Passei os carnavais de minha adolescência em Macaé. Década de 60,
século passado.
Um casal de primos, João Pinto e Elmira, cinco filhas e um filho me
hospedavam do começo de janeiro até depois do carnaval, não importando os dias
reservados para a folia de Momo.
Era um bom tempo e eu tinha contato com um aspecto romântico do
carnaval. Ia aos bailes carnavalescos infantis do Fluminense macaense. A
família toda se divertindo, dançando ao som das marchinhas. Voltávamos pela Rua
Direita, encontrávamos amigos e, fantasiados, brincávamos uns com os outros.
Minha prima, cozinheira conceituada na cidade (nada a ver com os
chefs de hoje que harmonizam espuma de abacate com nuvem de javali), funcionária
do Grupo Escolar, transformava-se, literalmente, em um palhaço e saía com um
grupo de 50 outros palhaços pelas ruas da cidade visitando lares e se
esbaldando pelos logradouros da Princesinha do Atlântico.
Hoje em dia não sou mais chegado a carnaval. Houve uma época que deixei
de apreciar o carnaval por motivos religiosos. Converti-me aos 20 anos.
Acreditei em tolices que me foram ensinadas. Amadureci e não é mais essa a religião
que me afasta da folia.
Pouca coisa associada ao carnaval me atrai. É uma festa de excessos.
Muita gente aglomerada me afasta. E há a perversidade de nossos dias que cresce
no carnaval.
As filhas de meus primos saíam à noite para o baile no mesmo
Fluminense que eu frequentava à tarde. Lá pelas dez iam as cinco mais outras
tantas moças da rua para o baile. Eu dormia na sala e via chegar uma a uma. A
que enjoasse da festa vinha embora, sem correr risco algum. Um macaense ao ler
este texto saberá que nos dias de hoje as coisas são diferentes.
Eram diferentes do que eu via, também. Um menino de 12 anos não
percebe a atmosfera malévola que o cerca. Os daquela época, pelo menos, não
percebiam.
Muito por causa desse momento de minha vida, jamais vi no carnaval a
festa que assombra, ainda hoje, muitos evangélicos. Ninguém faz em quatro dias
o que não faria nos outros 361.
Há uns dez anos, entrei no Metrô com a esposa e fui para Copacabana
e Ipanema. A ideia era ver o movimento carnavalesco de rua e tomar um sorvete
na Chaika, em Ipanema. Vimos pessoas fantasiadas caminhando de um lado para o
outro, blocos minúsculos, muita gente rindo. Foi um dia tão bom que Rosangela e
eu jamais o repetimos. Não me agradaria encontrar blocos de foliões que
arrastam multidões de mijões pelas ruas. Não lido bem com bêbados (deficiência
minha, reconheço). Prefiro, por isso, ficar em casa.
Na década de 90, participei, profissionalmente, do Impacto Carnaval
da Convenção Batista Carioca. Fui a contragosto. A ideia de evangelizar
foliões, em pleno Centro do Rio, de madrugada, não me era agradável. Arrastei
Rosangela comigo e surpreendemo-nos. Há muita gente desesperada, fantasiada,
com sorriso estampado no rosto. O desespero se manifesta depois de uma conversa
de alguns minutos com um voluntário do Impacto. Foi uma experiência muito boa e
reveladora.
Não sou dono da verdade, por isso não simplifico associando carnaval
às forças satânicas, mas a inocência que tinha foi embora há décadas. O
carnaval rende muito dinheiro, logo, os meios mais escabrosos são usados para
fazê-lo atrair gente fraca, pronta a fazer lambança à menor oportunidade.
No passado, crentes encerravam-se em retiros espirituais no
carnaval. Eu gostava muito. Algumas igrejas, atualmente, até desfilam na
avenida em bizarras escolas de samba evangelísticas. (Deem um desconto para
minha estranheza. Sou velho.)
Não direi o que você deve fazer no carnaval. Não é meu papel. De
minha parte, ficarei em casa, darei uma saidinha para ver um bom filme e, se
minha coluna permitir, quem sabe não dou umas voltas por Copacabana e Ipanema.
Pena que a Chaika fechou.
Um comentário:
saudade das crônicas mais debochadas... desde de setembro elas não aparecem por aqui.
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