domingo, dezembro 18, 2011

VIDA QUE SEGUE




Hoje, aqui na Serra, um homem foi assassinado. Levou três tiros e seu corpo ensanguentado ainda enfeita a rua. Morreu porque devia 17 reais a um companheiro de mesa de bar.
Há alguns anos um fratricídio ganhou as páginas das folhas noticiosas da Serra. Até na planície houve comoção. A história é mais comum do que se imagina.
Um casal, ele português, ela brasileira, fez fortuna à custa de trabalho duro. Começaram juntos no balcão de uma padaria que depois compraram. A primeira de quatro. Os filhos, dois deitões e uma deitona, cresceram à sombra do barranco.
Os velhos enriqueceram, visitaram a terrinha algumas vezes (os filhos preferiam a terra do Pato Donald) e, por fim, aposentaram-se. Os negócios já não iam tão bem como no passado e os velhos sabiam que tinham feito bobagem na criação dos filhos: eram incompetentes, indolentes, inúteis, perversos. Venderam tudo que possuíam.
Pouco tempo depois, a velha morreu. O pai, cansado de ser sangrado pelos pimpolhos quarentões, resolveu dividir o que amealhara em toda a vida de trabalho. Reuniu os abutres e distribuiu a carniça. Despediu-se sem abraços, voltou para Portugal, esperançoso de jamais voltar a ver a prole.
Três anos se passaram. À beira da merda, os filhotes recebem a alvissareira notícia da morte do velho. Econômico, o velho ainda deixou dinheiro em uma conta bancária. Divide daqui, divide dali, um dos irmãos se sentiu lesado e assassinou o outro.
Mata-se por muito ou pouco dinheiro. A quantidade é irrelevante. O zé mané que morreu aqui na Serra por causa de 17 reais foi dessa para a pior porque devia e se negava a pagar. O matador está preso e lá ficará até o próximo indulto do dia das mães.
O fratricida fez o que fez porque entendeu que o irmão o lesara em alguns merréis. Não trabalhou por nenhum centavo das merrecas da contenda, mas se achou logrado. Matou, e daí? Está solto. Na prisão ficou menos de dois anos, Dinheiro não tem mais. Repassou pata os advogados.
A irmã não vive mal. Casou-se com um bom rapaz. Ele lhe dá uns cacetes de vez em quando, mas há dinheiro para gastar. O casal tem dois filhos jovens. Para azar dela, são em tudo semelhantes a ela e aos irmãos. É vida que segue. 

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