quarta-feira, junho 03, 2009

PROFISSIONAL

- Parabéns, soube da promoção.
- Estava entre quatro pessoas e eu levei.
- A Clarinha me disse que sua indicação foi uma surpresa.
- Ninguém na Irmandade achava que seria eu.
- Enquanto tomamos esse chopinho, me conta, como foi que você chegou lá?
- Ricardo, sou profissional. Procurei saber o que o homem valoriza. Percebi que em condições normais não seria o escolhido. Como o homem gosta de elogios, passei a elogiá-lo sempre, discretamente. "Sapato bonito, chefe"; "Onde o senhor comprou essa camisa"; "Esse paletó caiu esplendidamente no senhor". Ele não tolera ser contrariado, mas gosta de pensar que convence as pessoas com seus argumentos. Qualquer assunto que tratava com ele eu começava discordando, depois me deixava convencer. O vaidoso é patético. Um dia, ele entrou no refeitório e eu estava comendo um pão doce que a Valerinha trouxe pra mim. Ofereci um pedaço, ele aceitou e adorou. Umas duas vezes por semana, trago um para ele. Me dava um trabalhão comprar, mas valeu.
- Só isso não daria a promoção a você. Ele tem de se preocupar com o melhor para a empresa. Você era o melhor?
- Ricardo, sou profissional. Aquilo lá é uma Irmandade. O dono é o éter. O homem se preocupa com quem é melhor pra ele. Essa minha abordagem, garanto, me deu 70% da promoção. Os outros 30% consegui desqualificando meus concorrentes. O homem é moralista, preocupado com o que os outros pensam. Fiz com que ele soubesse que a Jandira tinha uma parada com o Hernani, da Contabilidade. O Jeferson, cabeça quente, bastou que eu plantasse aqui e ali que o João estava queimando ele com o homem para que fosse tomar satisfações. Os dois saíram na porrada, no estacionamento. Sobrou pra mim.
- É, você é bom.
- Nada disso, sou profissional.
- Preciso ir, amado. Domingo você vai à igreja?
- Que pergunta, você sabe que não perco um culto. Sou profissional.

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