sexta-feira, maio 20, 2011

A gatinha



Um filho é uma alegria, às vezes.
Suely tem um. Um só. Gravidez de risco. Os médicos garantiram que morreria, se não abortasse. Não morreu.
O marido um dia foi embora. Deixou-lhe o apartamento. Ela se sentiu falta da companhia, mas só isso.
O filho cresceu. Poucas vezes parava em casa. Trabalho, estudo, farras.
Voltando do mercado, Suely encontrou uma gatinha. Estava à morte. Recolheu-a, levou-a para casa, cuidou dela. A muito custo, muito remédio, muita dedicação viu a gatinha recuperar-se.
Era companhia melhor do que o ex-marido. Não sentia a ausência do filho. As brincadeiras da gatinha a divertiam.
O filho engravidou uma jovem. Casou-se. Pediu à mãe para morar com ela. Suely abriu as portas para a nora.
Deram-se bem, conversavam bastante. No colo de Suely, a gatinha. A nora era boa companhia. A gatinha era melhor. Humanos falam demais.
Nasceu a criança, os meses passaram. Um dia o neném adoeceu. O médico disse que ele era alérgico a pelo de gato.
O filho chegou em casa, depois da consulta, e deu um ultimato à mãe:
- Bruninho é alérgico a pelo de gato. A senhora escolhe: seu neto ou o gato. Se ficar com o gato, vamos sair daqui e iremos para a casa da mãe da Isadora.
Suely olhou para a gatinha, para o neto e, sem titubear: “A gatinha fica. Até morrer, eu ou ela, ficaremos juntas”.

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