quarta-feira, junho 24, 2009

Espírito livre

- Chegou cedo na Lotérica, veio fazer uma fezinha?
- Nada. Acordei com barulho de louça sendo lavada, bica aberta. Vinha da cozinha de casa, levei o maior susto.
- Você acha que era sua falecida mãe?
- Pô, sem dúvida. Me arrumei e vim pra cá.
- Com todo respeito, mas fantasma não prefere atuar à noite?
- Vai lá e diz isso pra ela. Cara, igualzinho quando tava viva, fazia maior esporro preu acordar e procurar trabalho.
- Aí morreu, te deixou o táxi e três casas, duas pra você alugar.
- É, porra, trabalhar pra quê? O cara me dá a diária do táxi na boa e os dois inquilinos não atrasam o aluguel.
- Das duas uma: procure um psiquiatra ou um pai de santo.
- Tem certas coisas que não dá pra mudar. Já estou com 48, trabalhar, agora, pra quê?
- Você, não sei. Eu preciso. O homem já está me olhando.
- É por isso que não trabalho. Sou um espírito livre. Não tolero ser pressionado.

Nenhum comentário: