quarta-feira, agosto 24, 2005

Sem raça definida

Vejo crianças, as mais velhas com 10, 11 anos, saírem da Favela da Galinha pela abertura que o tráfico fez no muro do conjunto habitacional onde moro.
Bebo cerveja com os amigos. A primeira de muitas.
– Essa garotada não estaria largada na rua se na escola houvesse atividades para elas. Só educação salva essa turma.
Geninho, bebendo cerveja, só tolerava dois assuntos: mulher e futebol.
– Esses moleques não querem nada com escola. A parada deles é vagabundear e roubar. E o Flamengo?
Já começava a anoitecer. Enxergava através de uma névoa. Efeitos do álcool. As crianças voltavam.
– Maluco, este celular é daquele que tira fotos. Aquele mané com um celular duca como esse. Que desperdício...
Geninho não perdeu a oportunidade.
– Escola o cacete, o negócio deles é roubar. Vão parar quando levarem um tiro. Essas crianças não têm jeito.
Estava sem força e sem ânimo para discutir. Olhei para o bando que se afastava e ainda pude ver o menorzinho do grupo se abaixar e ficar para trás, acariciando um cão vira-latas.

Nenhum comentário: