segunda-feira, julho 19, 2010

IRMÃ



– Você sabe que sempre fui amarradão em sua irmã.
– Cara, ela é encrenca.
– Por que ela é diferente?
– É. Mas sei que ela é uma diferente gatíssima. Muito gostosona.
– Nada a ver. Sou parado no jeitão dela. Ela é mais do que bonita.
– Ela não fala com ninguém, esnobe pra caraio, tira onda com todo mundo. Comigo só faz cara de desprezo.
– Não é lésbica, é?
– Pode ser. Que eu saiba não namorou ninguém: nem homem nem mulher. Dezoito anos, sem amigos nem amigas. Passa o dia lendo, ouvindo música e escrevendo merda num bloquinho sem pauta. Quem escreve em bloco com caneta BIC?
– Ela é fera. Melhor aluna, só tira notão. O Bafo está na sala dela.
– Mas não estuda. Nem anota as aulas. Só presta atenção. Aliás, ela vive prestando atenção. Parece criatura do Stephen King.
– Você podia me dar um adianto com ela.
– Porra, é minha irmã mas não entendo aquela mina. Ela me acha um merda. Se te adiantar, te atraso. Sacou? Saia pra outra. Pegue uma normal.
– Você acha que sua irmã é doida?
– Acho, não. Tenho certeza. Já falei pra minha mãe que qualquer dia ela se mata.
– Exagero, mano.
– O caraio. Meu medo é que ela, antes de se matar, liquide todo mundo.
– Ela já deu pinta de que pode fazer alguma merda?
– Meu pai deu um note-book pra ela. Usa raramente. Só faz umas buscas, de vez em quando, nunca pelo Google. Prefere sair daqui, pegar ônibus e pesquisar na Biblioteca. Aos 15, se recusou a ir pra Disneyworld. Aos 18, não quis o carro que meus pais quiseram dar pra ela. Parte do dinheiro da viagem e do carro ela pegou e entocou no banco. De vez em quando, compra umas camisetas, jeans, tênis, e olhe lá.
– Acho isso duca. Tem consciência, não é consumista,  não quer agravar o aquecimento global.
– Ela acha essas paradas de aquecimento global, babaquice. Roupa ela usa porque não pode andar nua. Não quis o carro porque acha que não precisa. E não precisa, mesmo. Não sai de casa pra nada. Só pro curso.
– Sua irmã nua, cara... Você acha que nem devo tentar?
– Tente. Ela é louca. Vai que está numa de experimentar coisas novas...
– Aí, sei que você como irmão mais velho deve ficar grilado se, de repente, pintar algo entre ela e eu. Mas, garanto, vou devagar.
– Vá na velocidade que você quiser. Coma-a no primeiro encontro, se der. Faça ela usar o celular. Mermão, tenho maior medo daquela mina. Ela só lê, lê, lê e ouve música. Nada de pop. Nada de rock. Só música esquisita. Se você pegá-la, finalmente dormirei com meu quarto destrancado. Avisei meu pai e minha mãe e eles não me ouviram. Fodam-se, então. Quero chegar aos 20.

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