segunda-feira, março 01, 2010

DOGUITO

O Gordo é sentimental.
Tem um cachorro que trata a pão-de-ló. Todas as vezes que o Gordo entra em casa precisa recompensar o cão com um doguito. Não só. Se o Gordo come, além de compartilhar o que devora, deve, ao final da refeição, dar outro doguito para o cão. Doguito é maconha de cachorro. O cachorro do Gordo vive doidão.
O Gordo é humano.
Algumas vezes, bem poucas, na verdade, esquece de comprar o doguito. Quando isso acontece, o Gordo fica sem comer. Não aguenta ver o cãozinho viciado esperando o petisco que não virá.
O Gordo não é sociável.
Tem dois, três amigos e entende que está de bom tamanho.
O Gordo não é esportista.
Na comunidade, no final da tarde, tem uma peladinha. O Gordo gosta de sentar-se na tosca arquibancada para ver a garotada jogar.
Dia desses, sentou-se ao seu lado ladrão conhecido na área. O cara não estava ali a trabalho. A bandidagem é chegada ao lazer.
– Ô Gordo, tudo bem?
– Ó! Tá descansando, Ratinho?
– Uma peladinha é legal. Aquele molequinho de short amarelo é o cão.
– Bate um bolão. Logo um clube leva.
– Tá no Botafogo.
– Que você conta de novo?
– Nada, está uma dureza. Até pra quem rouba tá difícil.
– Trabalho, nem pensar?
– Gordo, tenho dois filhos pré-adolescentes.
– E?
– Eles me pedem coisas. Não só comida. Brinquedos, dinheiro, TV de alta definição, roupas...
– Precisa ganhar muito.
– A mãe acostumou mal. A menina quer celular 3G. Nem sei que porra é essa.
– Entendo.
– Você não tem filhos, né?
– Um cachorro. Quase um filho.
– Roubo por causa deles.
– Eu não teria coragem de roubar.
– Uns roubam, outros não têm coragem. Ter filhos não é para covardes.

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