segunda-feira, junho 17, 2013

CHEFES


Um chefe era revolucionário. Nas manifestações contra a ditadura militar, segundo ele mesmo, atirava coquetéis molotoffees (era assim que ele falava, pensando nas balas Toffee). Do molotov, claro, o cascateiro nunca chegou perto. Nós, a patuleia, ouvíamos seus relatos dos tempos em que era um rebelde e fingíamos respeito, admiração e surpresa pela bravura de nosso comandante. Não nos recrimine, eram expressões legítimas de saudável puxassaquismo.
Outro chefe acordava de manhã e ordenava a seu intestino: “Cague!” E o intestino cagava. Enquanto obrava, a mulher e os três filhos entravam na sala do trono a fim de tratarem da agenda do dia. A música de fundo para a reunião familiar vinha da Rádio Tupi FM. Musak, claro. Tudo isso o chefe contava para nós, plateia cativa. Quando ele saía da sala, rolávamos no chão de tanto rir.
O terceiro chefe se entendia estrategista. Um maximizador do tempo. Trabalhávamos em dupla. Solitariamente, ninguém produzia. O chefe, então, ordenava: “Mesa 2: mijar”. E mijávamos. Mesmo sem vontade. Ele virava-se para outra dupla e determinava: “Mesa 3: relaxar. Passeio completo no corredor”. Imediatamente, dois barbados, lado a lado, levantavam-se e passeavam pelo longo corredor da falida Bloch Editores. Ainda bem que ele nunca pensou em nos fazer caminhar de mãos dadas.

Nenhum comentário: