sexta-feira, janeiro 15, 2010

ISRAEL



Metrô vazio. Milagre, principalmente depois do choque de ordem. Sem baldeação está vindo gente de Araruama passear no trem subterrâneo, dizem as autoridades.
Entrei, sentei e, do meu lado, um empresário não largava os celulares. Em um ele falava, no outro gerenciava os emails.
– À noite tenho uma reunião... Depois?... Pode ser... Que horas?... Fechado, dou meu jeito, nos encontramos às 22h da noite.
No banco em frente, um pai e seu pimpolho. Pimpolho esperto.
– Pai, 22h da noite não está errado?
O pai olhou pro filho de cara feia.
– Israel, cala a boca.
O garoto insistiu.
– Pai, você não me disse que ou a gente fala 10h da noite ou 22h? Que 19h da noite, 20h da noite é burrice?
O empresário guardou o celular dos emails no bolso e olhou atravessado pra criança. Virou-se pro pai constrangido e mandou:
– O seu filho é muito inconveniente. Fica prestando atenção na conversa dos outros pra corrigir.
O pai, claro, saiu em defesa do inocente.
– O senhor está falando alto, o vagão inteiro está ouvindo sua conversa. É uma criança. Como dei esse exemplo pra ele noutro dia...
– Por que 22h da noite está errado? Quis enfatizar.
– 22h só pode ser da noite.
– Olha, meu amigo, sou um cara de paz, mas tá faltando pouco para mim fazer uma bobagem.
O pai, apavorado, tentou cobrir a boquinha do filho, mas o moleque era rápido.
– Ahhhh! Esse cara é burro mesmo. Não é para mim fazer. É para eu fazer.
O empresário ia partir pra ignorância. Segurei-o, enquanto pai e filho escapavam na providencial parada do Metrô. Não sem antes o pequeno Israel parar e tripudiar:
– Burro, burro, burro.
O empresário voltou a ira para mim.
– O senhor não tinha de se meter... Não tinha de se meter.
– Meu amigo, se você agride uma criança vai preso e o pessoal pode até linchá-lo – ponderei.
– Eu não tenho nada com os pessoal. Quero que os pessoal se danem.
Virei pro lado, abri meu livro e pensei: “se o pequeno Israel ainda estivesse por aqui ia ter morte”.

2 comentários:

Hanna disse...

hahahhah.....Adorei!
Bjs

Anônimo disse...

É.... cada geração tem um nome emblemático. Acho que Israel é mesmo perfeito para tal situação e época. O capitão do mato, antes de iniciar sua jornada em estradas asfaltadas, certa vez disse-me que tinha um carro, emendando, em seguida, diante do Israel, que tratava-se de um fusca. Israel, garoto bem educado por este pai, rebateu na hora: "mas fusca não é carro, né pai?!"