Cansamos
de avisar a Lindinha, com risco de nossas vidas, que o Treta era rabo de
foguete. Para mim ela dizia, fiada no parentesco: “Tio, você vê perigo em
tudo”.
A
molecada a chamava no canto e, no maior cagaço, alertava, “Lindinha, o cara
mata”. No dia que Lindinha ameaçou perguntar ao Treta se era verdade o que
dizíamos, deixamos rolar.
Nem
com meu irmão comentei. Talvez ele se metesse, apesar de ser comum a covardia
diante de um matador.
Bom,
o romance rolou. Por uns tempos até eu ganhei prestígio. Era o tio da mulher do
matador. Aos domingos, quando dava, Treta almoçava na casa de meu irmão.
Aproveitei meu prestígio temporário e saí fora da comunidade. Falei pra mulher,
“Tá na hora de ajeitarmos aquele cafofo em Maricá”.
Amor
bandido dá certo quando a mulher aceita chifres. Lindinha, vi crescer.
Voluntariosa, cheia de personalidade. Achava que era inteligente, mas se caiu
na lábia do Treta, sei não...
Meu
irmão ligou pra mim perguntando se eu podia acolher Lindinha. Ela não queria
saber mais do Treta e ele prometera matá-la se fosse abandonado. “Meu mano, tem
gente daí que sabe que estou aqui. Ralem todos. Vão pra casa dos primos, em
Natal”.
Em
Natal, Lindinha voltou a estudar. O Treta tocou o terror lá em casa, mas
consegui convencê-lo que tinha rompido com meu irmão. “Parentes? Não, não
temos”.
Antes
de ir embora, o animal ainda rosnou: “O dia que encontrar sua sobrinha, mato”.
Fui
a uma cidade próxima para telefonar e avisar meu irmão sobre a ameaça. O medo...
O
mano ficou mais um ano em Natal e de lá saiu com a família sem dizer a ninguém para
onde ia.
Treta
foi preso, puxou uns oito anos de cana e quando saiu em um indulto de Páscoa
apareceu lá em casa. Humilde, me pediu desculpas por tudo que havia feito minha
família passar, agora era crente, irmão Jeremias, e só tinha amor no coração. O
desejo maior era pedir perdão a Lindinha. Expliquei que não tinha contato com a
família que desaparecera no mundo. Se um dia voltasse a ver meus familiares,
daria o recado. Ele me rezou, leu a Bíblia, chorou. Sei lá, fiquei achando que
o cara tinha virado crente, mesmo.
Duas
semanas pra frente, abri o jornal e dei de cara com uma foto de Treta, morto. A
mulher que o matara: Lindinha. “Minha família rodou o país fugindo desse
desgraçado, essa sombra. Resolvi que era melhor acabar com ele. Ele me viu e
sorriu. Dei-lhe três tiros na cara”.
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