sexta-feira, junho 08, 2012

O FALADOR



18ºC. Frio na Serra. Sensação térmica por volta dos 10ºC. Ventos afiados. Cheguei na padaria lanhado. Fila grande, televisão ligada. A apresentadora lembrava o começo da campanha de vacinação contra a gripe. Um vizinho, agitadíssimo, berrava:
- Esse negócio de vacinação é pros pilantras meterem a mão.
Dois ou três prestaram atenção. O falador viu que tinha plateia, prosseguiu:
- A gente fica resfriado uma, duas vezes por ano, no máximo. Conheço meia-dúzia que tomou a vacina e ficou gripado. Febrão, cama. Isso é roubo. Aliás, aqui no Brasil é tudo roubo.
Uma senhora resolveu discordar:
- Também não é assim. Me vacinei ano passado e não me gripei. E, francamente, há muita corrupção no Brasil, mas nem todo mundo é corrupto.
O cara ganhou força:
- D. Olga, a senhora é uma pessoa boa, inocente, religiosíssima... Essa vacina é, sim, jogada de políticos e todos os políticos saqueiam o país. Quem entra quer se dar bem.
D. Olga, a senhora não tão inocente, aproveitou a bola levantada e cortou:
- Gerson, você já saiu candidato a vereador três vezes.
O indignado bambeou, mas não caiu:
- A senhora me conhece há muitos anos. Não pode duvidar de minha honestidade.
D. Olga era firmeza:
- Você disse que os que querem entrar para a política são corruptos. Você quer entrar para a política. Você é corrupto.
Antes de o ex-futuro político dizer qualquer coisa, um gaiato mandou lá do fim da fila:
- Gerson, reivindique seu direito constitucional de ficar calado. A coisa tá pegando pra você.
Gerson dirigiu-se pro fim da fila, pensei que pra tomar satisfações com o engraçadinho, mas, que nada, pegou foi o rumo de casa, pensando que, certamente, em algumas ocasiões o melhor que se faz é não falar.

Nenhum comentário: