segunda-feira, fevereiro 08, 2010

CALOR


– Foi essa porra de calor. Não estou conseguindo raciocinar. Você acha que em meu juízo normal faria uma loucura dessas?
– Agora, já era. Você sabe que a Sula está com o Inácio.
– Aquele puto vivia na boca de espera. Vacilei.
– Não pouco. Uma mulher como a Sula...
– A briga começou por causa de uma bobagem. Pedi a ela pra comprar um ar condicionado. Esse calor do cacete... Meu nome está sujo. Aquele som, lembra?
– Ela não quis comprar?
– Esperneou porque a conta de luz iria pro espaço. Argumentei, Pô, Sula, faço gato pra todo mundo. Ela ficou puta da vida. Você é enrolão, vigarista. Eu, não. Gosto de andar certinha. Então, ande certinha sozinha. Peguei minhas coisas e me mandei.
– Tudo o que o Inácio queria.
– Deixa ele curtir um pouquinho.
– Tudo bem, mas, cara, não dá pra você ficar aqui muito tempo. A patroa já está chiando.
– Sua mulher nunca gostou de mim. Faz o seguinte, me dá dois dias e resolvo.
– Como?
– Vou investir na Iracema.
– A setentona?
– A velha tem boa casa, me dá mole há um tempão e ar condicionado engatilhado por mim.
– E a Sula?
– Quando passar esse calorão do caraio, levo um papo com ela. Mas só volto se ela comprar um ar.

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