terça-feira, junho 18, 2013

BABAS


Um baba-ovo voltava todos os dias para casa na carona do chefe. Infalivelmente, perto do final do expediente, ele dizia (com sinceridade, porque legítimos babas creem no que dizem): “Está chegando a melhor hora de meu dia, quando entro no carro do chefe e ele sintoniza a Rádio Tupi FM. Só música linda e em boa companhia”.
Outra baba-ovo, todas as vezes que o chefe passava perto dela, dizia: “Chefe, que perfume é esse? Maravilhoso. No senhor, então, é demais. Combina perfeitamente com o senhor”. Ela só nunca disse que o cheiro natural do chefe era magnífico, talvez por receio de ele chamá-la para dançar e ela não ter coragem de negar.
Um terceiro baba-ovo aguardava o chefe no portão da empresa. Ao avistá-lo, ia em sua direção, pegava a pesada pasta que o feitor carregava e a depositava carinhosamente sobre a mesa dele. Celeremente, perguntava à razão de sua existência se havia se alimentado. O líder sempre dizia: “Que nada! Saí correndo da repartição”. O baba suspirava, revirava os olhinhos e voava para a cantina a fim de comprar a papinha de seu senhor. Nunca soubemos se os dois dividiam uma cama depois do expediente.

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