domingo, junho 11, 2017

O MURO

Minha sogra amadinha é espoleta.
Durante a semana ela me fornece almoço. O serrano não entra em cozinha. É contra nossos hábitos culturais.
Pego o farnel por entre grades. A parte de cima do muro é gradeada. Se tivesse de ir até a casa dela andaria o triplo do caminho. Uns 50m a mais. O serrano é preguiçoso, não gosta de andar. Outro hábito cultural;
Dia desses, o farnel estava tão farto que não passou pelas grades. Ela se virou para mim e disse:
- Pamonha, segure a bolsa.
Segurei.
Ela pegou as grades com as duas mão, levantou a perna até o alto do muro e subiu, como um chimpanzé.
Levei um susto, mas não só eu. Uma afro descendente que passava, empoderadíssima, cabelaço lindo, gritou pungentemente:
- Meu Deus!!!
A sogrinha, vociferou, passando a bolsa por cima da grade:
- Banana, pegue a bolsa.
A deusa de ébano, paralisada, estupefata, me perguntou:
- Ela não vai pular o muro, vai?
Ri, ri, ri, acho que de nervosismo, e respondi.
- Eu espero que não.
A sogra, lá de cima, rosnou.
- Mocinha, circule. Pamonha, pegue a bolsa.

Obedecemos, afinal não é qualquer um que aos oitenta ainda sobe em muros.

Nenhum comentário: