quinta-feira, março 05, 2009

MOTORISTAS DE TÁXI SÃO BACANAS

Motoristas de táxi têm percepção da temperatura ambiente diferente da dos humanos normais.

Faça sinal para um táxi nesse Rio de Janeiro que torra a 40°C. O ar-condicionado do carro estará desligado, as janelas fechadas e o cara-de-pau atrás do volante se comportará como se fosse taxista na Sibéria.

Obrigatoriamente, o cliente terá de fazer a pergunta: “O ar está funcionando?” O esquimó olhará para você e, em profundo exercício de percepção interior, considerará para si mesmo: “Esse cara é um babaca, vou dizer que o ar está quebrado e que eu estava, ó coincidência, indo pra oficina, agora”. Se ele perceber que você não é otário, mas solidário, dirá: “Está, sim, mas está desligado porque acabei de sair de uma pneumonia e só vim trabalhar para” levar o pão dos inocentes.” Ao sacar que nem otário nem solidário você é e que se não ligar o ar perderá uma corrida, o gelado piloto considerará se vale a pena levá-lo a seu destino. Se valer, enfurecido, ligará o ar. Vingativo, acionará o cedepleier, que logo tocará os maiores sucessos de Tati Quebra-Barracos.

O quadro melhora um pouco se você for cadastrado em uma cooperativa. O táxi será chamado por telefone, você dirá que quer o carro com ar ligado. “Sou norueguês e ainda não me acostumei com o calor do Rio”, você dirá. Faça qualquer sotaque, até de nordestino, o imbecil do outro lado da linha acreditará. Claro que não adiantará.

O retorno da cooperativa não virá. Você ligará, novamente, para saber de seu táxi. O atendente dirá, cínico: “Sr. Fulano, estávamos ligando. Sua viatura é a 345 e o motorista já está na sua porta”. Mentira. Na chuva ou no sol, você espera. Se for uns 15 minutos, é lucro. Dentro do carro, você sente o Rio em seu apogeu. O inferno deve ter essa mesma temperatura.

O homem de gelo ligou o ar segundos antes de você entrar. Não, não reclame. Esse momento é precioso. Em vez de se queixar, dirija à divindade em que crê uma prece, porque, quase certamente, o ar não estará refrigerando.

Sentindo na nuca o bafo quente da ventilação do esporrento aparelho de ar-condicionado, você terá a certeza de que é um babaca e pensará: “Na próxima vez, não admitirei isso”.

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