meio da galera, com o time perdendo por 3 a 1 e dando pinta que ia levar outros três. Quis oferecer-se em sacrifício vivo à torcida sanguinária. Santa ingenuidade, diria o Robin tricolor.
O outro ponto.
Vagner Love estava escondido de Dunga no CSKA. Veio para o Palmeiras por entender que aqui, em um time com grandes chances de chegar à Libertadores, a cornetagem seria ampla. Os porcos não se classificaram para o torneio continental. O Flamengo, conduzido por Petkovic, chegou ao título nacional. Love não jogava bem. Lá fora, seria conduzido à reserva. Aqui, quase levou porrada de torcedores. O Flamengo torna-se, dessa forma, opção mais do que viável.
Perdeu dinheiro, o Artilheiro do Amor? Perdeu para ganhar. Se for à Copa e a Seleção faturar o título, Love sobe alguns degraus em direção ao Olimpo. Ele recusou oferta milionária do Hamburgo, trombeteiam os inocentes. Se aceitasse tal proposta, não iria à Copa e estaria preso a um time maromenos. A proposta, se viesse de Real Madrid, Barcelona ou outro time deprima, seria analisada com muito mais carinho. Se Dunga não o chamar, daqui a seis meses ele volta para onde estava. Então, não me venham com esse papo de vou para o Flamengo porque quero ser feliz. Num fó.
Dez em cada dez jogadores que voltam ao Brasil em idade produtiva (Ronaldão e Roberto Carlos estão fora dessa) querem garantia de visibilidade e titularidade. Só time brasileiro garante as duas coisas.
Adriano, pobre menino rico, estava triste na Internazionale. Triste e na reserva. E na reserva ficaria porque nada estava jogando. Aqui no Flamengo o futebol dele sobra e, por isso, voltou a ser feliz. Ganha muito bem e faz o que quer.
A declaração final de Braz é um primor de desfaçatez (acho essa palavra maravilhosa). “O elenco adora os dois, não ligam para os privilégios que têm”. Sabemos todos que é mentira, mas ninguém dirá. Quem tem, tem medo.
Gosto de Petkovic, mas também admiro Adriano e Love. Nenhum dos três, no entanto, joga por amor. São profissionais. Bem, talvez Adriano, nem tanto.
Irrita-me, portanto, o discurso de que estou aqui para ser feliz.
Irrita-me mais ainda um dirigente tentar justificar seu ato insano alegando que há jogadores que têm privilégios porque fazem o favor de jogar no Flamengo. Pera lá...
Um dia volto a torcer pelo Urubu. Vou dar um tempo. Uma coisa só, garanto: nesse espaço não volto a falar de futebol.

Um comentário:

Anônimo disse...

então eu falo: futebol! LoooL abs, Uta